Técnicos de França e Inglaterra chegam prestigiados para o duelo da Copa do Mundo
Dependerá somente de Didier Deschamps e Gareth Southgate a permanência nas suas seleções após o Mundial
O currículo entre eles pode ser até diferente, mas os técnicos Didier Deschamps e Gareth Southgate, de França e Inglaterra, respectivamente, possuem as suas semelhanças. A principal delas é a forma com que chegam às quartas de final da Copa do Mundo, prestigiados pelas suas Federações. Mesmo com a moral, ambos não possuem os seus futuros definidos após a competição. A decisão de seguir, ou não, inclusive, será dos próprios profissionais.
No caso de Deschamps, a sensação pode ser de fim de um ciclo, já que ele dirigiu os franceses no título mundial há quatro anos, na Rússia, e pode repetir o feito no Qatar neste ano. Se isso acontecer, além da marca do tricampeonato, a França será a primeira seleção europeia a vencer a Copa do Mundo duas vezes seguidas em 84 anos - a única até aqui foi a Itália, em 1934 e 1938.
Por outro lado, Didier Deschamps tem a sombra de Zinédine Zidane. Um dos maiores ídolos do futebol francês já se provou como treinador em duas passagens de sucesso pelo Real Madrid, da Espanha, entre 2016 e 2019. Pelos merengues, Zizou conquistou a Liga dos Campeões três vezes, além de outros títulos como o Espanhol, a Supercopa da Espanha, a Supercopa Europeia e o Mundial de Clubes.
Porém, nesta terça, Noël Le Graët, presidente da FFF, disse ao periódico Fígaro que jamais ligou para Zidane e que, se depender dele, é Deschamps quem seguirá à frente dos Bleus.
- Nunca liguei para Zidane na minha vida, ao contrário do que alguns sugerem. Teria sido incorreto da minha parte. Ninguém ao meu redor o chamou por mim em qualquer caso - disse o presidente.
Essa não é a primeira vez que Zidane assombra o cargo de Didier Deschamps. Em março de 2018, três meses antes da disputa da Copa do Mundo da Rússia, o ex-meio-campista pediu demissão do comando técnico do Real Madrid em uma entrevista coletiva que pegou o mundo de surpresa. A ação abriu margem para a possibilidade de Zinédine assumir os Bleus após o Mundial, já que Deschamps vivia sob desconfiança pela derrota em casa na final da Eurocopa de 2016 para Portugal.
Porém, o título mundial conquistado pelos franceses em Moscou mudou a configuração de Deschamps no comando da seleção, fazendo com que ele permanecesse no cargo por mais um ciclo de Copa do Mundo. Zidane, por sua vez, voltou ao Real Madrid menos de um ano após a sua saída e dirigiu os merengues por mais duas temporadas. Ele deixou o clube espanhol novamente no meio do ano passado e, desde então, está livre no mercado.
A trajetória de Deschamps pode ser comparada com a de Gareth Southgate, técnico da seleção inglesa, exceto a parte do estrelado. Se o francês já se provou, o britânico só bateu na trave até agora. Já são mais de seis anos no comando da Inglaterra, com campanhas de destaque, mas o grito de 'é campeão' segue entalado na garganta.
Ainda assim, ter chegado longe nas competições em que dirigiu o English Team acabou valorizando o técnico, o que fez com que a Associação de Futebol da Inglaterra (FA) tenha decidido pela permanência de Southgate no comando da seleção pelo menos até a próxima Euro, que será disputada em 2024, na Alemanha.
O bom desempenho da seleção inglesa nesta Copa do Mundo também tem contribuído com o prestígio de Southgate entre os cartolas ingleses. Mesmo nunca tendo sofrido grandes ameaças no cargo, o técnico nunca teve a mesma popularidade com os torcedores. O seu estilo sempre foi considerado mais conservador, mas neste Mundial o futebol da Inglaterra tem agradado a população, com o time chegando às quartas de final com o melhor ataque do torneio, com 12 gols marcados - média de 2,4 por jogo.
Em comum, Deschamps e Southgate conseguiram resultados melhores que os seus antecessores no comando das seleções.
Didier assumiu a França em 2012, após os Bleus caírem nas quartas de final da Euro naquele ano. No Mundial de 2010, a decepção foi ainda maior: queda na fase de grupos. Com jovens talentos e grandes estrelas à disposição, Deschamps começou a construir a base do time que atingiu o ápice em 2018. Antes do título mundial na Rússia, os Bleus, já com Lloris, Varane, Pogba e Griezmann, caíram na Copa do Brasil nas quartas, diante da campeã Alemanha, e foram vice-campeões na Euro 2016, para Portugal.
Já Southgate assumiu o comando inglês às pressas em 2016 após o então treinador Sam Allardyce pedir demissão do cargo após 67 dias. Allardyce foi flagrado em uma investigação do jornal 'The Telegraph' se comprometendo a ajudar uma empresa fictícia a burlar regras sobre transferências de jogadores no país.
Gareth era treinador do time sub-21 da Inglaterra, assumiu a seleção principal de forma interina até o fim de 2016 e foi efetivado após ter agradado nas quatro partidas que esteve à frente do English Team. Com ele, os ingleses chegaram a uma semifinal de Copa depois de 28 anos e a uma decisão de Euro pela primeira vez na história.
A trajetória de Didier Deschamps e Gareth Southgate como jogadores pode ser comparada com a carreira deles como treinadores até aqui. Se o francês teve o êxito de ser capitão do primeiro título mundial do seu país, em 1998, o inglês vive com a mancha de ter perdido um dos pênaltis mais dolorosos da história na disputa contra a Alemanha na semifinal da Euro de 1996.
Caberá a Southgate mudar a sua sina pessoal, junto com o seu grupo de atletas nesta edição do Mundial. Para isso, ele terá que passar por cima de Didier Deschamps e toda a seleção francesa, que não só vem com o status de atual campeã, como é uma das favoritas a vencer novamente o torneio. O duelo pelas quartas de final da Copa do Mundo acontecerá neste sábado (10), às 16h (horário de Brasília), no estádio Al Bayt, em Al-Khor, no Qatar.