Suspeito de liderar máfia de ingressos na Copa é solto no RJ
Raymond Whelan é CEO da Match, empresa associada à Fifa e que trabalha com venda de pacotes e até reserva de hotéis para a entidade no Brasil
O inglês Raymond Whelan, preso na tarde dessa segunda-feira por suspeita de fornecer entradas para a máfia que fazia cambismo com ingressos da Copa do Mundo, foi liberado na madrugada desta terça-feira.
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Whelan conseguiu um habeas corpus e deixou o 18º DP (Praça da Bandeira), na nona norte do Rio de Janeiro, aproximadamente às 4h40, depois de pagar fiança de R$ 5 mil, determinada pela Justiça do Rio. Na decisão que ordenou a soltura dele, dada durante o plantão judiciário na madrugada desta terça, a desembargadora Marilia de Castro Neves Vieira, do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), decidiu, ainda, que Whelan deveria entregar seu passaporte à Justiça e se apresentar quinzenalmente em cartório no Rio. O europeu é CEO da Match, empresa associada à Fifa e que trabalha com venda de pacotes e até reserva de hotéis para a entidade no Brasil.
A desembargadora entendeu pela soltura do diretor da Match porque acredita que a prisão dele não atendeu ao princípio da proporcionalidade e porque não viu razão para a detenção dele. "Ora, havendo já a autoridade policial apreendido celulares, computador pessoal, ingressos e documentos que estavam em poder do acusado, não vislumbro a necessidade da manutenção da medida restritiva, razão pela qual a revogo liminarmente", disse a magistrada na decisão.
A Polícia Civil do Rio informou que será marcada uma data para que o britânico preste depoimento e que ele continua respondendo pelo crime em liberdade.
Entenda o caso
De acordo com investigações da polícia reveladas nessa segunda, Raymond Whelan será indiciado como fornecedor de ingressos para o argelino Lamine Fofana, preso no Rio de Janeiro e apontado como o responsável por administrar o esquema da venda ilegal de bilhetes. Desde 20 de junho, houve cerca de 900 ligações de Whelan a Fofana. Nas gravações, ingressos para a final eram negociados por US$ 14 mil.
Junto ao argelino, outras 11 pessoas foram presas com auxílio de interceptação de conversas telefônicas. Isso teria levado os policiais a Ray Whelan.
Ele seria, portanto, o responsável por conseguir as entradas para revenda, muitas delas em locais muito visados como camarotes. Whelan não é funcionário da Fifa, mas tem atuação ligada à entidade, já que a Match negocia pacotes e credenciou hotéis para a Copa do Mundo. Phillip Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, é um dos acionistas.
“Esse era o nome que aparecia nas conversas”, disse uma fonte na Polícia Civil na condição de anonimato. O diretor da Match, a agência de viagens oficial da Fifa, teve a prisão temporária decretada pela Justiça a pedido da polícia, que temia que ele poderia tentar deixar o País. Whelan foi levado à 18ª Delegacia de Polícia para ser interrogado.
Em conversa informal com o delegado Fábio Baruck, Raymond diz que tem um contrato de compra de ingressos com Lamine Fofana, registrado em maio de 2013, e que não possui nenhuma irregularidade. Apesar das mais de 900 ligações interceptadas pela polícia entre eles, o inglês negou que estaria negociando ingressos para a Copa que está sendo realizada no País.
O inspetor Vicente Barros, da 18ª DP, afirmou que Whelan estava na área comum do hotel quando foi abordado pelo promotor Marcos Kac. Foram, então, juntos ao 5° andar, onde estava hospedado. Foi encontrado com ele cerca de cem ingressos para a Copa do Mundo, além de mil dólares em dinheiro. Ele não reagiu à prisão e afirmou ser inocente. Whelan está morando no Brasil há dois anos, embora não saiba falar português.
Na semana passada, a polícia havia informado que as investigações apontavam que ele tinha acesso ao quartel-general da entidade no hotel de luxo na zona sul do Rio de Janeiro, usava um cartão de estacionamento da Fifa para ter acesso a estádios e áreas reservadas. Teria ainda contatos dentro da entidade que lhe permitiam obter ingressos para serem negociados.
Após a execução da Operação Jules Rimet, com a prisão dos envolvidos no escândalo, a Fifa prometeu contribuir com as investigações e declarou ser improvável a participação de alguém ligado à entidade. O esquema de cambismo envolvia cifras milionárias e era planejado e executado há muitos meses. De acordo com a polícia, há possibilidade de que a operação tenha uma segunda etapa.
Após a prisão, a Fifa divulgou uma nota de esclarecimento, afirmando que continua colaborando plenamente com as autoridades locais e fornecerá todos os detalhes solicitados para auxiliar nesta investigação em andamento.