Com EUA e agora China, Campeonato Brasileiro pode ser alternativa para novos negócios
Reconhecimento e possibilidade da entrada de novas marcas no país são vistas como oportunidades a médio e longo prazo
O Campeonato Brasileiro terá todas as suas partidas transmitidas na plataforma de streaming 'Paramount+' para os Estados Unidos, com narração em inglês, em acordo de exclusividade fechado até o fim de 2023. O anúncio, feito há alguns dias, permite que o público norte-americano tenha acesso aos jogos da competição.
Os detalhes foram divulgados em parceria com a '1190 Sports', que, recentemente, fez uma fusão com a Global Sports Rights Management (GSRM), responsável pela comercialização dos direitos internacionais de transmissão da Série A.
A mesma empresa anunciou nesta sexta-feira (25), por meio de assinatura de um acordo de distribuição com a PP Sports (plataforma esportiva digital que tem acesso exclusivo a três jogos por rodada da Série A do atual Campeonato Brasileiro) para a transmissão dos jogos da competição brasileira na China.
Na visão dos clubes, o acordo deve permitir novas oportunidades de negócios que envolvem reconhecimento internacional, produção de conteúdo diversificado e a possibilidade de marcas de fora se sentirem atraídas em investir no país.
- Além de possibilitar engajamento dos ativos em outro continente, agrega benefícios às marcas envolvidas e aos patrocinadores com comercialização e visibilidade. É um conjunto de fatores que reúnem valor ao 'produto' futebol e principalmente aos times. Temos que estar atentos a essas movimentações, para que no futuro possamos melhorar cada vez mais as receitas com esses novos ativos - aponta o presidente do Internacional, Alessandro Barcellos.
- É muito importante para a valorização da competição internacionalmente. O Campeonato Brasileiro tem evoluído bastante em questão de organização e nível técnico, e até por isso creio que a edição deste ano será muito positiva nesses aspectos. Esse processo da venda dos direitos internacionais, que foi iniciada no ano passado e agora está em ampliação, pode trazer novas e boas receitas aos clubes brasileiros em breve - afirma o vice-presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch, clube que estará disputando pela primeira vez em sua história a elite.
Outro presidente que faz uma consideração importante é o do Fortaleza, Marcelo Paz. Segundo ele, existe uma falsa sensação de que o futebol brasileiro é conhecido mundialmente.
- Conhecida é a Seleção Brasileira, nossa camisa amarela e grandes craques como o Neymar. As marcas do futebol brasileiro não são conhecidas ao redor do mundo se comparado, por exemplo, com Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique, Manchester City, entre outros. Na medida que o nosso campeonato é transmitido para outros países, o mundo passa a conhecer o Fortaleza e todos os clubes que o disputam. Isso pode gerar um novo mercado consumidor para os times, como camisas, produtos licenciados, plataformas de streaming, redes sociais, entre outros. Atualmente o futebol brasileiro vende para fora o artista, que é o jogador, mas não vende o espetáculo que é o jogo, e uma iniciativa como essa faz com que começamos a vender o espetáculo - explica.
O presidente do Juventude, Walter Dal Zotto, corrobora que com a opinião do quanto isso pode ser valorizado pelos clubes:
- Os clubes fecharam acordo, ainda no ano passado, para venda dos direitos internacionais tanto para plataformas de streaming como para betting. Não tenho dúvidas que este mercado vai ser uma excelente alternativa de retorno em médio e longo prazo para os clubes. Para isso precisamos valorizar cada vez mais nosso produto.
De acordo com publicação no site da própria CBF, a Paramount+ irá transmitir todos os jogos da competição enquanto a CBS Sports Digital apresentará os destaques das partidas e cobertura adicional em seus canais nas mídias sociais, além de dar destaque a notícias esportivas 24 horas por dia, sete dias por semana, na CBS Sports HQ, CBSSports.com e o aplicativo CBS Sports.
- Essa aliança é um marco muito importante para o Brasileirão, que continua ampliando sua presença tanto no continente asiático quanto globalmente. Temos o prazer de trazer o melhor do futebol brasileiro para a China - um mercado com mais de 300 milhões de torcedores e onde a demanda por futebol de qualidade está crescendo continuamente - por meio da PP Sports, a plataforma líder no país, que conta com uma ampla base de usuários e grande experiência no desenvolvimento de eventos - afirmou CEO e cofundador da 1190 Sports, Hernán Donnari.
Na visão de alguns especialistas, no entanto, apesar da transmissão internacional representar um avanço, vai exigir também das partes envolvidas um planejamento em questão de transparência e estabilidade com o decorrer dos anos.
- Não é mera disposição numa grande rede de grande alcance que vai tornar o produto brasileiro interessante. Isso é só o início de um trabalho, leva tempo, depende da estabilidade e clareza da qualidade do produto, e o futebol brasileiro ainda carece muito disso, ainda que seu formato já esteja bem entendido e consagrado - alerta Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, sócio da 14, agência de conteúdo estratégico e que lançou em 2020 o livro e o curso "Inovação é o Novo Marketing".
Maia vai além e cita o exemplo positivo da NBA como algo que pode servir de referência para o mercado nacional.
- É preciso entender que o campeonato é mais importante que os clubes para valorizar o produto, e com ele sendo bem visto lá fora, se escolhe um time para torcer e aproveitar esse produto. Por exemplo, como o produto NBA é atrativo, eu escolhi o San Antonio Spurs para acompanhar e me sentir mais inserido na emoção de acompanhar o campeonato como torcedor e não meramente como espectador. Essa é a grande dificuldade encontrada pelo futebol brasileiro. Isso leva tempo, disciplina, percepção, promoção do produto. São alguns dos fatores que bem trabalhados podem gerar o interesse do pessoal lá de fora - completa.
A Paramount+ atualmente apresenta mais de 1.400 jogos ao vivo a cada ano, nos Estados Unidos, por meio de um extenso portfólio de propriedades do futebol incluindo competições de clubes da UEFA, NWSL (liga de futebol feminino nos EUA), competições de seleções da Concacaf (Eliminatórias para a Copa do Mundo Masculina, Eliminatórias para a Copa do Mundo Feminina, Liga das Nações Unidas e Liga das Nações Femininas) além da Série A (Itália), do Campeonato Argentino e, agora, do Brasileirão. Os jogos não poderão ser acessados pelo serviço de streaming no Brasil.
- Sempre existe o questionamento da ausência de marcas mundiais patrocinando clubes brasileiros. Temos que entender que as vendas são consultivas e, geralmente, a marca que patrocina o clube brasileiro tem interesse no nosso território, pois até então nossos jogos não eram transmitidos para fora do país. Esperamos há décadas que isto acontecesse, pois a partir do momento que ultrapassamos essa barreira, chegam várias oportunidades de marcas que possuem interesse em outros países, o que potencializa demais a prospecção. Imaginem negociar um patrocínio da Premier League, que está em mais de 80 redes de televisão e 200 países? Basta conectar a uma marca que possui o interesse de ter a presença nestes países, lembrando que estamos falando de uma força gigante de reconhecimento de marca quando estampamos os patrocínios de clubes de futebol - acrescentou Renê Salviano, executivo com mais de 20 anos de experiência profissional em diretoria comercial, de marketing e novos negócios do esporte.