Ex-carrasco da Seleção conta segredo e diz por que não quis jogar no Brasil
Jared Borgetti, 39 anos, tem guardado na memória o retrospecto contra a Seleção Brasileira: cinco jogos, três vitórias, um empate, uma derrota. Foram três gols feitos, justamente em partidas definidas por 1 a 0 a favor do México. Resultados que, conforme afirma o ex-centroavante em entrevista exclusiva ao Terra, dão confiança e uma “ligeira vantagem” psicológica para a equipe tricolor quando enfrenta a verde e amarela.
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Nesta quarta-feira, a partir das 16h (de Brasília), no Estádio Castelão, o México colocará à prova o bom retrospecto recente contra o Brasil. Nos últimos 13 encontros entre os times, o mexicano venceu oito, empatou dois e perdeu três. A lista computa também a final dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, com a maioria dos jogadores de idade Sub-23 – foi o último jogo entre as duas seleções.
A partida em Fortaleza, válida pela segunda rodada do Grupo A da Copa das Confederações, opõe duas equipes em momentos igualmente ruins, segundo Borgetti. O ex-jogador, que está no Brasil comentando o torneio para a rede mexicana ESPN, lembra que o seu país não vive um bom momento nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014: empatou sem gols todos os três jogos disputados em casa pelo hexagonal final da Concacaf.
Momento distinto de quando a seleção podia contar com Borgetti e se classificava com mais facilidade ao Mundial, chegando às oitavas de final em 2002 e 2006. Embora não fosse um primor tecnicamente, o centroavante tinha presença de área e era forte especialmente pelo alto – o preparo na bola parada era o principal segredo para bater o Brasil.
Com 46 gols, o jogador é o maior artilheiro da história da seleção mexicana. Tentos que despertaram a atenção de São Paulo e Santos. Borgetti conta que os clubes tentaram contratá-lo depois da Copa das Confederações de 2005, mas ele não quis abrir negociações pois o Campeonato Brasileiro “não tinha dinheiro”. Se as propostas ocorressem hoje, com mais investimentos e Seedorf e Alexandre Pato atuando nos gramados nacionais, a história poderia ser diferente.
Confira a entrevista com Jared Borgetti:
Terra: Você sempre teve muita sorte com o Brasil. Lembra-se de cabeça quantos gols marcou na Seleção?
Jared Borgetti: Tive sorte? Por que sorte? Tive boas partidas, poderia dizer. Bons encontros que foram interessantes. Em meu historial contra o Brasil joguei cinco partidas: tenho três ganhas, uma empatada e uma perdida, com três gols a favor. Nos três (jogos em) que marquei, ganhei por 1 a 0 com o gol meu: Copa América de 2011, Copa Ouro de 2004 e Copa das Confederações de 2005. São boas recordações (sorri). Isso me deixa tranquilo porque marcar no Brasil e poder ganhar do Brasil com um gol seu é uma boa recordação pessoal, não?
Terra: Dessas vitórias, há algum jogo que tenha sido mais especial?
Jared Borgetti: Sim, sem dúvida o da Copa das Confederações de 2005, na Alemanha. Porque no primeiro tempo me toca bater um pênalti. Marco, o árbitro manda repetir e erro; volta a repetir e erro de novo. E no segundo tempo me toca anotar o gol que nos dá o triunfo. Obviamente que era para festejar mais, porque, depois de ter a oportunidade e falhar, a partida lhe dá outra chance e nessa ocasião consegui marcar o gol que nos dá o triunfo.
Terra: Aquele gol foi de cabeça em uma cobrança de escanteio. A bola aérea era uma jogada que sempre dava resultados para o México contra o Brasil, né?
Jared Borgetti: Veja que nesse momento tínhamos uma tática muito boa e fixa de bola parada, com movimentos dentro da área. O cruzamento não ia para ver quem ganhava (pelo alto) - ia a um lugar e alguém ia aparecer ali. Quando você joga com esses tipos de coisa é provável que dê certo. Quem defende tem que estar muito tento, e demos conta de que o Brrasil nisso sofre – também perde um Mundial contra a França sofrendo um gol de cabeça (eliminação nas quartas de final da Copa do Mundo de 2006). São detalhezinhos que às vezes as equipes não trabalham e têm de trabalhar porque percebemos que ganham não somente jogos, mas também Campeonatos do Mundo.
Terra: Vocês conseguiram algumas vitórias sobre o Brasil e desde então o retrospecto recente tornou-se positivo para o México. As vitórias daquela época fizeram os mexicanos perderem o respeito contra os brasileiros?
Jared Borgetti: Creio que as partidas pouco a pouco foram se fazendo interessantes contra o Brasil. Ganhamos, e isso nos deu confiança. Não significa que sejamos melhores que o Brasil; significa que quando enfrentamos o Brasil há uma motivação extra, ganhar do Brasil representa algo importante. Creio que temos essa confiança que nos dá os últimos resultados, que mostram que temos mais vitórias que o Brasil nos últimos dez jogos. Isso dá confiança, você já pensa que o rival obviamente dá mais importância ao México, e se joga com esse handicap de momento. Nisso creio que o México tem uma ligeira vantagem, porque futebolisticamente claro que não, em jogadores não. Mas no ambiente e no estado de ânimo creio que o México pode estar por cima.
