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Autuori adia volta, busca história no Catar e elogia Mano Menezes

6 jun 2012 - 08h12
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André Naddeo
Direto de Doha (Catar)

Paulo Autuori tinha o seguinte planejamento para o segundo semestre de 2012: férias a partir do dia 31 de maio com a família no Brasil e, depois do descanso, objetivo claro de assumir alguma equipe para o Campeonato Brasileiro. Tudo isso foi por água abaixo quando surgiu o convite para assumir a seleção do Catar no lugar do conterrâneo Sebastião Lazaroni.

» Exclusivo: Autuori conta aventuras e dificuldades no futebol do Catar

"É uma satisfação saber que eu tenho esse reconhecimento por aqui. Está claro que eles não querem que eu saia do país", disse ele em entrevista exclusiva ao Terra. "Eu tenho um contrato de dois anos, mas com possibilidade de saída sem multa para ambas as partes", completou.

Nesta segunda parte da entrevista ao Terra, direto do centro de treinamento da seleção catariana, a Aspire Zone, Autuori falou sobre o desafio de classificar o país do Oriente Médio para a primeira Copa do Mundo. "Não vai ser fácil, temos que reconhecer e passo isso aos atletas", admitiu ele sobre a fase final das Eliminatórias Asiáticas, diante de Coréia do Sul, Irã, Líbano e Uzbequistão.

"Embora haja um otimismo aqui. E o árabe é assim mesmo: outra naquela euforia ou naquela depressão", falou Autuori sobre o país que já respira futebol. Em dez anos, será a sede da Copa do Mundo da Fifa. O técnico, ex-São Paulo, Botafogo, Grêmio, entre outros, fala ainda sobre os prós e contras do futebol árabe para o jogador brasileiro, analisa a semifinal entre Corinthians e Santos na Copa Libertadores da América e elogia o trabalho de Mano Menezes à frente da Seleção Brasileira. Confira:

Terra - Continuando o nosso papo, agora no campo de treinamento da seleção do Catar. Você assumiu recentemente o trabalho feito pelo Sebastião Lazaroni. Fala um pouco sobre este início e quais foram as primeiras impressões sobre a equipe.

Autuori

- Temos que analisar o futebol do Catar em termos gerais. Acho que tenho essa condição, afinal, já estou aqui há um bom tempo. Há uma escassez de jogadores muito grande, principalmente em determinadas posições. Por exemplo, os clubes daqui, que podem usar três estrangeiros, mais um da Ásia, têm dificuldade, e quando conseguem compor a equipe defensivamente, falta o ataque, ou seja, o cobertor é curto. E isso se reflete na seleção. Fica claro que os países do Golfo, por tudo que aconteceu após a Copa de 1974, quando começaram a vir profissionais de alto nível do Brasil para cá, caso de Zagallo, Parreira, Telê Santana, Evaristo (de Macedo), estão muito ligados ao Brasil. Eles gostam da escola brasileira de futebol, os brasileiros têm aquela capacidade de quando as coisas não estão indo bem, de chegar e conversar para resolver, enquanto que o europeu é mais seco.

Terra Esportes no Catar: Autuori fala de eliminatórias e do Brasil:

Terra - Fala um pouco sobre as Eliminatórias Asiáticas para a Copa de 2014, que vocês estão na fase final. Quais as chances da seleção do Catar?

Autuori

- Nosso grupo não é fácil. Coloco a Coréia do Sul como favorita, que é a melhor equipe. O Irã e o Uzbequistão. Depois tem o Catar e o Líbano, que foi a grande surpresa na qualificação. Não é fácil, temos que ser realistas e é isso que eu tenho tentado passar para todos. Embora haja um otimismo aqui. E o árabe é assim mesmo: outra naquela euforia ou naquela depressão.

Terra - Você tinha planos de voltar para o Brasil, mas não conseguiu resistir a mais um convite. Por quê?

