Motéis viram opção de hospedagem para turistas na Copa
Com o aumento da demanda por hospedagem em Porto Alegre, quartos que antes eram utilizados apenas para momentos de prazer agora são opções para estadas bem-comportadas. Diferentes motéis da capital gaúcha se preparam para receber hóspedes que têm a intenção de passar mais do que algumas horas nos quartos. Para atender à demanda, os proprietários estão adaptando os dormitórios para receber hóspedes no período da Copa: investiram na infraestrutura dos apartamentos e inseriram novos preços de diárias. Entretanto, em alguns casos, os turistas poderão se hospedar em apartamentos mais ousados, com direito a espelhos, camas redondas e pistas de dança.
Para que seja possível que os motéis recebam turistas durante a Copa, o Ministério do Turismo concedeu uma autorização provisória aos estabelecimentos. Isso porque eles não são considerados meios de hospedagem, segundo a legislação brasileira.
Gilberto Dionisi é diretor do Grupo Hoteleiro Verdes Pássaros e proprietário de quatro motéis da empresa, que ficam na Região Metropolitana de Porto Alegre. O empresário explica que a utilização dos motéis para hospedagem é frequente, principalmente durante grandes eventos na cidade.
Segundo Dionisi, os motéis do grupo têm funcionários preparados para receber hóspedes estrangeiros e oferecem café da manhã. Os apartamentos destinados aos turistas são diferenciados dos tradicionais – têm pouca decoração e não contam com espelhos ou camas redondas. Além disso, na nota fiscal, o estabelecimento leva a denominação de hotel – para evitar eventuais problemas aos hóspedes.
Um dos motéis do grupo localizado no centro de Porto Alegre conta com 48 quartos, sendo que 36 estão reservados para a Copa. Os outros 12 não estão locados: estão reservados para uso exclusivamente como motel. A procura por vagas é tão grande que o valor de uma diária entre junho e julho é de R$ 400 – contra os R$ 135 aplicados no mês de agosto, por exemplo.
As hospedagens tentam ser bem próximas a de um hotel convencional. O empreendimento tem parceria com agências de viagem e com sites de busca, como Decolar.com e Booking.com, que possibilitam a realização de reservas sem que o cliente saiba que o local também funciona como motel. Além disso, o café da manhã para os visitantes da Copa do Mundo será servido em um salão. Até mesmo crianças poderão ficar hospedadas junto aos pais.
A governanta Dione Ostello conta que, na hora de fazer o check-in, os hóspedes são informados de que o estabelecimento também funciona como motel. “Para ter credibilidade, devemos ser honestos”, diz.
Apesar de muitas hospedarias fazerem mudanças, também há aqueles que optam pela ousadia dos ambientes. Em outro motel da capital gaúcha, turistas que se hospedarem no local podem escolher diferentes quartos, que possuem pista de dança, luz negra, espelhos e cadeira erótica.
O proprietário e gerente do estabelecimento, Marco Antônio Bascuas Dominguez, diz que não foram feitas modificações nos apartamentos, pois os clientes consideram os quartos interessantes e até mesmo mais aconchegantes do que os quartos de hotéis. “A infraestrutura é a mesma, não tem necessidade de mudar”, justifica.
No final de maio, os preços do motel variavam de acordo com o período e a categoria dos apartamentos. Um pernoite sexta, sábado ou vésperas de feriado, por exemplo, podia custar de R$ 95 a R$ 330, dependendo do quarto escolhido.
Dominguez explica que, apesar de não se preocupar com a reforma das instalações, os funcionários estão fazendo cursos básicos de inglês para receber os turistas, e a tabela de preços sofrerá modificações em breve.
O incentivo à inclusão de novas hospedagens durante o mundial parte da Associação Brasileira de Motéis (Abmotéis). Rafael Vasquez, presidente da associação, diz que o mercado moteleiro evoluiu, pois não há mais letreiros de neon intermitente, paredes vermelhas, carpetes e camas redondas, que estão sendo trocadas por modelos com traços retos.
“As transformações nos motéis de todo o País incentivarão e regulamentarão que mais hóspedes escolham ficar nesses estabelecimentos”, afirma.
Segundo ele, a Abmotéis sugere que os estabelecimentos tenham opções de hospedagem fracionada por horas, além de criarem uma tabela de preços para hospedagem de 12 ou 24 horas. “No caso de diárias de 24 horas, eles teriam que registrar os clientes como em um check-in tradicional de hotel e servir café da manhã. A ideia é regulamentar o que já vem acontecendo atualmente”, explica o presidente.
Vasquez também esclarece que o cadastramento dos motéis como meio de hospedagem é facultativo. “Uma grande parte deles está em sintonia com essa nova meta e tem aproveitado a fase de crescimento da economia brasileira, além das oportunidades que virão com os megaeventos esportivos”. De acordo com a Abmotéis, a estimativa é de que a Copa aumente cerca de 20% a economia da rede moteleira no País.
Material produzido sob a supervisão da professora Anelise Zanoni