Ao L!, Tita relembra o Mundial de 1981 e exalta geração vitoriosa: 'Time conhecedor do tamanho do Flamengo'
Ex-jogador ainda relembrou a sequência de jogos importantes que o Flamengo teve na reta final de 1981, falou sobre a postura do time contra o Liverpool e amizade do grupo até hoje
No dia 13 de dezembro de 1981, há 40 anos, o Flamengo "botou os ingleses na roda". Com o placar de 3 a 0, construído ainda no primeiro tempo, o time comandado pelo técnico Paulo César Carpegiani venceu o Liverpool e levou o Mundial no estádio Nacional de Tóquio, no Japão. Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Tita relembrou a conquista do título e não escondeu a felicidade por ter deixado um legado no clube.
- Isso é muito prazeroso, uma alegria, uma satisfação. É um legado, né? Saber que 40 anos atrás ninguém conseguiu ainda no Flamengo e no Rio de Janeiro ser campeão Mundial. Então, isso aí torna a história mais significativa para todos os jogadores que fizeram parte desse jogo. E parabeniza, saúda essa geração de ouro que o Flamengo de 78 a 83, uma geração de muitos títulos e de muitas alegrias.
Na reta final daquele ano, o Flamengo, inclusive, encarou uma sequência de jogos importantes. No dia 8 de novembro, o Rubro-Negro devolveu a goleada histórica que havia sofrido em 1972 pelo Botafogo por 6 a 0. Depois, nos dias 13, 20 e 23 do mesmo mês, o Fla levou a melhor sobre o Cobreloa-CHI com duas vitórias em três jogos e conquistou a Libertadores.
48 horas após o desembarque no Galeão, que contou com festa da torcida para recepcionar os campeões do continente, o Flamengo voltou a campo para golear o Volta Redonda por 5 a 1. Assim, o clube da Gávea venceu o terceiro turno do Campeonato Carioca.
Na decisão do Estadual, após três jogos disputados nos dias 29 de novembro, 2 e 6 de dezembro, o Flamengo levantou mais uma taça. Uma semana depois, finalmente, o Flamengo encarou o Liverpool no Japão e conquistou o terceiro título em um intervalo de menos de um mês.
- Teve também, primeiro de tudo, aquele 6 a 0 no Botafogo. Nós conseguimos retribuir aquele 6 a 0 que o Botafogo estava devendo para gente desde 1972. E aí começou a nossa caminhada quando ganhamos o Campeonato Carioca, ganhamos a Copa Libertadores e fomos até o Mundial. Acho que aquele momento ali foi o ápice da nossa equipe, foi nosso melhor momento - contou Tita, que ainda completou.
- Era uma equipe jovem: nós tínhamos o goleiro Raul, que tinha 37 anos, mas, na linha, o mais velho que tínhamos era o Zico, com apenas 27 anos. Então, nós éramos uma equipe jovem e, ao mesmo tempo, madura porque já estávamos acostumados a decidir os campeonatos, a ganhar os campeonatos. E a gente conseguiu, através, claro, de um trabalho elaborado pela comissão técnica, chegarmos até o Mundial e vencer o Liverpool por 3 a 0 - disse.
GERAÇÃO VITORIOSA
Posteriormente, o Flamengo ainda venceu os Campeonatos Brasileiros de 1982 e 1983, além da Taça Guanabara de 1982 e a Taça Rio de 1983. Tita lembrou com carinho dos títulos conquistados pela geração que atuou pelo Rubro-Negro entre 1978 e 1983 e exaltou os companheiros de equipe.
- Um time muito maduro, um time conhecedor do tamanho do Flamengo, um time feito em casa, com grandes jogadores, jogadores de Seleção Brasileira. Marcamos uma geração, marcamos uma época. Conseguimos o Mundial de Clubes, que é o maior título que o Flamengo possui, três Campeonatos Brasileiros, uma Copa Libertadores, cinco Campeonatos Estaduais. Foi uma geração muito vencedora. Nós estamos muito contentes de poder dar essa alegria ao torcedor da Nação Rubro-Negra.
A FINAL
Dentro de campo, diante do Liverpool, o Flamengo dominou de ponta a ponta e construiu o resultado final ainda no primeiro tempo. Tita afirmou que a equipe entrou muito focada para a partida e revelou que as mensagens dos líderes do time no vestiário também foram essenciais. O camisa 7 do Fla ainda destacou o feito de não ter sofrido um gol sequer no confronto.
- Nós sabíamos da importância desse jogo. É um campeonato mundial, primeira vez que o Flamengo participaria de um jogo assim. Entramos muito concentrados, muito focados no jogo. Tiveram situações ali no vestiário importantes, mensagem dos líderes, do Zico, do Júnior, do Raul... A gente entrou muito concentrado e conseguiu fazer o placar já no primeiro tempo. Nós conseguimos fazer 3 a 0, fora os "ameaços", tiveram também os "ameaços" (risos), poderia ter sido mais, né?
- O Raul trabalhou muito pouco, não teve nenhuma participação praticamente no jogo. E, outra vez, nós jogamos sem levar gol, né? Jogar com um dos maiores times da Europa, o Liverpool daquela época, e sem levar gols. Isso foi algo bastante significativo.
A IMPORTÂNCIA DE COUTINHO
Um nome fundamental para aquela geração do Flamengo foi Claudio Coutinho, que, inclusive, conduziu o time ao título do Brasileirão de 1980. No ano seguinte, quando já não estava mais à frente da equipe, Coutinho encontrou a delegação rubro-negra no Galeão, que desembarcava de Montevidéu.
