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Terra na Copa

RS: removidos por causa da Copa ganham transmissão de jogos

Na Vila Tronco, onde famílias foram removidas com a justificativa de realizar o Mundial, shows e jogos do Brasil entretêm moradores

30 jun 2014 - 18h01
(atualizado às 18h22)
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Dos que resistiram às remoções ou não tiveram suas casas ameaçadas, poucos trocaram o conforto do lar para assistir, debaixo de muita chuva, ao difícil embate das seleções sul-americanas nos telões montados pela prefeitura
Dos que resistiram às remoções ou não tiveram suas casas ameaçadas, poucos trocaram o conforto do lar para assistir, debaixo de muita chuva, ao difícil embate das seleções sul-americanas nos telões montados pela prefeitura
Foto: Karine Dalla Valle / Unisinos

Nos muros da Associação de Moradores e Amigos da Vila Tronco, na zona sul de Porto Alegre, há sinais de que a Copa do Mundo não passará em branco. “Welcome”, “welkom” e “bienvenido” dizem os grafites em verde e amarelo. A poucos metros dali, escombros denunciam que famílias foram retiradas e suas casas, demolidas – consequência da obra de duplicação da avenida Moab Caldas, inicialmente tida como fundamental para a realização do Mundial na capital gaúcha.

Mas é nos canteiros da nova avenida que a contradição é oficializada. No último sábado, o projeto Viva a Copa em Porto Alegre ofereceu shows de artistas locais e fez a transmissão do jogo entre Brasil e Chile, um simulacro da Fifa Fan Fest para moradores das periferias. Dos que resistiram às remoções ou não tiveram suas casas ameaçadas, poucos trocaram o conforto do lar para assistir, debaixo de muita chuva, ao difícil embate das seleções sul-americanas nos telões montados pela prefeitura.

A iniciativa é vista com desconfiança e entusiasmo entre moradores e pessoas que frequentam a região. “Já conversei com várias pessoas da comunidade que não querem ir para a Fan Fest por medo de preconceito”, diz Claudia Favaro, arquiteta urbanista integrante do Comitê Popular da Copa em Porto Alegre, organização que avalia os impactos sociais da realização do campeonato na capital gaúcha.

Para o Comitê, diferentemente do que alegou a prefeitura, a obra de duplicação não é necessária para desafogar o trânsito da zona sul, cuja demanda de carros é cada vez maior. Em função disso, a obra foi retirada da Matriz de Responsabilidade da Copa e segue atrasada, principalmente por causa da insistência de alguns moradores em não sair de suas casas.

Embora questione a necessidade de duplicação da Moab Caldas, que ameaça cerca de 1500 famílias, e lute pelo reassentamento digno das 708 que já foram removidas, Claudia acredita que a transmissão de jogos do Brasil na Vila Tronco é uma forma de incluir as classes sociais mais baixas na Copa do Mundo. 

“É uma contradição muito forte para as famílias removidas, mas uma oportunidade para os comerciantes lucrarem.”

Exemplo de quem procurou levantar dinheiro com os shows e as transmissões de jogos no canteiro da Tronco é a comerciante Noraci De Conto, 64 anos. Cinco horas antes de o Brasil enfrentar o Chile, montou um toldo próximo aos telões para vender bebidas. Só não conseguiu oferecer churrasquinho, como no dia do jogo contra o México, porque o tempo chuvoso não colaborou. “É legal isso aí. Tava na hora da prefeitura botar divertimento pra gente”, disse.

Protegida pelo toldo de Noraci, Valquíria Araújo Silva, 40 anos, comemorava o gol de David Luiz nos primeiros minutos do jogo. Ao falar do projeto, a moradora da Tronco se valeu de adjetivos positivos. “Maravilhoso. Os shows também foram muito bons.”

Ameaçado pela duplicação, José Araújo, 74 anos, se recusa a frequentar a festa promovida pela prefeitura. É um dos moradores que resistiram às remoções e hoje faz parte do Comitê Popular da Copa. “Como a prefeitura sabe que futebol é paixão nacional, monta essa estrutura fajuta, atira esse pãozinho de mel pra ver se as famílias reconsideram e cedem às remoções. É um absurdo, não vou participar. É só mais uma maneira de tentar conquistar aqueles que estão resistindo”, disse o líder da comunidade, que há 41 anos vive no local.

Além da Cruzeiro, as comunidades da Restinga, Bom Jesus, Rubem Berta e Lomba do Pinheiro também recebem o projeto Viva a Copa em Porto Alegre. Se o Brasil vencer no jogo contra a Colômbia, a próxima transmissão na Vila Tronco deverá acontecer no dia 8 ou 9 de julho.

Supervisão: professora Anelise Zanoni.

Unisinos Universidade do Vale do Rio dos Sinos
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