Na primeira parte desta série de três colunas, foram
analisados os principais aspectos responsáveis pela atual situação do futebol
brasileiro e mundial, em que a superposição excessiva de diversos interesses
(muitas vezes conflitantes) acaba por impedir a implantação de uma estrutura
única de formatos e datas dos inúmeros campeonatos disputados no planeta.
Nessa coluna foram também estabelecidas premissas norteadoras do que se possa
pretender chamar de "estrutura ideal do futebol".
Com base nessas premissas (e em toda a lógica que as
precedeu), pode-se apresentar a seguinte estrutura para os campeonatos
realizados no Brasil e para os campeonatos internacionais que contam com a
participação de clubes brasileiros:
1) SELETIVAS ESTADUAIS: disputadas paralelamente ao
campeonato brasileiro (de maio a agosto, por exemplo) pelos times que não
estejam nas duas primeiras divisões nacionais, classifica ao todo 28 times para
disputar a terceira divisão nacional do ano seguinte.
2) CAMPEONATOS ESTADUAIS: disputados em 2 a 4 meses
(janeiro a abril, por exemplo), com os times que disputaram as duas primeiras
divisões nacionais mais os 1 ou 2 melhores da respectiva seletiva estadual.
Analogamente ao campeonato brasileiro da primeira divisão, os principais
campeonatos estaduais seriam disputados em uma fase de todos contra todos (turno
único) e uma fase final com os quatro (ou outro número igualmente razoável,
como seis, por exemplo) primeiros colocados jogando em turno e returno.
3) COPA DO BRASIL: disputada ao longo do ano inteiro (e
não apenas apertada em um semestre) em sistema mata-mata por todos os campeões
estaduais do ano anterior, todos os times da Primeira Divisão do campeonato
brasileiro e tantos times da segunda e eventualmente da terceira divisão do
campeonato brasileiro, quantos forem necessários para totalizar 64 equipes.
4) CAMPEONATO BRASILEIRO: disputado em três divisões
durante 7 a 8 meses (maio a dezembro, por exemplo) com acesso e descenso
irrestrito, ou seja o time tem que mostrar no campo a competência para
permanecer na elite. Nada de privilégios tais como transformar os grandes em
irrebaixáveis!
A primeira divisão é disputada por 18 times jogando
todos contra todos em turno único, classificando os 4 ou 6 (são dois números
razoáveis) primeiros para a fase final (essa sim em turno e returno). Duas
equipes são rebaixadas da primeira para a segunda divisão e duas são
promovidas da segunda para a primeira divisão.
A segunda divisão tem 24 (ou 28) times divididos em
geograficamente Chave Norte e Chave Sul, cada uma com 12 (ou 14) equipes. Quatro
equipes são rebaixadas da segunda e para a terceira divisão e quatro são
promovidas da terceira para a segunda divisão.
A terceira divisão tem 32 times (os quatro rebaixados
da Segunda Divisão do ano anterior mais os 28 oriundos das Seletivas Estaduais)
e é disputada da primeira à última fase no sistema de equipes divididas em
grupos de quatro equipes, cada grupo sendo jogado em turno e returno e
classificando as duas primeiras colocadas para a fase seguinte.
5) COPA CONMEBOL (OU LIBERTADORES II, OU O NOME QUE FOR):
disputada pelo campeão da Copa de cada pais; os países que não têm uma copa
nacional mandam o vice-campeão nacional) e o atual detentor do troféu.
6) COPA LIBERTADORES: disputada APENAS pelos campeões
nacionais e pelo atual detentor do troféu.
A fórmula de disputa seria igual para os dois campeonatos: os 12 times (são
representantes do México e dos 10 países da América do Sul e o detentor do
troféu) seriam divididos em dois grupos de 6. Os campeões e vices desses
grupos se cruzariam nas semifinais e os vencedores fariam a final.
Países como Argentina e México que têm dois campeões
nacionais por ano (apertura e clausura, ou coisas semelhantes) teriam que se
adaptar a esse formato fazendo, por exemplo, um play-off entre os dois campeões
para decidir quem iria para a Libertadores.
7) MUNDIAL INTERCLUBES (resgatando, aliás, a tradição
e o "charme" da decisão mundial em Tóquio na madrugada do sábado -
fuso do Brasil)
1ª Rodada (Quarta ou Quinta-Feira):
Jogo A - campeão da Oceania x campeão da África
Jogo B - campeão da Ásia x campeão da CONCACAF
Semifinais (Sexta-Feira):
Jogo C - vencedor do Jogo A x campeão da Libertadores
Jogo D - vencedor do Jogo B x campeão da Europa
FINAL (Domingo):
Jogo E - vencedor do Jogo C x vencedor do Jogo D
A partir da segunda edição, os times que entrariam
como byes nas Semifinais seriam os campeões dos continentes das equipes
finalistas do ano anterior.
