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Craques e torcedores

Zidane saiu do gueto para se tornar herói nacional da França

O filho de argelinos que cresceu em um violento bairro da periferia de Marselha deu ao país suas maiores conquistas no futebol

25 jun 2014 - 08h00
(atualizado às 12h07)
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Mesmo veterano, Zidane comandou a França na vitória sobre o Brasil na Copa de 2006. Craque foi considerado o melhor jogador da competição
Mesmo veterano, Zidane comandou a França na vitória sobre o Brasil na Copa de 2006. Craque foi considerado o melhor jogador da competição
Foto: Getty Images

Uma Copa do Mundo, uma Eurocopa, duas Copas Intercontinentais, uma Liga dos Campeões e três títulos de melhor jogador do planeta. Com tantas conquistas, é natural que Zinedine Zidane, anunciado nesta quarta-feira como técnico do Real Madrid B, seja considerado um dos melhores jogadores da história do futebol. Para os franceses, no entanto, ele fez muito mais do que isso: deu ao país suas mais importantes conquistas dentro dos gramados.

O craque francês nasceu na cidade de Marselha, em 1972, em uma família de imigrantes argelinos que haviam deixado sua terra natal em 1953, às vésperas da guerra de independência do país africano. Apesar de sua família contar com uma condição de vida razoável, Zidane passou a infância em La Castellane, bairro da periferia de Marselha marcado por altos índices de criminalidade e desemprego.

Aos dez anos, ele já se destacava com a bola nos pés, e passou a integrar a equipe júnior do time do distrito onde vivia, o US Saint-Henri. Quatro anos depois, ele foi descoberto por um olheiro do Cannes, e acabou sendo chamado para um período de testes de seis semanas nas categorias de base do clube. O craque soube aproveitar a oportunidade e não apenas passou no teste, como se profissionalizou pela equipe, permanecendo nela por quatro anos.

Nasce uma estrela

Nessa época, Zidane tinha um temperamento explosivo, que fazia com que ele reagisse agressivamente a adversários e torcedores que o insultavam. Dentro de campo, porém, seu talento era inquestionável, e ele comandou a equipe na temporada 1990-1991, quando o Cannes fez a melhor campanha de sua história no Campeonato Francês, terminando em quarto lugar. O bom desempenho rendeu a Zidane uma transferência para o Bordeaux, onde jogavam Lizarazu e Dugarry, que mais tarde se tornariam seus companheiros na seleção francesa que conquistou a Copa de 1998.

O futebol do craque cresceu ainda mais na nova equipe, e Zidane logo ganhou uma chance com a camisa da seleção. Sua estreia se deu em 1994, quando ele marcou os dois gols no empate por 2 a 2 diante da República Tcheca. Dois anos depois, ele conduziu o Bordeaux ao vice-campeonato da Copa da Uefa. O feito lhe rendeu uma transferência para a Juventus de Turim, que havia vencido a Liga dos Campeões daquele ano.

O início na equipe italiana foi acompanhado por uma série de comparações com Michel Platini, que havia feito história pelo mesmo time. No entanto, Zidane mostrou que era capaz de brilhar por conta própria. Seu primeiro título pelo clube teve um gosto especial, pois ele teve a oportunidade de enfrentar seu ídolo, o uruguaio Francescoli, na final da Copa Intercontinental de 1996, quando a Juventus bateu o River Plate.

A consagração

Seu principal feito, no entanto, viria em 1998. Após perder duas finais de Liga dos Campeões com a camisa da Juventus, Zidane chegou com fama de “amarelão” para a disputa da Copa do Mundo em seu país. A desconfiança se tornou ainda maior após Zidane ser expulso na segunda partida, tornando-se o primeiro jogador da história do país a receber um cartão vermelho na competição. Depois de uma dura vitória contra o Paraguai nas oitavas de final, os bleus bateram a Itália nos pênaltis, com Zidane convertendo a primeira cobrança.

Na semifinal, o meia teve papel importante na vitória por 2 a 1 diante da Croácia, mas ainda era questionado por não ter marcado gols no mundial. Os tentos, porém, vieram na decisão contra o Brasil, quando Zidane abriu o placar de cabeça aos 27 minutos e ampliou pouco antes do intervalo. Ao final do jogo, a França venceu por 3 a 0, e Zidane foi considerado pela Fifa o melhor jogador do ano.

Sua consolidação como ídolo nacional viria dois anos depois, quando conduziu o país ao título da Eurocopa, marcando importantes gols nas quartas de final, contra a Espanha, e na semifinal, diante de Portugal. As atuações fizeram com que Zidane fosse eleito pela segunda vez o melhor jogador do mundo. No ano seguinte, ele foi contratado pelo Real Madrid por 77 milhões de euros, a mais cara transferência da história na época.

Galáctico

Quando Zidane chegou ao Real Madrid, os jogadores do time eram chamados de “galácticos”, tamanha era a quantidade de estrelas no elenco. E ele não decepcionou, levando o time à conquista da Liga dos Campeões de 2002, ano do centenário do clube. Na decisão, diante do Bayer Leverkusen, Zidane marcou um dos mais espetaculares gols da história da competição, pegando de primeira um cruzamento de Roberto Carlos. O esforço físico ao longo da temporada, no entanto, cobrou seu preço na Copa do Mundo. O craque não conseguiu chegar 100% na competição, e a França, sem poder contar com o todo o potencial de sua principal estrela, foi eliminada ainda na primeira fase.

Apesar da decepção com a equipe nacional, o meia recuperou o bom futebol em 2003, e mais uma vez foi eleito o melhor do planeta pela Fifa. Nos anos seguintes, porém, Zidane, assim como toda a equipe do Real Madrid, teve temporadas fracas, o que fez com que o craque chegasse à Copa de 2006 às vésperas da aposentadoria e mais uma vez cercado de desconfianças.

Despedida histórica

A França fez uma primeira fase bastante irregular: empatou com Suíça e Coreia do Sul e só se classificou batendo Togo sem Zidane, que estava suspenso. O craque, porém, mostrou sua velha categoria na vitória de virada sobre a Espanha, balançando as redes já nos acréscimos do segundo tempo. Nas quartas de final, o veterano deu show diante do Brasil. Comandando o meio de campo e aplicando dribles de efeito em seu ex-companheiro de clube Ronaldo, Zidane foi fundamental na vitória de seu país por 1 a 0.

Na semifinal, diante de Portugal, o craque marcou de pênalti, decidindo um jogo bastante equilibrado. Com isso, Zidane conseguia a glória de fazer da final da Copa do Mundo sua última partida como jogador. E o duelo começou de maneira perfeita para o camisa 10, que teve a ousadia de, aos 7 minutos, cobrar um pênalti de cavadinha em plena decisão de mundial.

A Itália ainda empataria com Materazzi, levando o jogo para a prorrogação. Ao final do primeiro tempo extra, Zidane esteve perto de encerrar a carreira de maneira gloriosa em uma cabeçada perigosa que foi espalmada por Buffon. Poucos minutos depois, um velho traço de Zidane, que permaneceu sob controle por boa parte da carreira, voltou a aparecer.

Ao ser provocado pelo zagueiro Materazzi, o francês desferiu uma cabeçada no peito do adversário, e se despediu dos gramados com um cartão vermelho e o vice-campeonato, pois a França perderia a decisão nos pênaltis. Apesar disso, ele foi eleito o melhor jogador da competição, e segue sendo reverenciado como um os maiores atletas da história do futebol. Atualmente, ele é embaixador da ONU na luta contra a fome e auxiliar técnico do Real Madrid.

Fonte: PrimaPagina
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