Terra: E para a Copa das Confederações de 2013, como você vê os dois times?
Jared Borgetti: Estamos iguais o Brasil e o México (sorri). Nem o México está bem nas Eliminatórias, e o Brasil também passa por um momento difícil. É o anfitrião (da Copa do Mundo de 2014), mas creio que seja um momento difícil. Penso que esta Copa (das Confederações) vá servir muito para a Seleção e sobretudo para a torcida brasileira saber que alcance pode ter sua equipe no Mundial.
Terra: Você teve uma carreira de sucesso no México, mas pouco jogou fora do país. Gostaria de ter tido uma experiência maior na Europa?
Jared Borgetti: Joguei na Europa na Inglaterra, no Bolton (em 2005/2006). O que acontece é que no México a liga é forte e bem paga. E há muitas ligas na Europa que não pagam tão bem. Você joga também por dinheiro, tem de buscar onde pode ganhar, e no México para mim foi tudo muito bem. Sou o máximo goleador da seleção e o terceiro jogador na historia do futebol mexicano que mais gols tem. Então tenho conquistas. Gostaria de ter jogado mais tempo na Europa? Sim. De ter ido muito antes? Sim. Também tive a oportunidade em 2002, porem o que ofereciam era nada, então “não obrigado”. Melhor ficar onde pagam mais, porque o tempo do jogador é curto e se não aproveita “pfff”, acabou. Tem de buscar outra coisa.
Terra: Houve também especulações que o ligaram ao futebol brasileiro. Foi do Santos, não?
Jared Borgetti: Sim, algo assim. Houve algumas aproximações com algumas equipes, mas eu pensei: “Brasil? O que vou fazer no Brasil? É de onde saem jogadores”. Foi depois da Copa das Confederações de 2005 - mais ou menos ali houve algumas aproximações. Creio que era o São Paulo. O Santos também estava interessado, porém disse a meus representantes: "não vou a ir aonde há milhares de jogadores". E à parte isso eu já tinha 33 anos, ou seja, “não tenho nada que demonstrar”. Minha carreira só iria para baixo, não me passava pela mente querer ir para outra parte. No México eu seguia tendo oportunidade, como também tive na MLS, nos Estados Unidos. Mas enquanto tivesse oportunidade no México estava bem.
Terra: É curioso que hoje o Campeonato Brasileiro vive uma situação diferente, não? O Seedorf veio para cá, o Alexandre Pato voltou, o Neymar permaneceu aqui muito mais tempo do que o esperado.
Jared Borgetti: O que acontece também é que o futebol brasileiro tem mas dinheiro, antes não tinha. Por isso muitos iam (embora). A primeira opção (para um mexicano) obviamente é a Europa e a segunda é o México. É uma realidade não por ser uma grande liga, mas porque paga e é segura. No continente americano creio que a liga que melhor paga e que é mais segura seja a mexicana - hoje a brasileira, não? Então nesse sentido se faz uma liga que paga bem e você fica aqui. Claro que o melhor é a Europa, mas quantas equipes pagam bem na Europa? Por país são duas. Na Alemanha dois ou três, na Espanha o Barcelona e o Real Madrid. Na Inglaterra melhora um pouquinho mais pela moeda (a libra) e tudo, mas também se gasta (muito), é caro (o custo de vida). Na França há o Paris (Saint-Germain) e o Mônaco, vai entrando gente que investe dinheiro, porém daí para fora... a Holanda tem dois (clubes), a Itália agora tem problemas. Hoje o futebol mundial tem problemas. Se eu jogasse agora obviamente ia querer jogar em grandes equipes, mas também ia querer ganhar. Porque você sabe que acaba rapidamente, que tem de ganhar dinheiro. E aí é onde já entra a maneira de pensar do jogador e do seu representante, para ver o que queremos.
Veja o retrospecto recente do confronto entre Brasil e México:
04/08/1999: México 4 x 3 Brasil - Azteca (Cidade do México)
07/03/2001: México 3 x 3 Brasil - Jalisco (Guadalajara, México)
12/07/2001: México 1 x 0 Brasil - Pascual Guerrero (Cali, Colômbia)
30/04/2003: México 0 x 0 Brasil - Jalisco (Guadalajara, México)
13/07/2003: México 1 x 0 Brasil - Azteca (Cidade do México)
27/07/2003: México 1 x 0 Brasil - Azteca (Cidade do México)
18/07/2004: Brasil 4 x 0 México - Miguel Grau (Piura, Peru)
19/06/2005: Brasil 0 x 1 México - Niedersachsenstadion (Hannover, Alemanha)
27/06/2007: Brasil 0 x 2 México - Polideportivo Cachamay (Puerto Ordaz, Venezuela)
12/09/2007: México 1 x 3 Brasil - Gillette Stadium (Boston, EUA)
11/10/2011: México 1 x 2 Brasil - Estádio Corona (Torreón, México)
03/06/2012: México 2 x 0 Brasil - Cowboys Stadium (Dallas, EUA)
10/08/2012: México 2 x 1 Brasil - Estádio Wembley (Londres, Inglaterra) *
* Final dos Jogos Olímpicos; atuaram equipes Sub-23 reforçadas por até três jogadores acima da idade-limite