Chef da Seleção conta segredos sobre cozinha canarinho
O gaúcho Jaime Maciel prepara as refeições para o time há 19 anos e faz rodas de chimarrão com Felipão
Igual a outros meninos brasileiros, quando criança, o chef de cozinha Jaime Maciel queria jogar futebol profissionalmente. Na época, atuava como centroavante e desejava integrar a Seleção Brasileira. O sonho era exercer a função que atualmente é de Fred, o homem de área do time de Felipão. O desejo, porém, não virou realidade. Ao menos dentro de campo.
Desde 1995, a vida de Maciel está intimamente ligada à Seleção. Mais precisamente, aos bastidores da equipe. Natural da cidade gaúcha de Santiago do Boqueirão, município a cerca de 370 quilômetros de Porto Alegre (RS), ele prepara as refeições de jogadores, comissão técnica e equipe de apoio da CBF há 19 anos.
Morador de Gravataí, na região metropolitana da capital gaúcha, o chef está concentrado na Granja Comary desde 5 de maio. Toda a preparação tem objetivo claro: oferecer energia e alimentação de qualidade para que Neymar e companhia conquistem o tão sonhado hexacampeonato. “Se Deus quiser, só volto para casa depois de levantarmos a taça”, afirma Maciel, 57 anos.
A Copa do Mundo do Brasil é a segunda do gaúcho, que também trabalhou na África do Sul, em 2010. Para as demais edições do torneio nas quais ele já estava na CBF (em 1998, 2002 e 2006), a entidade levou outros chefs junto com a delegação.
Segundo Maciel, montar o cardápio dos jogadores não é tarefa difícil. “Eles não são exigentes”, avalia. Na cozinha da Seleção, ele coordena uma equipe composta por mais 11 profissionais - tal como Felipão faz à beira do campo.
Arroz e feijão não podem faltar aos atletas. Entretanto, o time de Maciel evita frituras e pratos gordurosos. Também existe outro ingrediente indispensável nas receitas: “há muito amor pelos pratos que eu faço”, afirma.
O começo do sonho
Em 1982, o olhar do povo brasileiro voltava-se à Espanha. Era na terra das touradas que a Seleção canarinho buscava o tetracampeonato mundial. Liderada por craques como Falcão e Zico, a equipe brasileira não trouxe a taça para casa. Foi eliminada pela Itália de Paolo Rossi. Apesar da tristeza pelo resultado, a vontade de Maciel em tornar-se chef da Seleção surgiu em meio àquele torneio.
Durante a Copa, ao lado de Maria, sua esposa, ele assistiu a uma reportagem na TV sobre o profissional responsável pela cozinha da equipe brasileira na época. “Naquele momento, eu disse que trabalharia na Seleção. Minha mulher me lembra disso até hoje (risos)”, comenta.
Treze anos mais tarde, em 1995, durante a Copa América realizada no Uruguai, o Brasil ficou hospedado em um hotel de Santana do Livramento, município gaúcho a 500 quilômetros de Montevidéu. À época, Maciel trabalhava no local e preparou refeições para a delegação brasileira. Os dotes culinários do chef chamaram a atenção do então supervisor Américo Faria, que o convidou para a função exercida pelo gaúcho até hoje.
Antes de atuar em Livramento e na CBF, o cozinheiro trabalhou em um hotel de Porto Alegre, onde ingressou em 1978. “Aprendi a cozinhar com meus pais”, lembra. O chef diz gosta de preparar diferentes pratos. Porém, como bom gaúcho, o churrasco é um dos que tem mais apreço em oferecer a quem prova as suas refeições.
Conversas com chimarrão
Conforme o chef, o ambiente da Seleção Brasileira é bastante organizado. Ao longo dos dias, é natural que ele mantenha contato com jogadores e comissão técnica. E é justamente em meio à concentração da equipe que Maciel e o técnico Felipão aproveitam para conversar, mas com a presença de outro integrante gaúcho: o chimarrão. “O Felipão é meu companheiro de mate”, revela.
Para o chef, que é torcedor do Internacional, alguns ingredientes são essenciais à receita de sucesso do treinador perante os atletas. “Ele é autêntico, uma pessoa íntegra. Tem os jogadores na mão”, elogia.
Material produzido sob a supervisão da professora Anelise Zanoni.