'A final da Copa do Brasil é um choque de ideias boas', afirma Paulo Nunes
Ex-atacante de Palmeiras e Grêmio descarta favoritismo na decisão da Copa do Brasil e destaca as propostas diferentes dos dois adversários
O ex-atacante Paulo Nunes é um dos maiores especialistas quando se trata de Palmeiras e Grêmio. O atual comentarista de Esporte da TV Globo foi campeão da Copa do Brasil pelas duas equipes que neste domingo decidem a temporada 2020 da competição. Em entrevista exclusiva ao Estadão, o ex-jogador de 49 anos descarta favoritismo e prevê que a final seja uma partida interessante por apresentar dois modelos de jogo diferentes.
Para essa final entre Grêmio e Palmeiras, quem você considera favorito?
Não há favorito. Mesmo que o Palmeiras tenha conquistado um bom resultado no jogo de ida (vitória por 1 a 0), é um confronto que está aberto. O Grêmio é um time muito forte e tem total possibilidade de desfazer essa vantagem do Palmeiras. São duas equipes muito boas em jogos eliminatórios.
Depois de viver este clássico como jogador por tantas vezes dentro de campo, como é agora analisá-lo como comentarista?
Analisar um clássico como este friamente é um desafio. Eu vivi isso como jogador. Sei a dificuldade quando você não está no seu dia e a outra equipe está bem, e dentro de campo você percebe isso rapidamente. Como comentarista do Esporte da Globo, a diferença é grande. Tenho que analisar o comportamento tático das equipes e o individual dos jogadores. Fazer a leitura do que está acontecendo e passar ao torcedor a minha análise de forma clara.
De quais características você mais gosta em cada um desses times?
São duas formas de jogo completamente diferentes. É um choque de ideias boas. O Grêmio mudou as suas características. Hoje é um time que gosta de ter o controle do jogo, a posse de bola e de trocar de passes. É um jogo mais cadenciado. Já o Palmeiras tem uma construção muito ágil, a transição mais rápida do futebol brasileiro atualmente. A ideia do Abel Ferreira é essa. Jogo reativo, sem dar tempo de a defesa adversária se recompor.
Nos anos 1990, quando você jogou, Grêmio e Palmeiras tinham uma forte rivalidade. Você se lembra de algum episódio marcante disso?
Lembro de vários jogos decisivos de Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e Libertadores. Sempre eram muito intensos, disputados. Mas não tem como não lembrar da Libertadores de 1995. Do 5 a 0 para o Grêmio no jogo de ida, e do 5 a 1 para o Palmeiras na volta. Foram confrontos muito marcantes, que entraram para a história.
Você foi campeão do torneio pelo Grêmio e também pelo Palmeiras. O que ficou de mais marcante para você em cada uma dessas conquistas?
No Grêmio, especificamente, era um título que eu não tinha. Já havia vencido um Brasileiro, uma Libertadores e a Recopa. Então foi marcante por isso, até porque já havíamos batido na trave em 1995. Para completar, na conquista de 1997 fui o artilheiro da competição. No Palmeiras, ficou marcado por ser meu primeiro título pelo clube, que nunca havia vencido a competição. Eu vim para o Palmeiras sendo muito cobrado. Ser campeão logo nos primeiros meses de clube foi muito marcante.
Nesta final vamos ter o encontro de um treinador português e de um gaúcho. Para você, que jogou tanto no Rio Grande do Sul como no Benfica, por que há tantos técnicos gaúchos e portugueses com destaque no mercado?
A história mostra que os treinadores gaúchos são muito capacitados. Eles têm uma coisa que eu valorizo demais, que é se preocupar com as conquistas. Há muitos profissionais hoje no futebol que gostam muito do processo, da ideia de jogo e da posse de bola, deixando muitas vezes o resultado em segundo plano. Como jogador, sempre valorizei quem ganhou a taça. Porque é isso que conta na história. Já os portugueses se preocupam muito com a metodologia de trabalho.
O que foi mais surpreendente nesta temporada: a força do Palmeiras com um elenco de garotos ou a manutenção de um Grêmio tão competitivo?
O Renato apostou em jogadores experientes e despertou neles de novo a competitividade. Um exemplo é o Diego Souza, que é muito importante neste esquema tático do Grêmio. O Maicon reforça a característica do controle de jogo do meio de campo e ajuda a melhorar o rendimento do Matheus Henrique e do Jean Pyerre. Já no lado do Palmeiras, com certeza foi fundamental acreditar na base. O clube demorou muito a fazer isso, até porque tem poderio financeiro para investir em contratações, mas a temporada 2020 mostrou que foi uma estratégia excelente.
Jogar uma final desse porte sem torcida será um desafio? Ou todos já se acostumaram com essa situação?
Mesmo sem torcida é uma final, os jogadores têm que entender que precisam se entregar ao máximo. Geralmente a arquibancada eleva a sua potencialidade, faz você crescer, ficar acordado na partida. Pelo tamanho que os dois clubes têm, eles não podem se deixar levar pelo fato de o estádio estar vazio. A entrega e a intensidade precisam ser as mesmas de um estádio lotado. Um jogador profissional precisa ter este entendimento.