Quanto aos torneios de seleções, o assunto de divide
em dois: Copas Continentais e Copa do Mundo. Não há muito o que mexer nas
Copas Continentais. As Copas de Europa, Ásia, África e Oceania já têm suas
características estabilizadas e as únicas alterações caberiam à Copa
América e à Copa de Ouro da CONCACAF:
- Não há sentido em incluir seleções convidadas de
outros continentes, prática que vem se tornando hábito nessas duas
competições. Assim, todas as seis confederações continentais deveriam
restringir a participação em suas Copas Continentais às suas próprias
seleções filiadas.
- A presença constante da Venezuela na Copa América
acaba por comprometer o nível técnico da competição. Não é nada contra os
venezuelanos, mas o fato concreto é que tradicionalmente a Venezuela tem sido a
mais fraca das seleções sul-americanas. Sem dúvida, a adoção de
eliminatórias que reduzissem o número de participantes da Copa América para
seis ou oito viria a valorizar tecnicamente a competição, além de evitar as
indesejáveis repescagens (entre os terceiros colocados de cada grupo)
existentes no formato atual do torneio.
A grande modificação que se propõe para a estrutura
dos torneios de seleções, está na hoje inexistente vinculação entre as
Copas Continentais e a Copa do Mundo. Na Europa e na África, por exemplo,
disputam torneios eliminatórios tanto para a Copa do Mundo quando para a
respectiva copa continental. Isso confere às seleções desses continentes uma
quantidade desnecessariamente grande de jogos a serem disputados. Tomando como
exemplo a Copa de 2006 (uma vez que as eliminatórias para 2002 já estão em
pleno andamento), a classificação para a Copa do Mundo seria determinada da
seguinte forma:
0 - O campeão mundial de 2002 e a Alemanha (país-sede
de 2006), obviamente já estão classificados.
1 - Os campeões das Copas América e da África (que são
bienais) do período 2002-2005 se classificam para a Copa do Mundo. Se uma mesma
seleção ganhar as duas copas desse período, os dois vices disputam um
play-off.
2 - O campeão da Copa da Ásia e o campeão e o vice da
Eurocopa (que são quadrienais) de 2004 também se classificam para a Copa do
Mundo.
3 - Os campeões das Copas Ouro da CONCACAF de 2002 e
2004 fazem um play-off para classificar o vencedor para a Copa do Mundo.
Evidentemente, se a mesma seleção vencer as duas copas, esse play-off será
desnecessário.
4 - Os campeões das Copas da Oceania de 2002 e 2004 se
classificam como bye para as finais do torneio eliminatório (conforme
mencionado à frente, no item 8).
5 - Se o Campeão Mundial ou o país-sede também for
campeão ou vice continental, sorte dele. Não existe "chamar o terceiro
colocado para preencher a vaga".
6 - Os dezesseis times classificados para as oitavas de
finais da Copa de 2002 (menos o Campeão Mundial, os eventuais países- sede e
os eventuais campeões continentais) entram de "bye" em seus
respectivos continentes.
7 - Em cada continente, as seleções "não-bye"
se dividem em grupos para classificar "x" times (o valor de
"x" depende do continente) para a segunda fase. Isso evita jogos
desestimulantes como Alemanha x Malta, por exemplo, em que tanto uma seleção
sabe que fatalmente vencerá e provavelmente se classificará para a Copa,
quanto a outra equipe sabe que inevitavelmente será derrotada e certamente não
estará presente na Copa do Mundo.
8 - Na segunda fase, cada um dos seis continentes se
divide novamente em grupos, reunindo os byes (os "oitava-de-finalistas"
da Copa e os campeões da Oceania) e os times oriundos da primeira fase.
9 - Essa fase é disputada de forma igual às eliminatórias
tradicionais, classificando 5 seleções da África, 4 seleções da América do
Sul e assim por diante; o vencedor da Oceania disputa uma repescagem contra o
terceiro da Ásia, e assim por diante. Para uma Copa do Mundo com 32 seleções,
os números ideais de países classificados de cada continentes são:
país-sede - 1
América do Sul - 5
Europa - 15
Ásia - 3 ou 4
África - 4
CONCACAF - 3
Oceania - 1 ou 0
Evidentemente, esses números incluem o Campeão Mundial
e os classificados como campeão ou vice do continente.
Para ilustrar melhor, as Eliminatórias Européias para
2002, se fossem disputadas nesse sistema, poderiam ficar da seguinte forma:
- França (campeã mundial de 1998 e européia em 2000):
classificada
- Noruega, Itália, Dinamarca, Holanda, Alemanha, Iugoslávia, Romênia,
Inglaterra e Croácia (que disputaram as oitavas de finais da Copa de 1998):
recebem o status de bye.
- As demais 41 seleções se dividem em sete grupos (um de cinco e seis de seis
equipes cada) para classificar 21 seleções (três de cada grupo).
- Por fim, essas 30 seleções (as 9 bye e as 21 classificadas) se
dividem em cinco grupos de seis.
- Classificam-se para a Copa do Mundo as três
primeiras colocadas de cada grupo.
É isso aí. A qualquer momento estarei Acertando as
Contas com um novo assunto atual do futebol.
Na terceira e última parte desta série, serão feitas
diversas observações sobre o calendário quadrienal divulgado pelos
"notáveis" e sobre alguns contra-argumentos que poderiam ser
apresentados às estruturas aqui propostas.