Fortaleza faz boa campanha, mas sofre declínio e perde primazia no Campeonato Cearense
Confira a análise da trajetória do Leão do Pici na competição estadual e os fatos que levaram à queda da hegemonia tricolor
O sonho do hexa chegou ao fim para o Fortaleza. Na tarde de sábado (06), na Arena Castelão, a hegemonia tricolor foi quebrada, após uma partida repleta de emoções, um empate por 1 a 1 com o Ceará e uma amarga cobrança de pênaltis alternados. O time que chegou em sua sétima final consecutiva e tinha um título a mais que o adversário, perdeu a oportunidade de ampliar a diferença e conquistar a taça pela sexta vez seguida, feito inédito. Entre erros e acertos, relembre a campanha do Leão do Pici no Campeonato Cearense 2024.
PRIMEIRA FASE
Na fase de grupos do estadual, o Fortaleza fez uma caminhada segura e sólida. Logo na estreia, o Leão do Pici venceu o Horizonte por 2 a 0, abrindo a trajetória para a classificação no Grupo A. Nas rodadas seguintes, o Tricolor de Aço mostrou toda a tranquilidade ao passar pelo Barbalha, com goleada por 5 a 0 e pelo Iguatu, garantindo 3 a 1. Já na quinta rodada, quando já somava nove pontos, a equipe do técnico Juan Pablo Vojvoda foi desacelerada pelo Ferroviário, com quem empatou por 1 a 1.
Encerrando a fase de grupos, na rodada seguinte, o primeiro Clássico-Rei da temporada foi como um banho de água fria. Um clássico equilibrado, disputado pelos dois times e com seis gols marcados, três para cada lado, mostrou que, apesar da campanha forte e o favoritismo conquistado nos últimos cinco anos, era preciso abrir os olhos e se preparar para o que estava por vir.
Invicto, o Fortaleza assumiu a liderança de seu grupo, ficando três pontos na frente do segundo colocado, o Maracanã. Somando três vitórias e dois empates, com 11 pontos, o Leão garantiu a classificação direta para a semifinal da competição. A garantia de um lugar no mata-mata e a poucos passos da sétima final, fez o Fortaleza voltar sua atenção para a Copa do Nordeste e a preparação para as outras competições.
No intervalo entre o fim da primeira fase e a definição dos classificados das quartas de final, que enfrentariam os já semifinalistas Fortaleza e Ceará, que também garantiu a líderança de seu grupo, o Leão do Pici passou por um momento crucial e que mudou o rumo de algumas coisas. No dia 22 de fevereiro, o Fortaleza sofreu um ataque de torcedores do Sport ao ônibus que carregava os atletas, comissão técnica e toda a delegação. Após o fato, que contou com vidros quebrados e lançamento de objetos, alguns atletas foram afastados para recuperações físicas e psicológicas. - Essa observação está longe de ser uma desculpa aos erros que se sucederam, trata-se apenas de uma contextualização dos fatos, especialmente, extra campo.
SEMIFINAL: FORTALEZA ENCARA O MARACANÃ
De volta a campo, com alguns desfalques e problemas que ultrapassam as quatro linhas, como a investigação do caso de violência, o Fortaleza encara seu primeiro desafio do mata-mata. No dia 10 de março, o Leão do Pici enfrentou o Maracanã no jogo de ida. O gol de Lucero, aos 59′, garantiu o empate e levou a decisão para o segundo jogo, que aconteceu uma semana depois.
No dia 17 de março, o Fortaleza ressurgiu e voltou a passar confiança ao seu torcedor. Dominando a partida de volta da semifinal, o tricolor contou com um jogo inspirado de Moisés, que abriu o placar nos acréscimos do primeiro tempo, ao assumir a batida de um pênalti e deixou seu segundo gol aos 59′. Para fechar o amplo placar e garantir 4 a 1 no agregado, Marinho balançou as redes aos 65′.
Após sequência de empates, o triunfo foi o passo fundamental para superar os desafios, especialmente os problemas no sistema ofensivo. Vojvoda já havia reconhecido as falhas nas finalizações do ataque e a falta de efetividade, que atormentavam o Fortaleza nas partidas que disputou pelo Cearense, o Nordestão e Copa do Brasil. A nova postura do time valorizou a classificação para a final do estadual, reforçando o sonho do hexa.
