Seleções no Recife vivem chuva, engarrafamento e greve cancelada
O primeiro dia de movimentação das seleções que participam da Copa das Confederações dá a impressão de que Pernambuco não fez o dever de casa para receber o megaevento. Mais que isso, é uma mostra para os jornalistas de todo o mundo e para os poucos turistas internacionais que estão por aqui de como o Recife foi uma cidade que cresceu e ainda não conseguiu superar as dificuldades que surgiram com o aumento da população e da renda de seus moradores.
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Chuvas em junho são um fenômeno absolutamente normal para a população recifense. A única coisa que é mais esperada pelos nordestinos nessa época é a fumaça e o cheiro de milho assado nas fogueiras da festa de São João. Mas o aumento da precipitação pluviométrica também lembra para o cidadão recifense os engarrafamentos, alagamentos, buracos nas estradas e de acidentes nos morros e barreiras (que diminuíram bastante nos últimos anos).
O Uruguai foi quem mais sofreu entre as seleções com a falta de estrutura nesta quinta-feira. O treino que havia sido planejado para o antigo Estádio do Arruda, do Santa Cruz, foi cancelado porque o campo encharcado não reunia condições. A ideia de transferir o treinamento para o Centro de Treinamento do Sport também acabou sendo abortada, quando integrantes da delegação viram que ônibus e veículos sem tração nas quatro rodas poderiam ter problemas para passar pela estrada de terra que dá acesso o CT (que fica na divisa entre Recife e Paulista).
A Espanha teve mais sorte. Passou o dia descansando no seu hotel, na Avenida Boa Viagem. Talvez não fosse possível ler as placas que alertam os visitantes do risco de ataques de tubarão, mas certamente Casillas, Valdés, Torres e Soldado terão oportunidade de ver uma manhã de sol na mais conhecida praia recifense. À tarde, batedores abriram caminho e os atletas chegaram em cerca de 40 minutos no Centro de Treinamento do Náutico. Atrás deles, a população perdia mais tempo que o normal no percurso, que normalmente já não é feito em menos de uma hora neste horário.
A decisão mais importante para os recifenses nesta quinta-feira, no entanto, aconteceu somente à noite em assembleia dos metroviários de Pernambuco, na Estação Central do Recife. Os trabalhadores decidiram cancelar a paralisação programada para amanhã e aceitar contraproposta feita pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) após várias rodadas de negociação. Os funcionários do Metrô do Recife vão receber um reajuste de 7,4% em seus salários, mais aumentos no valor do ticket alimentação e no reembolso do plano de saúde.
Uma pequena vitória para uma categoria que tem cerca de 1.540 trabalhadores, mas um alívio enorme para os milhões que se espremeriam em ônibus lotados e vias ainda mais engarrafadas nesta sexta-feira. Inevitável pensar que o acordo foi facilitado pelo fato de o governo federal não querer ver essas cenas de bagunça no noticiário internacional. Mas também é impossível deixar de pensar como erramos ao aceitar investimentos esdrúxulos feitos com as desculpas da Copa das Confederações.
Afinal, hoje ficou provado que até o melhor time do mundo acaba vivendo (à sua maneira, com batedores) a realidade por onde passa. Os protestos no Recife não foram nem perto do que se viveu no Rio e São Paulo, mas a realidade é tão dura e bela quanto a de antes do anúncio dos grandes eventos internacionais no Brasil.