Em entrevista à TV Globo naquela época, o ex-treinador do Flamengo disse que se sentia "muito recompensado de poder ter sido um elemento" na campanha e tinha certeza que o time da Gávea seria campeão mundial. Assim, Tita falou sobre Coutinho e destacou que ele teve uma participação "muito importante" tanto nas conquistas quanto na formação do elenco do Flamengo.
- O Coutinho, na verdade, foi o mentor desse início, 78, 79, 80, quando ganhamos o Campeonato Brasileiro. Ele foi o percussor disso tudo, ele montou toda essa situação. Claro que depois veio o Dino Sani, veio o Carpegiani, que jogou com o Cláudio Coutinho, sabia mais ou menos a ideia e, depois, se tornou treinador - explicou Tita.
- Acho que o Coutinho teve uma participação muito importante na nossa conquista, nesses anos, na formação desse grande elenco que o Flamengo montou dos anos 78 a 83 - completou.
OS CAMPEÕES HOJE
Nesta segunda-feira, os campeões farão um jantar para comemorar a data dos 40 anos da conquista do Mundial. Tita contou que o grupo mantém a amizade até hoje e ressaltou que o encontro também servirá para reviver os momentos que o grupo viveu juntos.
- Nós somos amigos até hoje, temos uma amizade impressionante. O tempo não interrompeu e vamos fazer essa comemoração muito justa. 40 anos não são 40 dias nem 40 meses. Nós resolvemos comemorar essa data, vamos fazer um jantar comemorativo e convidamos 250 pessoas para participar. Tenho certeza que vai ser muito legal porque vamos relembrar esses momentos, reviver esses momentos. Foi muito bonito esse tempo que estivemos juntos aí de 78 até 1983.
Se pudesse descrever o Flamengo daquele ano em uma palavra, qual seria?
- Uma palavra é difícil (risos). Ganhar cinco anos, como é que ia descrever esse elenco, todos os jogadores que tiveram essa participação vitoriosa. Um grupo considerado o melhor da história, o mais vencedor da história do clube. Então, é muito difícil numa palavra só.
- A verdade é que esse grupo deu uma grande contribuição para a história do clube para aumentar muito os torcedores que, hoje, o Flamengo tem. São quase 42 milhões de torcedores. Tenho certeza absoluta que essa geração contribuiu bastante. Espero que, rápido, o Flamengo possa voltar a uma final de Mundial e vencer para que a gente possa ter dois Mundiais de Clubes e poder ter a alegria de botar mais uma estrelinha no peito daquela camisa do Mengão.
Quando você foi derrubado próximo à área, já imaginava que o segundo gol poderia sair na cobrança da falta?
- Sempre uma falta que o Zico vai bater é perigo de gol. Ele (Zico) teve uma batida complicada para o goleiro do Liverpool. Ele (o goleiro) agarrou e soltou a bola, e o Adilho já entrou fazendo o gol. A gente conseguindo ali o 2 a 0, um placar até que dava tranquilidade para a gente. Conseguimos jogar com uma certa tranquilidade só no erro do Liverpool. Acho que esse gol foi importante por isso, deu um pouquinho mais de tranquilidade para os jogadores atuarem melhor.
Depois do 3 a 0, a ideia era manter o ritmo ou administrar o resultado?
- Acho que o 3 a 0 já é mais ou menos uma goleada, ainda mais se tratando de uma final de Campeonato Mundial, é raro. Se você for ver os últimos dez anos, 15 anos da final do mundial, ninguém conseguiu fazer 3 a 0 ainda no primeiro tempo. Agora, a nossa categoria, qualidade do nosso time, o amadurecimento do nosso time... Nós tínhamos 70% daqueles jogadores feitos em casa. Jogadores que já tinham atuado pela Seleção Brasileira.
- Então, é um time com muita categoria, mas claro que nem por isso a gente colocou o salto alto. Falamos muito sobre isso no vestiário, a nossa conversa no vestiário foi justamente sobre isso: para não diminuir o ritmo, continuar jogando normalmente e não cometer esse erro de começar aquela bolinha, jogo lento, segurar o jogo, querer dar uma canetinha, dar um chapéu. Nós continuamos jogando com seriedade e tivemos, inclusive, outras situações para aumentar o 3 a 0 no segundo tempo.
Em entrevista à Revista Placar, o técnico Bob Paisley, do Liverpool, comentou que não conhecia o Flamengo. Isso serviu de motivação?
- Naquela época era difícil você saber o que estava acontecendo. Hoje em dia você entra no YouTube e, em dois minutos, sabe o que o adversário faz, quais são as principais jogadas, quais são as triangulações, onde eles marcam. Então, é fácil hoje em dia, mas, naquela época, não. Uma pena que ele não sabia como que a gente jogava.
- Aproveitamos o momento do jogo. O pessoal acha: "ah, não, vamos aquecer porque o jogo está frio, vamos tocar bola". A gente fez logo 3 a 0 no primeiro tempo, definindo o placar e assegurando uma excelente vitória.
A torcida japonesa torceu pelo Flamengo na decisão. Isso ajudou o grupo dentro de campo?
- Ajudou bastante. A gente tinha muito torcedor do Flamengo que foi nesse jogo. Nós tivemos muita gente vestindo a camisa e os torcedores japoneses também. Isso aí ajudou bastante. A maior parte do estádio estava torcendo para o Flamengo.
*estagiário sob a supervisão de Aigor Ojêda