Nova regra, em teoria, pode revolucionar categorias de base
Assim que a Fifa bater o martelo e determinar o tempo que os investidores terão para encerrar os vínculos com os clubes, a corrida dos dirigentes será para buscar soluções imediatas para manter as suas joias e montar times competitivos para a disputa dos campeonatos. Neste cenário, olhar para as categorias de base passa a ser o horizonte financeiro a curto prazo.
Na avaliação de quem atua no mercado, há muito interesse em jogo com a decisão da Fifa. A figura do empresário é vista, por muitas famílias, como apoio que falta do clube. É o agente que assina o vínculo com o pai do atleta, que virou uma profissão, firma contrato com um menino e absorve os problemas da família. Paga aluguel, dá chuteira e passagem de ônibus, algo que o clube não dá.
Por outro lado, clubes argumentam que a figura do investidor inibe o jogador de fazer um projeto de carreira no Brasil e muitas vezes os conselhos batem de frente com os interesses do futebol nacional.
Para o diretor-executivo do Fluminense, Paulo Angioni, que trabalhou em grandes parcerias do futebol brasileiro, como Palmeiras/Parmalat, Corinthians/Excel e MSI, a saída é dar maior atenção às divisões de base.
“No momento que você fomenta o trabalho de base, aquele jogador que é talentoso, você aumenta o seu ativo. Os profissionais que trabalham nas bases dos clubes são muito qualificados. Fortalecendo este trabalho, você obriga estes profissionais a mergulhar nesta busca pelo melhor resultado, formando bons jogadores. Quanto mais você investir na base, melhor você vai formar o atleta, que pode crescer em muitas áreas”, avaliou Angioni.
O advogado Marcos Motta, integrante do Comitê de estudos da Fifa, acredita que os clubes vão precisar olhar mais para dentro do próprio clube. “Eles vão ter que se redimensionar para saber trabalhar com esta nova realidade. Sei que o jogador é formado e tem o DNA do clube, além de conhecer bem o que é aquele clube”, destacou o advogado.
Clubes atentos às divisões de base
O vice-presidente de futebol do São Paulo, Ataíde Gil Guerreiro, entende que o investimento nas categorias de base é fundamental para a sobrevivência dos clubes sem os fundos de investidores. “Com essa nova decisão, o caminho para o sucesso dos clubes é investir nas categorias de base, criar os atletas e colher o fruto depois”, destacou Ataíde.
O Flamengo, que tem como lema "Craque, o Flamengo faz em casa", está atento às mudanças do mercado e se prepara para enfrentar as dificuldades que serão apresentadas daqui a alguns anos sem os investidores externos presentes nas receitas do clube.
“Era questão de tempo e os clubes terão que se adaptar melhor a nova realidade. Por isso, o Flamengo está buscando este equilíbrio financeiro com novas receitas, como o projeto sócio-torcedor. Hoje, a realidade é viver com os grupos de investidores, mas isso vai mudar. Dentre os clubes brasileiros, o Flamengo é que depende menos”, revelou o presidente Eduardo Bandeira de Melo.
O Ministério do Esporte aguarda as novas diretrizes para readequar a lei de Responsabilidade do Esporte.
Investimento dos clubes
O Fluminense gasta, por ano, R$ 6 milhões para manter a sua fábrica em Xerém, de onde saíram jogadores como Thiago Silva (PSG) e Marcelo (Real Madrid), por exemplo. O Atlético-MG investe R$ 10 milhões por ano. Os valores são de acordo com o tamanho do clube, mas os menores também têm despesas altas, como o Madureira, que consegue manter a base com o gasto de R$ 800 mil graças a uma parceria com a Traffic.