Com Zico "sublime", Fla se mostra ao mundo: relembre título de 1981
- Danilo Vital
O Flamengo de 1981 é uma das maiores equipes que o Brasil já viu jogar. Merece esse rótulo porque brilhou sem estigmas: tinha grandes craques, jogava o futebol-arte e conquistou títulos importantes. O maior deles completa, nesta terça-feira, 30 anos: o Mundial Interclubes no Japão. Longe do Maracanã, o time provou seu valor ao derrotar o poderoso Liverpool por 3 a 0, em uma da atuações mais inspiradas de Zico.
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O Galinho de Quintino mudou sua forma de jogar para ludibriar a marcação inglesa e, assim, brilhou mais intensamente do que nunca: deu duas assistências para os gols de Nunes e cobrou a falta venenosa contra o goleiro Grobbelaar, que "bateu roupa". A bola sobrou para Lico e, na sequência, para Adílio completar para as redes. Foi a exaltação final de um ano perfeito para o torcedor do time rubro-negro.
Em apenas 21 dias, o Flamengo conquistou três importantes títulos. Em 23 de novembro, venceu o Cobreloa por 2 a 0 na partida de desempate da final da Copa Libertadores, com dois gols de Zico. Em 6 de dezembro, fez 2 a 1 no Vasco e garantiu a taça do Campeonato Carioca. No Japão, veio a glória absoluta: 3 a 0 no Liverpool, com gols no primeiro tempo. "Nunca, em uma final de Mundial, houve esse score que o Flamengo aplicou", exaltou o técnico Paulo César Carpegiani.
O Flamengo de Carpegiani
Carpegiani foi alçado à condição de técnico do Flamengo após uma série de desentendimentos de Dino Sani com o elenco e a diretoria. O treinador chegou ao clube para dar disciplina à equipe que, no ano anterior, havia conquistado o título brasileiro. A traumática eliminação no Campeonato Carioca, no segundo semestre, impediu o inédito tetracampeonato e abalou as estruturas rubro-negras. Dino Sani deveria recolocar a equipe nos trilhos, mas acabou caindo por tentar disciplinar demais os jogadores.
Em seu lugar entrou o novato Paulo César Carpegiani, recém-aposentado por conta de uma lesão no joelho e que atuava como coordenador técnico. De acordo com o historiador e jornalista Eduardo Monsanto, o principal mérito de Carpegiani foi dar continuidade à formação da equipe, desenvolvida desde 1976 por Cláudio Coutinho. Assim, o Flamengo deslanchou e atingiu o auge, o que seria confirmado em 13 de dezembro de 1981.
"A primeira vez que coloquei esse time em campo foi na vitória por 6 a 0 sobre o Botafogo, no Maracanã", disse Carpegiani. O resultado devolveu uma histórica derrota sofrida pelo mesmo no dia do aniversário do clube, em 1972. "A equipe rendeu um grande futebol e, naturalmente, não tirei ninguém. Prosseguiu assim e foi se aperfeiçoando. Era um time altamente técnico", exaltou o treinador, que colocou em campo elementos táticos de vanguarda.
Os pontas-de-lança flamenguistas, Tita e Lico, sem a bola, voltavam para compor a marcação no meio-campo. Também auxiliavam os laterais Leandro e Junior, que apoiavam o ataque fazendo o overlapping: tocavam para os pontas, que abriam a jogada e devolviam na frente. Esse tipo de lance levava o público japonês ao delírio no Estádio Nacional de Tóquio. Na frente, Nunes era o único atacante, se aproveitando das excelentes bolas de Zico, outro jogador de entendimento ímpar.
Na final, ele mudou seu posicionamento tático. Ciente dos perigos das cobranças de faltas do Galinho, a defesa do Liverpool adiantou a marcação. O camisa 10 passou a jogar mais recuado, aproveitando-se da linha de marcação para lançar Nunes. Foi assim que surgiram o primeiro e o terceiro gols contra os ingleses. "Esse foi o jogo do Zico. Foi uma das atuações mais sublimes dele, junto com a da final da Libertadores, quando fez dois gols no Cobreloa", definiu Monsanto, após explicar a disposição tática.
O jornalista pesquisou a fundo e publicou o livro "1981 - o ano rubro-negro" (Panda Books). Outras três obras sobre a temporada rubro-negra foram lançadas, aproveitando o aniversário de 30 das conquistas. São elas: "1981 - O primeiro ano do resto de nossas vidas", de Maurício Neves de Jesus (Livros de futebol.com); "1981 - Como um craque idolatrado, um time fantástico e uma torcida inigualável fizeram o Flamengo ganhar tantos títulos e conquistar o mundo em um só ano", de Mauro Beting e André Rocha (Maquinária); e "1981 - O ano mais feliz de nossa vida rubro-negra", de Antônio Carlos Meninéa (Virtual Books).
O Flamengo campeão mundial
"Foram os melhores 45 minutos da minha carreira", afirmou Carpegiani, em referência ao placar de 3 a 0 que surpreendeu o Liverpool no Japão. "Era uma equipe altamente técnica. É muito fácil apontar um ou outro como destaque, mas jogar daquele jeito era uma coisa tão natural para eles. Eram os legítimos ganhadores desse título. Seria injusto representar um ou outro jogador", complementou o técnico. As glórias de 30 anos atrás permanecem vívidas na memória dos flamenguistas.
"O Mundial é o passo mais importante que existe para um jogador de futebol. É o maior título da história", apontou Nunes, o "artilheiro das decisões". "Conseguimos o título dentro de campo, jogando muita bola. Foi a valorização de todos os atletas, é algo muito grande para a história do Flamengo. Podemos nos orgulhar e dizer que somos campeões do mundo", complementou o atacante.
Paulo César Carpegiani também exaltou a importância da conquista. Até 1981, apenas o Santos de Pelé havia vencido a Copa Intercontinental, em 1962 e 1963. "Me sinto lisonjeado com o título, porque o número treinadores (brasileiros) campeões mundiais que estejam vivos não enche uma mão. Você tem Abel Braga e Paulo Autuori. Telê Santana não tem mais. Hoje vejo a dificuldade de ser campeão mundial", ressaltou.
O 30° aniversário do dia em que o Flamengo ganhou o mundo contará com muitas festividades nesta terça-feira. Entre elas está uma festa na quadra da Mangueira, com shows e presença de alguns campeões.