FINAL: A QUEDA DA HEGEMONIA
O Fortaleza chegou para encarar o Ceará com uma hegemonia do estadual e podendo ampliar a vantagem diante do alvinegro. Era o cenário ideal para Vojvoda trabalhar suas diversas opções, trazer uma postura mais incisiva e conquistar mais uma vez o Campeonato Cearense. Também era o momento dos jogadores chamarem a responsabilidade e entenderem que aquela era uma oportunidade histórica.
Para o primeiro jogo, assim como o Ceará, o Fortaleza assumiu uma posição conservadora, visando pouco risco e evitando avançar em busca do gol. O resultado foi um jogo truncado, sem efetividade e sem vantagens no placar. Ao contrário do primeiro encontro entre as equipes no ano e do jogo que disputaram pela Copa do Nordeste, Vojvoda optou por uma formação diferente, trazendo densidade para o sistema defensivo e fechando os espaços, bloqueando a infiltração do adversário em sua defesa. Isso dificultou também o trabalho do técnico Vagner Mancini, que disse, em entrevista coletiva, que não sabia o que esperar da escalação do adversário e precisou mudar suas opções de última hora.
O segundo jogo da final, assim como no primeiro, iniciou equilibrado, mas os erros persistiam. O Fortaleza não era efetivo, perdeu boas oportunidades de abrir o placar e tentar vencer a defesa alvinegra. Ainda na retranca, o Leão terminou o primeiro tempo sem destaques, mas tudo mudou na volta do intervalo, quando não foram necessários muitos minutos para que uma sequência perigosa determinasse o destino da finalíssima: 1) Ceará abre o placar no início da segunda etapa; 2) Fortaleza empata o jogo com Lucero menos de dez minutos depois; 3) O tricolor passa a propor um jogo movimentado; 4) Bruno Pacheco marca falta, leva segundo cartão e é expulso; 5) Com um a menos, Vojvoda é obrigado a mexer novamente no sistema tático.
Juan Pablo Vojvoda decidiu explorar as pontas e fortalecer a defesa, movimentando peças e fazendo substituições que segurassem o empate e levassem a decisão para os pênaltis. O treinador assume o risco, mas um detalhe passa despercebido: alguns dos melhores batedores do Fortaleza acabaram de ser substituídos.
Quando falamos de um time com calendário apertado, incluindo uma recente viagem internacional para o Paraguai, para estreia da Sul-Americana, que disputa várias competições simultaneamente, mas que se conhece há algum tempo, contra uma equipe em reconstrução e que dedicou sua semana para a decisão, diversas coisas podem acontecer.
Dentro do tempo regular, o desgaste não foi fator relevante, visto que as equipes jogaram de igual para igual. Nas cobranças alternadas, quando existem goleiros que sabem pegar pênaltis e que assumem a responsabilidade, também não há diferenças. Os pênaltis são decididos pela técnica, estudo dos batedores e análise das defesas daqueles que guardam as redes.
Se há um personagem que não falhou na queda da hegemonia do Fortaleza, foi o goleiro João Ricardo, que conseguiu defender duas das cinco cobranças do adversário. Por outro lado, sem tirar o mérito da excelente atuação do goleiro Richard, os batedores do Fortaleza pecaram. Foram duas bolas defendidas e uma isolada. Com 3 a 2 nos pênaltis, o Ceará voltou a vencer e chegou ao fim o domínio do Fortaleza no estadual.
Analisando toda a campanha, o Fortaleza fez uma trajetória boa, com vitórias importantes e uma primeira fase sólida. A queda da primazia tricolor se deu pelo declínio, quando o desempenho da equipe caiu, os erros passaram a sobrepor os acertos e chegou, enfim, à sequência de pênaltis não convertidos. Agora, o Fortaleza volta sua atenção para a Copa do Nordeste, Copa do Brasil, a Sul-Americana e o início do Campeonato Brasileiro. É o momento de revisar os erros, trabalhar nas soluções e tentar seguir uma temporada tranquila, sem outras grandes quedas.