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Futebol uruguaio abastece Europa e expõe limites com venda curiosa

12 fev 2011 - 15h26
(atualizado às 17h19)
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Fábio de Mello Castanho
Direto de Arequipa (Peru)

A classificação para os Jogos Olímpicos depois de 84 anos de ausência pode até ser mais um sinal do renascimento uruguaio, mas uma característica marcante da história recente do futebol do país ainda está longe de ser revertida. O Uruguai transformou-se em um exportador de jogadores e os times nacionais sofrem com um êxodo que parece incontrolável.

Do time que vem se destacando no Sul-Americano Sub-20, três jogadores já atuavam na Europa e, durante a disputa do torneio do Peru, mais três arrumarão as malas assim que voltarem para o Uruguai. A negociação de dois deles configura um exemplo perfeito da fragilidade dos clubes do país.

O atacante Federico Rodríguez e o meia Pablo Cepellini se destacaram no modesto Bella Vista e, antes do Sul-Americano, foram contratados pelo Peñarol, tradicional time que volta a disputar a Copa Libertadores neste ano. Apresentados, eles vestiram a camisa, mas sequer vão estrear com a camisa amarela e preta.

Os jogadores chamaram a atenção de olheiros e empresários, presentes em grande número no Peru para garimpar novos talentos, e já acertaram com times italianos. Rodríguez defenderá o Genoa, e Cepellini, o Cagliari. As negociações renderam mais de 6 milhões de euros aos cofres do Peñarol e vão ajudar na saúde financeira de um clube que tenta voltar aos tempos dourados.

O outro clube tradicional do país, o tricampeão da Libertadores Nacional, também tem um limite financeiro que impede a permanência e a contratação de jogadores de ponta. Recentemente, o time fez uma investida no zagueiro Sorondo, reserva do Internacional, mas o salário máximo oferecido não chegava à metade do que ele ganha em Porto Alegre.

Com uma população estimada entre 3,5 e 4 milhões de pessoas, o Uruguai viu os problemas de seu futebol interno se agravarem entre as décadas de 80 e 90, quando a Europa passou a investir mais em atletas sul-americanos. Com uma população pequena e um mercado interno proporcional, o país passou a ter dificuldades em repor jogadores e os times perderam espaço internacionalmente.

Na seleção, o reflexo veio com participações esporádicas na Copa e na dificuldade de acompanhar o ritmo de Brasil e Argentina. Na avaliação do presidente da Associação Uruguaia de Futebol, Sebastian Bauza, em um primeiro momento houve uma perda de identidade dos jogadores com a saída prematura para o exterior, o que acarretava em um time frio, sem o espírito de luta que marcou a história do bicampeonato olímpico (1924 e 1928) e mundial (1930 e 1950).

Bauza acredita que aos poucos houve uma retomada desta mentalidade e a atual geração consegue aliar a tradição uruguaia com a experiência de atuar nos principais campeonatos do mundo. O marco deste renascimento veio com o quarto lugar na Copa do Mundo de 2010, quando o time era formado por apenas três jogadores que atuavam dentro do país. O Uruguai não chegava a uma semifinal desde 1970.

"Hoje temos o (Loco) Abreu no Botafogo, o Suarez na Holanda e agora indo para a Inglaterra, o Forlán na Espanha... E quando eles chegam na seleção têm uma alegria que é incrível. Antes não se via isso. Estamos contentes porque realmente temos um grupo que gosta de se juntar e defender o Uruguai",explicou.

Exportação ao vizinho

O Uruguai tradicionalmente é um exportador de jogadores para o Brasil. O meio-campista Pedro Rocha, os zagueiros Darío Pereira e Hugo De Léon e o goleiro Rodolfo Rodríguez estão entre os exemplos mais conhecidos. Atualmente, o Botafogo conta com o futebol de Loco Abreu, Diego Forlán é especulado em times brasileiros e negociações envolvendo jogadores do país são frequentes.

O atual capitão da seleção principal, Diego Lugano, teve passagem de sucesso pelo São Paulo e, segundo Sebastian Bauza, foi fundamental nesta mudança de postura no país. "É uma referência para os mais jovens. Há códigos que ele transmitiu para os jogadores em relação a formação do grupo, respeito à torcida e imprensa que foram fundamentais", disse.

Seleção uruguaia perdeu jogadores ao longo de Sub-20, mas presidente da AUF vê renascimento
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Foto: Miguel Angel Bustamante / Terra
Fonte: Terra
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