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América do Sul

Venezuelanos esquecem diferenças políticas para torcer pela seleção

12 jun 2013 - 04h43
(atualizado às 07h34)
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Na Venezuela, país em que o beisebol é a paixão nacional, a febre futebolística que atualmente domina a população traz um clima de reconciliação numa sociedade polarizada. A trégua entre partidários e opositores do governo dura ao menos 90 minutos. A Vinotinto, como é chamada a seleção venezuelana, embalada pela melhor campanha de sua história, conseguiu este "milagre".

Na noite de terça-feira, pouco antes da seleção perder para o Uruguai por 1 a 0 em uma das partidas das eliminatórias da Copa do Mundo, o presidente Nicolás Maduro e o ex-candidato presidencial e governador Henrique Capriles, rivais políticos, expressavam exatamente o mesmo desejo: ir ao Brasil em 2014 disputar a primeira Copa da história do país.

"Toda nossa energia, todo nosso amor e todas as bênçãos aos jogadores da Vinotinto. Que viva a Vinotinto", afirmou Maduro, pouco antes da seleção entrar em campo.

"#VamosVinotinto toda nossa Venezuela unida pelo sonho Brasil 2014. A ganhar", escreveu Capriles em seu perfil no Twitter, acompanhando a principal tendência da noite do microblog.

Com a derrota, a Venezuela fica empatada em quinto lugar com o Uruguai, com 16 pontos, e já não depende de si mesma para ir à Copa. Será preciso vencer todos os jogos e torcer por uma combinação de resultados negativos de seus adversários para continuar sonhando com o torneio.

A esperança de deixar para trás o estigma de ser o único país da Conmebol (Confederação Sul-americana de Futebol) que nunca disputou o torneio está mais distante.

Hora do recreio

Para a psicóloga Carolina Vásquez, a população venezuelana tem dificuldades em lidar com a adversidade e respeitar posições antagônicas, razão pela qual, a seu ver, os venezuelanos acabam assumindo um comportamento infantil quando se trata de futebol. "É como se fosse uma população de crianças na pré-escola", afirma.

O futebol, na sua avaliação, é a hora do recreio. "São espaços de catarse, de festa, onde não se toca em nenhum tema mais profundo. A ideia é aproveitar, desfrutar e adoramos isso, somos hedonistas. Tudo é harmonia e concórdia até surgir uma diferença. Dali em adiante, podemos acreditar que até somos inimigos", afirmou.

Na terça-feira, os venezuelanos presenciaram decisão atípica na Assembleia Nacional em prol da Vinotinto. Palco recente de agressões entre deputados governistas e opositores, os parlamentares decidiram deixar para a próxima semana a discussão do projeto de lei de Bosques e Gestão Florestal que estava na pauta do dia para acompanhar o jogo da seleção.

A família de Carolina Vásquez também foi contaminada pela "febre vinotinto". Vez ou outra ela vai ao estádio ver de perto a seleção acompanhada da filha, que é jogadora da seleção de futebol feminino da Universidade Central da Venezuela e da seleção do Distrito Capital.

Ela e a filha põem de lado posturas ideológicas antagônicas para assistir aos jogos juntas. "O acordo é: aqui não se fala de política", comenta Carolina. Por enquanto, a estratégia tem funcionado.

No estádio de Cachamay, no Estado de Puerto La Cruz, uma grande bandeira estampava uma frase que acompanhava o sentimento de boa parte dos venezuelanos na noite jogo: "paixão que une a todos".

Acostumado a cobrir as diferentes manifestações políticas da Venezuela do ex-presidente Hugo Chávez, morto em março, o fotógrafo Carlos Garcia Rawlins diz que em dia de jogo as bandeiras políticas ficam do lado de fora do estádio e cresce um sentimento nacionalista.

"É impossível dizer quem é quem aqui. Todos torcem pela Venezuela, contra quem for, diferente do que acontece no campo político", afirmou à BBC Brasil, enquanto aguardava o início do jogo. "Em dia de jogo não importa se o patrocinador é a PDVSA (estatal petroleira) ou a Polar (gigante da indústria alimentar, vista como opositora ao governo)", acrescentou.

Tensão fora de campo

Fora do campo, o clima de tensão política continua depois do apito final. Nesta semana, Maduro anunciou a captura de dois grupos paramilitares colombianos que teriam como objetivo assassiná-lo e promover atentados terroristas em Caracas. Segundo Maduro, os paramilitares estariam vinculados à ultradireita venezuelana. Opositores rejeitam as acusações.

A auditoria dos votos das eleições presidenciais de 14 de abril realizada pelo Conselho Nacional Eleitoral - um dos pontos de discórdia com a oposição - revelou que houve "erro zero" na contagem dos votos, ao apontar uma coincidência de 99,98% entre as cédulas depositadas nas urnas e os votos eletrônicos registrados naquele dia.

Nicolás Maduro venceu a eleição com uma diferença de 1,5% dos votos, pouco mais de 220 mil votos. Henrique Capriles não reconhece o governo de Maduro e qualificou a auditoria e o sistema eleitoral como uma "farsa".

Ao mesmo tempo em que diz não acreditar na idoneidade do CNE, Capriles insiste em convocar seus simpatizantes a participar das eleições municipais marcadas para dezembro.

"Temos que participar nas eleições para prefeitos, faremos delas uma eleição nacional, vamos lutar", afirmou.

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