Em clima tensão e com jogadores insatisfeitos, seleção volta às Eliminatórias tentando manter o foco
Brasil encara o Equador em Porto Alegre sob o impacto da polêmica em relação à Copa América no País; atletas de Tite seriam contrários ao torneio
O cenário era para ser totalmente favorável. Líder com 100% de aproveitamento, principais jogadores à disposição e confronto em casa diante de um adversário que vem surpreendendo, mas que não chega a fazer frente, apesar da boa campanha. Mas os fatores extra-campo trataram de mudar essa atmosfera com a confirmação do Brasil como sede da Copa América num momento em que a pandemia da covid-19 já ultrapassou os 460 mil mortos no país. Assim, é nesse ambiente, que a seleção brasileira enfrenta o Equador, às 21h30, em Porto Alegre, com o objetivo de seguir administrando a classificação com folga.
O anúncio do Brasil como sede da Copa América, marcado às pressas após a desistência da Argentina, teve eco até mesmo em Brasília. Renan Calheiros (MDB -AL), relator da CPI da covid-19 chegou a fazer um apelo ao principal jogador da seleção brasileira sobre a realização do torneio. "Neymar, eu quero aqui dirigir uma palavra a você. Não concorde com a realização dessa Copa América no Brasil. Não é esse o campeonato que precisamos agora disputar. Precisamos disputar o campeonato da vacinação." Os jogadores de Tite, liderados pelos que atuam fora do País, procuraram o treinador e pediram um encontro com o presidente da CBF, Rogério Caboclo. Não querem disputar a nova competição.
Boa parte da imprensa, assim como a maioria dos profissionais envolvidos com a área de saúde, também se mostraram contrários à decisão do governo federal de bancar a realização do torneio sul-americano agora. Como a CBF teve papel primordial nessa costura feita para a realização do torneio, a comissão técnica da seleção decidiu blindar os jogadores para que o assunto não ganhasse repercussão na imprensa durante a semana. Entrevistas foram canceladas e a "lei da mordaça" foi cumprida para manter o ambiente de "calmaria" sob controle.
O técnico Tite seguiu essa conduta de isolamento. Alheio ao momento conturbado motivado pela pandemia, sobrou apenas imagens de treinamentos com os atletas completamente isolados. Mas em sua primeira entrevista, nesta quinta-feira, o técnico admitiu a insatisfação dos atletas. Ele disse inicialmente que fora ele a vetar as entrevistas e depois comentou que os jogadores pediram para não se manifestar publicamente. Casemiro, o capitão, não apareceu para atender aos jornalistas como estava previsto. "Depois desses dois jogos (o de sexta e o de terça, contra o Paraguai), vou externar minha opinião. E os jogadores têm uma opinião, externaram ao presidente (Caboclo, da CBF), e vão externá-la ao público num momento oportuno. Inclusive, isso tem a ver com a ausência do nosso capitão, o Casemiro, nesta entrevista", disse Tite. Alguns atletas não querem jogar a Copa América, marcada para começar dia 13.
Com uma campanha irretocável até aqui, quatro vitórias em quatro confrontos, e 12 gols marcados, o Brasil tem ainda dois jogadores na vice-artilharia da competição: Neymar e Firmino (três gols cada um). Assim, a partida em Porto Alegre seria o ambiente ideal para consolidar ainda mais o trabalho feito até aqui pela comissão técnica. Apesar do favoritismo declarado, o treinador optou pela cautela e já manifestou sua preocupação com o poder ofensivo do adversário. Nos trabalhos realizados na Granja Comary, ele ensaiou a marcação sob pressão e também a compactação entre meio-campo e defesa. O objetivo é não dar espaços para o oportunismo do atacante Estrada.
O volante Casemiro, que vai usar a braçadeira de capitão com a ausência de Thiago Silva, vai ser responsável por organizar o setor. Além de orientar a marcação, o atleta vai ser responsável por ditar o ritmo da partida e liberar os meias quando o Brasil tive a posse de bola.
Outra preocupação de Tite é aumentar o poder de agressividade com a bola pelos jogadores responsáveis pela criação. A ideia é buscar a retomada ainda no campo de defesa do adversário. A versatilidade de Gabigol, que também sabe atuar pelos lados do campo, pode facilitar a implantação dessa estratégia para surpreender os equatorianos. Com Everton Ribeiro ainda se recuperando de dores na coxa, Lucas Paquetá pode fazer essa composição vindo de trás. Os chutes de média distância também foram treinados como mais uma alternativa ao bloqueio adversário.
O rival desta sexta vem impressionando nas Eliminatórias. Com nove pontos e apenas uma derrota em quatro rodadas, o Equador surpreendeu seleções tradicionais no continente pelo seu bom aproveitamento. Dono do melhor ataque da competição (13 gols), os equatorianos impuseram um 4 a 2 diante do Uruguai e aplicaram uma goleada de 6 a 1 para cima da Colômbia.
A rodada das Eliminatórias se completa na semana que vem. Após a partida desta sexta, a seleção brasileira fica ainda mais três dias na capital gaúcha e tem sessões de treinos programadas para o CT do Internacional. Na próxima segunda, a delegação embarca para Assunção e, no dia seguinte, enfrenta o Paraguai no estádio Defensores Del Chaco. Para seguir confortável na classificação, o treinador considera fundamental conseguir os três pontos dentro de casa.
FICHA TÉCNICA:
BRASIL x EQUADOR
BRASIL - Alisson; Danilo, Éder Militão, Marquinhos e Alex Sandro; Casemiro, Fred, Lucas Paquetá, Richarlison; Neymar e Gabigol. Técnico: Tite.
EQUADOR - Dominguez; Preciado, Arboleda, Arreaga e Estupiñan; Jhegson Méndez, Moisés Caicedo, Mena, Beder Caicedo; Muñoz e Estrada. Técnico: Gustavo Alfaro.
ARBITRAGEM - Alexis Herrera (VEN).
HORÁRIO - 21h30.
LOCAL - Estádio Beira Rio, em Porto Alegre (RS).
TV - SporTV e Premiere.