PUBLICIDADE

Ex-atletas opinam sobre mudança no código antidoping da Wada, que abranda pena ao uso de cocaína

Agência Mundial Antidoping definiu que a partir de 2021 não suspenderá mais atletas flagrados por uso de maconha, cocaína e outras drogas de fins recreativos. Casagrande aprova decisão. Ana Paula, não

6 dez 2019 - 10h11
(atualizado às 14h44)
Compartilhar
Exibir comentários

Atletas e ex-atletas, de maneira geral, foram pegos de surpresa com a informação sobre a mudança no código da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), divulgada pelo Estado com exclusiviade nesta quinta-feira. A reportagem conta que a partir de 2021, atletas pegos no antidoping para uso de maconha e cocaína, por exemplo, não serão mais punidos com quatro anos de afastamento, conforme regra atual.O Estado entrou em contato com diversas personalidades do meio esportivo que não estavam sabendo da alteração. Algumas delas preferiram não opinar. O ex-jogador Walter Casagrande, comentarista esportivo do Grupo Globo, e as ex-jogadoras de vôlei Isabel e Ana Paula analisaram a nova medida que entrará em vigor a partir de 2021, após os Jogos Olímpicos de Tóquio.

A Wada não punirá mais atletas por uso de drogas de uso social, como maconha e cocaína, por exemplo. Para isso, terá de ser provado que a utilização da substância proibida não teve como finalidade obter performance esportiva. A entidade entendeu que atleta com problemas com drogas, pegos nos exames, não está tentando se beneficiar com ganho em performance. Portanto, a prioridade nesses casos deve ser com sua saúde. Por isso quem provar que usou a droga para fim social, em festas na noite, por exemplo, será advertido e não mais punido com ganchos que podem chegar a quatro anos.

Casagrande defendeu mudança da Wada.
Casagrande defendeu mudança da Wada.
Foto: Reprodução/SporTV / Estadão

"Sempre falei que deveria mudar o código, que cocaína e maconha são drogas sociais e não aumentam o rendimento esportivo. Em vez da punição, sempre defendi que deveria ter exigência de tratamento. Quem é pego por cocaína e maconha é porque não tem mais o controle", destacou Casagrande, autor do livro Casagrande e seus Demônios, que trata de sua experiência com as drogas quando era jogador e depois também.

Isabel, ex-jogadora de vôlei da seleção brasileira, concordou com o ex-atleta do Corinthians. "É um avanço não haver mais punições severas para drogas como maconha e cocaína. Sou a favor da punição por doping quando há a tentativa de melhorar a performance. É uma covardia, não é legal. Mas acho que cocaína e maconha, caso seja registrado que não se usou para obter melhora de performance, não é nada. A pessoa que está com problema precisa de ajuda", destacou. Recentemente, o Estado fez reportagem contando a história do ex-são-paulino Régis.

Ana Paula, também com passagem pela seleção brasileira de vôlei e blogueira do Estado, demonstrou opinião divergente dos colegas. "Sou totalmente contra. É uma mudança que não tem cabimento. Primeiro que as palavras droga e esporte não cabem na mesma frase. As políticas antidoping estão sempre correndo atrás dessa indústria do doping, que está anos-luz à frente sempre. Eles estão sempre buscando novas formas de burlar os exames e em algum momento conseguem. Qualquer tipo de droga, anabolizante, qualquer substância proibida, seja para uso recreativo ou para aumento de performance, sou absolutamente contra."

CÓDIGO

A mudança substancial do código é detalhada no seu item 24 do novo código da Wada. A entidade justifica a alteração com base em muitas análises e cita ponderações como no uso da cocaína, que também pode melhorar a performance de um atleta. "O que se nota frequentemente é que a quantidade detectada nos exames antidoping durante a competição é pequena, o que sugere fortemente que o uso ocorreu fora do torneio, em um contexto social, sem afetar o desempenho esportivo."

As substâncias que entrarão nesse contexto ainda não estão todas definidas, pois há muitas drogas sintéticas de origens variadas. A Wada destinará um grupo de peritos para identificar na lista de substâncias proibidas quais são frequentemente usadas "socialmente". Quando o atleta for flagrado por consumo de uma delas, deverá provar que o uso ocorreu fora da competição e não estava relacionado ao desempenho esportivo, ou qualquer ganho nesse sentido. Vale ressaltar que as drogas continuam proibidas.

No momento em que a contraprova der positiva, haverá uma punição automática de três meses ao esportista. O atleta poderá reduzir esse período de inelegibilidade para um mês se aceitar entrar para um programa de reabilitação. Se ele não provar que usou a droga fora da competição, aí sim será suspenso por quatro anos, como diz a regra atual. A Wada vai colocar o novo código em vigência a partir de 2021.

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Seu Terra












Publicidade