Como o Catar preparou-se para ficar de olho na segurança 24 horas por dia
Reforço no número de policiais, uso de câmeras e punições rigorosas para os infratores estão entre as medidas
Os torcedores que foram ao Catar para apoiarem suas seleções na Copa do Mundo podem nem desconfiar, mas dificilmente eles não foram vistos em algum momento durante seus deslocamentos entre uma arena e outra. Perto do Estádio Khalifa, nas dependências do centro esportivo Aspire, uma sala com telas e um enorme mapa do país árabe é o posto de comando para coordenar ações em caso de problemas. Foi inspirada em um centro de controle e coordenação instalado em Domededovo, arredores de Moscou, durante a Copa de 2018, que possuía uma estrutura similar.
"Poderemos monitorar, em tempo real, o que está acontecendo nos estádios e em outras regiões", diz Niyas Abdulrahiman, um dos diretores executivos do Comitê de Organização da Copa 2022. "Em caso de incidentes, colocaremos em ação procedimentos para mitigar os problemas".
Na Sala de Controle no Aspire, durante 24 hora por dia, cerca de 75 analistas, estão de olho nas imagens geradas pelas cerca de 15 mil câmeras instaladas nos oito estádios e seus arredores. "Não existe um único ponto nas arenas, que não seja coberto por elas", garante Abdulrahiman.
Ele conta que, se houver uma situação de emergência, será possível colocar em prática planos previamente elaborados, para corrigir cada situação. Os deverão ser sinalizados, pelas equipes nos estádios ou por sensores e alarmes, se o problema for operacional.
As equipes do estádio, também, terão telefones celulares equipados com aplicativos para poderem interagir rapidamente com o Centro de Controle o mais rápido possível. "Para ter ação veloz e eficaz, há um grupo de trabalho que discute, em permanência, planos e situações de risco", diz o alemão Helmut Spahn, responsável pela segurança na Fifa.
Além do acompanhamento da situação em tempo real, para garantir intervenções rápidas haverá dentro dos estádios equipes de segurança que não estarão uniformizadas com fardas, evitando criar um ambiente opressivo com os torcedores nas arquibancadas. Isso não significa que haverá pouca vigilância: além de sua polícia, o Catar está recebendo o reforço de batalhões com treinamento antimotim da Turquia e do Marrocos. Serão 3.250 policiais turcos e 66 cães especializados em farejar explosivos e um número não divulgado de agentes marroquinos do Diretório de Segurança e Vigilância Nacional, o DGSN-DGST.
Há também uma estrutura de milhares de câmeras, espalhadas pelo país. Estima-se que 95% das ocorrências de trânsito do país são notificadas por elas. O Catar é um dos países que permite o uso de tecnologias de reconhecimento facial. O sistema a ser utilizado durante a Copa de 2022 é o da russa NtechLab, que permite identificar um rosto em cerca de 1 segundo a partir de dados coletados dos passageiros no momento do desembarque no país.
Mesmo com todo esse aparato, sempre existem bandidos dispostos a agir. Principalmente, nos dias de jogos, quando os vagões do metrô de Doha estão lotados, há punguistas de olho em objetos de valor, como telefones celulares. Foi, exatamente, esse o objeto surrupiado de Pedro Garcia, torcedor costa-riquenho, no metrô, durante o trajeto de volta do estádio Lusail, após o jogo entre Argentina e Arábia Saudita "Eu me descuidei e não senti meu aparelho sumir", diz.
Em caso de ações não apropriadas de acordo com a lei, o plano será a polícia agir rápido. E as penas prometem ser altas para os infratores. O governo, porém, não especificou de que forma a rigidez será aplicada.