Maracanã vive Carnaval antecipado com façanha do Flamengo
'Hoje tem gol do Gabigol', assim previam os cartazes; cobertura de peso da imprensa nacional e estrangeira, bares cheios, arquibancada quase totalmente lotada. Dia ensolarado, torcida empolgada com seus cânticos tradicionais, bandeiras rubro-negras de todos os tamanhos. Show de músicos cariocas como pré-aquecimento, muita cerveja, segurancas postados para evitar invasão de gramado, ambulantes vendendo sorvete no meio do público. Misture tudo isso e muito mais e você vai desvendar a primeira festa do futebol na história do Maracanã sem bola rolando no estádio.
A tarde era de sábado, mas a torcida cantou "Domingo, eu vou ao Maracanã, vou torcer pro time que sou fã, vou levar bandeiras e foguetes, não vai ser de brincadeira, ele vai ser campeão, não quero cadeira numerada, vou ficar na arquibancada pra sentir mais emoção ..." Os foguetes, na verdade, ficaram do lado de fora. Mas os outros versos da canção de Neguinho da Beija-Flor (O Campeão) se confirmaram.
Os telões do Maracanã anunciaram os 11 titulares do Fla às 16h40 e a torcida exultou a cada nome apresentado. Arrascaeta foi ovacionado, a imagem de Bruno Henrique e, na sequência, a de Gabigol, levou os torcedores a uma explosão de alegria. Mas ainda faltava um da lista para ser reverenciado. O técnico português Jorge Jesus surgiu com seus cabelos esvoaçantes e o público pulou, dançou, ergueu os braços, com o coro que o consagrou. "Olê, olê, olê olê, mister, mister!"
Tudo mudaria aos 14 minutos do primeiro tempo, com o gol do River Plate. A torcida silenciou e por várias vezes ao longo dos minutos seguintes esboçou reações pontuais. O time não jogava bem e Thiago Ribeiro, 14 anos, parecia incrédulo. Na arquibancada do Maracanã, achando tudo ali muito estranho, ele tentava se acostumar com a novidade: ir ao estádio de futebol para ver um jogo decisivo sem ninguém no gramado e nem sequer uma bola rolando. "É muito diferente. Mas estou curtindo."
Thiago soltou um grito abafado com o primeiro gol de Gabigol. Ele, e mais outros milhares de flamenguistas, já meio perpexos com a eventual perda da Libertadores, ressurgiram na arquibancada do Maracanã com o empate. Era o prenúncio da vitória na prorrogação que se desenhava. Bastou o repórter olhar para o lado para registrar o choro compulsivo de Claudia Silva, 47 anos, para Gabigol decretar uma festa apoteótica no Maracanã com o segundo gol, o da virada.
Na verdade, muita gente no estádio tirou os olhos dos oito telões instalados à beira do campo. Estavam comemorando o 1 a 1, agora cheios de esperança na conquista do título. Quando se deram conta, Gabigol estava sem camisa, em êxtase. Era o 2 a 1. Soluços, choros, uma catarse no Maracanã, estádio de 69 anos que viveu neste sábado um dos seus dias mais memoráveis, uma bela festa de futebol, sem nenhum jogador em campo, sem bola, sem arbitragem. Se o evento foi virtual ou não, pouco importa.