Cruzeiro teve proposta melhor para compra da SAF pela 777 Partners, mas XP e o clube recusaram
A Raposa e a empresa que fez o projeto do negócio optaram por ter Ronaldo como comprador da SAF celeste
A cada dia, uma nova revelação sobre o acordo para a venda da SAF do Cruzeiro vem à tona. Depois da divulgação dos termos do contrato de pré-compra, outra história é colocada publicamente: que a Raposa teve uma proposta financeira melhor do que a feita por Ronaldo e sua equipe pela venda da SAF, mas que foi recusada pelo clube e pela XP, empresa contratada para conseguir interessados no negócio.
A 777 Partners, companhia americana que está perto de comprar a SAF do Vasco, ofereceu mais dinheiro do que o grupo representando por Ronaldo. A informação foi confirmada pela XP, pela 777 e pelo LANCE! depois que o jornalista Rodrigo Capelo, do "Grupo Globo", trouxe a notícia primeiramente.
A empresa dos EUA ofereceu investir R$ 250 milhões na SAF e colocar esse dinheiro em contratações de jogadores e pagamento de dívidas urgentes. Outros R$ 200 milhões para quitar débitos do clube, contraídos pela associação, que ajudariam a reduzir a dívida de R$ 1 bilhão da Raposa. O restante dos débitos seriam assumidos pela 777 e seriam pagos ao longo dos anos de contrato da SAF.
Se com Ronaldo, o acordo é de 90% pela SAF, os norte-americanos queriam "apenas" 70% da SAF cruzeirense, com a a associação mantendo 30%.
A oferta foi levada ao clube mineiro pela Matix Capital. Essa empresa intermediou a apresentação de John Textor ao Botafogo e a própria 777 Partners ao Vasco.
Contrato favorável a Ronaldo
Os últimos dias tem sido turbulentos no Cruzeiro com a discordância entre o Conselho Deliberativo do clube e Ronaldo, pela venda da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O Fenômeno quer alterações no contrato para que conclua a compra, com o prazo final se esgotando até 18 de abril.
Ronaldo quer a inclusão das Tocas da Raposa I e II no contrato e os desdobramentos mostraram que há mais camadas de polêmicas do que vem sendo veiculado pelos dois lados e imprensa. A venda da SAF do Cruzeiro para Ronaldo passa por seus dias mais difíceis.
Veio à tona o contrato de intenção de compra assinado no dia 18 de dezembro por Cruzeiro e Ronaldo, um documento de dez páginas, no qual estão descritos deveres e obrigações de ambas as partes. O material foi veiculado pelo jornalista Rodrigo Capelo e confirmado pelo LANCE!.
Segundo o documento, Ronaldo e sua equipe teriam vantagens na compra, em relação aos benefícios para o clube enquanto associação. O acordo de pré-compra indica que o futebol profissional e de base celeste são a base da venda, não constando outras propriedades, como os CT's. Veja alguns termos:
- Ronaldo tem a obrigação de aportar R$ 50 milhões no negócio; o empresário está liberado de desembolsar os R$ 350 milhões restantes, mesmo que receitas da SAF sejam baixas;
- Ronaldo pode obrigar a associação a recomprar a SAF pelo mesmo valor que ele tiver gastado na operação, caso entenda que não foram tomadas providências para reestruturar seu endividamento;
- Para pagar dívidas, a associação precisará regularizar e vender seus imóveis: a Sede Campestre, a sede social do Barro Preto e a sede administrativa, localizada no mesmo bairro;
- O contrato dispõe de seis "condições suspensivas" para proteger os interesses de Ronaldo na negociação, mas não conta com nenhuma no sentido oposto, para resguardar a associação;
- O acordo inclui a transferência de todas as atividades relacionadas ao futebol e a exploração econômica de marcas e símbolos, mas não prevê nenhum pagamento adicional, a título de royalties ou similar.
Sem necessidade de investir R$ 400 milhões
O acordo anunciado pelo Cruzeiro de que Ronaldo iria adquirir a SAF do clube tinha como principal item o investimento prometido na casa dos R$ 400 milhões nos próximos anos.
Todavia, no acordo vazado do contrato, Ronaldo está obrigado a aportar R$ 50 milhões na SAF, à vista e mediante a transferência de 90% do capital da empresa para sua propriedade.
Os outros R$ 350 milhões foram atrelados a "receitas incrementais", ou seja, o ex-jogador poderia investir o valor à vista neste início e pagar o restante com receitas do clube.
O contrato prevê que haverá um cálculo da média das receitas contabilizadas pela associação entre 2017 e 2021. Se a SAF não alcançar esse número, a partir de 2022, Ronaldo precisaria fazer investimentos.
Os conselheiros do Cruzeiro questionam esse item, pedindo inclusive o contrato para ser revisado e analisado, já que o acordo revelado diz que se a meta contratual para receitas não for batida, Ronaldo poderá devolver o percentual da SAF para a associação e não fazer nenhum pagamento com recursos próprios.
Obrigação de recompra
Mas, além da não obrigação de investir tudo o que prometeu, o ponto mais sensível do contrato de pré-compra é a possiblidade de obrigar o Cruzeiro a recomprar a SAF caso a associação não consiga estrutura e pagar as dívidas do clube, que ultrapassam R$ 1 bilhão.
Ronaldo aceitou se responsabilizar pelas dívidas no limite da Lei da SAF e repassar 20% de suas receitas mensais e 50% de dividendos (lucros distribuídos a sócios), para que a associação aplique esses recursos no pagamento das dívidas.
O Cruzeiro aceitou regularizar e vender três imóveis: a sede social do Barro Preto, a sede administrativa, no mesmo bairro, e a Sede Campestre.