Autuori

- É verdade. Quando eu saí para ir para o Grêmio, por exemplo, eu tinha um contrato, e o presidente do Al Rayan, o xeique Abdala, uma pessoa extraordinária, entendeu minha necessidade de estar envolvido em alta competição de novo. Mas não demorou muito e foram atrás de mim. É uma satisfação saber que eu tenho esse reconhecimento por aqui, está claro que eles não querem que eu saia do país. E eu tinha projetado tudo para voltar agora, meu contrato terminava dia 31 de maio. Estaria livre para ir e pensar em Brasileiro. Me convidaram para a seleção e tive que adiar mais uma vez essa situação. Eu tenho um contrato de dois anos, mas com possibilidade de saída sem multa para ambas as partes.

Terra - Quais são os contras e os prós do futebol do mundo árabe, principalmente para os jogadores?

Autuori

- A primeira ideia que se deve ter é que estarão envolvidos em uma situação competitiva que não é a ideal, mas eu acho que aqui também tem o perfil para o jogador brasileiro. E essa é uma opinião muito pessoal minha. É a ideia de trazer um jogador já com 28, 30 anos. Todos os jogadores brasileiros que vinham para minha equipe eu era o primeiro a clarear muito bem a situação. Você estão vindo para um lugar que, como tudo na vida, tem o lado positivo e negativo. Negativo: nível competitivo não é aquele que vocês estão habituados, nível organizacional também não, e não tem público nos estádios. Isso é fundamental para o jogador: essa pressão que vem das arquibancadas.

Lado positivo: tempo que você não tem no Brasil. No Brasil, para ir ao dentista, ou ao banco, você tem que arrumar um horário, porque o futebol te consome e o lado pessoal fica extremamente prejudicado. Aqui, você pode estar com a família, que é algo que eles sentem muita falta no futebol, quando passam mais tempo nas concentrações do que em casa. Aqui, você tem tempo para tudo. Já ouvi muitos dizerem que estão fazendo coisas que nunca fizeram com os filhos. E você tem bons salários, e vem contratado pelo Comitê Olímpico, um órgão como o Ministério do Esporte, onde não tem atrasos e o mês tem realmente 30 dias.Terra - Você que já conquistou duas Copa Libertadores, uma pelo Cruzeiro e outra pelo São Paulo. Como está vendo esta semifinal entre Santos e Corinthians?

Autuori

- Eu acho que é uma final antecipada. É meio clichê, mas é uma realidade, até porque hoje os clubes, e mesmo o Fluminense não tendo passado, temos um Boca (Juniors) completamente diferente de algumas temporadas atrás. Não vejo realmente uma equipe forte. Quem ganhar dali tem muita possibilidade de ganhar o campeonato.

Acho que o Corinthians já vem em um processo de maturação muito grande desde a época do Mano (Menezes), e hoje é uma equipe bastante madura mesmo. Entra em campo sabendo aquilo que tem que fazer. E o Santos, com toda a genialidade de alguns jogadores, principalmente o Neymar. O Ganso agora fez uma artroscopia, ficou fora, mas nem por isso deixa de ser difícil opinar, são duas grandes equipes de futebol.

Terra - E sobre o trabalho do Mano Menezes? Tem gente já apoiando a ida do Pep Guardiola. O que você acha de um estrangeiro no comando da Seleção Brasileira?

Autuori

- Seria muita hipocrisia minha se dissesse que acho um absurdo ou algo do tipo. Afinal, já estou aqui há muitos anos. Não vejo problema em relação a isso. Agora, o Mano eu conheço há muito tempo, é um treinador exemplar, há que se ter muito respeito pelo trabalho. Ele está em uma fase delicada, sem uma eliminatória, sem muita chance de colocar o time para brigar para valer. Acho que é preciso, como disse, respeitar o trabalho e deixa-lo colocar em prática os pensamentos, que eu tenho certeza que serão sempre em prol de uma seleção campeã.

*O repórter André Naddeo viajou a convite do Qatar Nacional Food Security Program

Fonte: Terra
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