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Copa América

Chile 1 x 0 Uruguai: muito além da tal mão boba no Cavani

A experiência de uma partida histórica para os chilenos diretamente das arquibancadas do estádio Nacional

25 jun 2015 - 10h27
(atualizado às 11h20)
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Você, brasileiro, pode não estar muito empolgado, sua vida segue firme e forte (ou aos trancos e barrancos), mas para os chilenos esta quinta-feira é um dia muito, mas muito especial. Só quem está rodeado pelos Andes sabe da importância que foi a vitória de quarta-feira do Chile por 1 a 0 diante do Uruguai, e sente o sabor de uma vaga na semifinal da Copa América – algo que não acontecia desde 1999.

Para uma nação apaixonada pelo futebol, mas que nunca ganhou nada, nadica de nada (a maior conquista chilena foi o terceiro lugar na Copa de 1962), o sentimento é de classificação para uma semi de Copa do Mundo – e a impressão é de que o dia de trabalho hoje vai ser difícil, de ressaca. Principalmente para os 45 mil torcedores que estiveram no estádio Nacional e viram um jogo tenso, uma dedada, duas expulsões e um gol salvador de Isla, aos 38min do segundo tempo.

Fui um desses privilegiados. Mas sem credencial de imprensa – até pelo fato de não a possuir, já que a Conmebol limita o número de profissionais por veículo. Consegui um ingresso mesmo. Fui na arquibancada, atrás do gol, e, como se diz por essas bandas, “me cagué de frio” o jogo inteiro. Alguns podem dizer que jogo de futebol é jogo de futebol, mas estar num estádio fora do Brasil é, sim, uma experiência antropológica – em que, automaticamente, você faz comparativos com sua terra natal.

Bandeira chilena na arquibancada no momento do hino nacional, cantado à capela
Bandeira chilena na arquibancada no momento do hino nacional, cantado à capela
Foto: André Naddeo / Terra

Por exemplo: alguém imagina que para entrar no estádio, no Brasil, você precisaria mostrar a sua identidade? Que eles pegam o seu nome, registram o número do seu documento, mesmo se no seu ingresso não consta nenhuma informação pessoal? No Chile, nesta Copa América, é assim. Perguntei para a minha amiga, fanática pela Universidad Católica, se esse trâmite era comum nos estádios chilenos e a resposta foi positiva.

Toda a expectativa pelo inédito título da Copa América faz com que você tenha ainda outro cuidado para assistir a uma partida de La Roja: é preciso chegar cedo, meu amigo. Se não, vai sentar no muro de arquibancada, sem cadeira. Cimento gelado, não se esqueça. Chegamos algo como 1h30 antes da partida começar. E antes que qualquer um pergunte, não, não se vende cerveja. Aliás, é proibido beber em locais públicos no Chile – sabe o Lollapalooza, o festival? Pois então, não se pode beber álcool também. Mas enfim, o assunto é futebol.

“Você se incomoda em pular uma cadeira para que a gente possa sentar aqui no canto”, perguntei, com meu sotaque, claro, para um garoto que tinha, ao lado do pai, um assento livre a sua direita, que junto do outro da esquina da arquibancada, nos caberia perfeitamente. O garoto fez uma cara de ‘não sei o que fazer’, e perguntou: “mas aqui é só torcida do Chile”. “Hoje estou pelo Chile, não se preocupe, não está vendo que os uruguaios estão lá embaixo”, respondi. Ele sorriu, empurrou o pai para o lado e ainda mandou: “quero ver, hein”.

Panorâmica do estádio Nacional: 45 mil torcedores chilenos apoiando La Roja
Panorâmica do estádio Nacional: 45 mil torcedores chilenos apoiando La Roja
Foto: André Naddeo / Terra

Não que eu tenha gritado algo, mas me impressionei de saber que a campanha de respeito ao hino da nação adversária, na qual todos levantam um cartão verde com a cara do Bravo, capitão e goleiro da seleção chilena, realmente funcionou. “Xiiiiuuu”, ouvia-se enquanto entoava o canto uruguaio. “Viu como nós somos respeitosos aqui”, disse a minha amiga. Respeitosos até demais: os chilenos veem a maior parte da partida sentados – após cantarem o hino nacional à capela, baita cena, daquelas que se guarda na memória e que lembra Copa das Confederações e o momento dos protestos no Brasil em 2013.

Mas voltando ao assunto: impossível pensar que num jogo nervoso como esse, valendo vaga em semifinal, se pode ver sentado, tranquilo, num frio do cão. Aliás, o café quentinho do vendedor pela bagatela de mil pesos chilenos (R$ 5) foi uma benção para quem esqueceu de levar as luvas.

Outras duas curiosidades que antecederam o início da partida: no momento do anúncio da escalação do Uruguai, a cada nome citado  pelo sistema de som, em uníssono, os chilenos gritam: “concha de tu madre”. Dá um Google aí porque eu não posso traduzir aqui nesta reportagem. Depois, ficam gritando: “sale, sale, sale, Chileeeee” (saia, saia, saia, Chile), esperando o time entrar em campo.

Anoitecer em Santiago: o prenúncio da noite que seria inesquecível para a nação chilena
Anoitecer em Santiago: o prenúncio da noite que seria inesquecível para a nação chilena
Foto: André Naddeo / Terra

Aliás, para quem pensa que eles só sabem cantar o básico “Chi, Chi, Chi, Le, Le, Le, Viva, Chile”, está enganado. Cantam várias outras músicas – a que eu mais gostei foi para zuar o pequeno grupo de uruguaios que estava no estádio Nacional. “Ohhhh son una verguenza, uruguayos son 50”(são uma vergonha, os uruguaios são 50) que no canto fica muito legal, acreditem.

Outro “clássico” é a espera pelo goleiro adversário bater o tiro de meta. Enquanto Muslera demorava um século, a vaia crescia, crescia, crescia até o chute que vinha acompanhado: “puto!”. O jogo todo foi assim. Outra coisa que chama atenção: a todo momento se ouve o “Chi, Chi, Chi”, mas isso não quer dizer que é uniforme. Alguns cantam antes, outros no meio, e em vários momentos se percebe que a bagaça é meio desafinada, digamos assim.

No mais, vi um jogo pegado, nervoso e uma explosão vermelha, com muitos em lágrimas, quando Isla aproveitando importante passe de Valdívia, enfim, conseguiu furar o bloqueio uruguaio. Linda festa. Longe, e sem o replay no telão, não vi nenhuma mão boba do Jara no Cavani. Mas me pareceu, sim, o lance capital da partida com sua expulsão. Só depois viriam os fantásticos memes.

Fonte: Terra
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