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Copa do Brasil

Impactados pela pandemia, semifinalistas da Copa do Brasil reforçam caixa com premiação alta

América-MG, Palmeiras, Grêmio e São Paulo usarão o dinheiro já assegurado de diferentes maneiras; campeão leva ao menos R$ 54 milhões

22 dez 2020 - 12h10
(atualizado em 23/12/2020 às 11h32)
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Em temporada em que a pandemia do novo coronavírus afetou as finanças de todos os clubes brasileiros e as principais equipes do País, que ganharam menos pelos contratos de televisão e ficaram sem bilheteria com a falta de público nos estádios, registraram receitas até 46% menores em relação a 2019, a premiação em dinheiro da Copa do Brasil chega como um alento. Vai ajudar, e muito, os quatro semifinalistas, especialmente o campeão. Com orçamentos e planos diferentes, América-MG, Palmeiras, Grêmio e São Paulo certamente vão festejar o dinheiro proveniente da competição.

A premiação da Copa do Brasil passou a ser ainda mais valorizada e virou sinônimo de alívio imediato às contas dos clubes. O torneio é o que mais distribui dinheiro aos times do País. Ao campeão, por exemplo, a CBF pagará R$ 54 milhões, R$ 2 milhões a mais do que o Athletico-PR recebeu no ano passado. Com cotas por fase, o montante ao vencedor pode chegar a R$ 72 milhões.

CBF vai pagar até R$ 72 milhões ao campeão da Copa do Brasil
CBF vai pagar até R$ 72 milhões ao campeão da Copa do Brasil
Foto: Reprodução/CBF_Futebol / Estadão

A CBF vem valorizando a Copa do Brasil a cada temporada. Para se ter uma ideia, em 2016, uma vaga nas oitavas de final rendia R$ 840 mil aos clubes. Hoje, este valor mais do que triplicou. Com isso, as equipes passaram a dar ainda mais importância para a competição. Os jogos de ida das semifinais acontecem nesta quarta-feira, às 21h30. O Grêmio recebe o São Paulo em Porto Alegre e o Palmeiras encara o América-MG no Allianz Parque. A volta será no dia 30, com a inversão dos mandos. Não há gol marcado fora de casa como critério de desempate.

Cada time semifinalista tem um plano para o dinheiro. Parte da premiação é usada como bônus para os atletas. Uma fatia serve para pagar despesas de manutenção, logística, fornecedores, impostos e folha salarial e também pode ser utilizada em contratações para a próxima temporada.

América-MG, o azarão na disputa, a um passo de ser clube-empresa

O América-MG destoa dos outros três semifinalistas por mais de um motivo. É o que tem o menor orçamento, de cerca de R$ 40 milhões/ano, segundo o superintendente geral do clube, Dower Araújo. É o único também que está na Série B do Campeonato Brasileiro e o único que disputa a competição desde o seu início, já que os outros três entraram direto nas oitavas de final por terem vaga na Libertadores. Com isso, a equipe mineira já tem assegurado R$ 17,6 milhões em premiação, considerando os pagamentos recebidos pela CBF por cada fase superada, enquanto que Palmeiras, Grêmio e São Paulo garantiram R$ 12,9 milhões até o momento.

O valor que o América-MG ganhou representa mais de três vezes a quantia prevista de receita, no orçamento de 2020, para "competições e jogos": R$ 5.755.449. O clube, naturalmente, comemora os cofres mais cheios, mas não está satisfeito. A equipe treinada por Lisca quer surpreender e chegar à final pela primeira vez em sua história.

América-MG deve se tornar clube-empresa e pode faturar R$ 72 milhões na Copa do Brasil
América-MG deve se tornar clube-empresa e pode faturar R$ 72 milhões na Copa do Brasil
Foto: Divulgação/América-MG / Estadão

O fato de ter alcançado a semifinal da Copa do Brasil pela primeira vez ajuda o América-MG a se manter financeiramente organizado. A equipe tem mantido os salários em dia nesta temporada e pode virar clube-empresa em breve. A consultoria Ernest & Young (EY) está na fase final do projeto que mudará a forma como a agremiação é administrada.

O trabalho começou com o ajuste da governança corporativa da entidade em algo semelhante à de uma companhia de capital aberto. O organograma passou a ter um CEO, um diretor financeiro e demais posições executivas. Para atrair investidores, é preciso que a engrenagem de gestão funcione e as decisões não dependam apenas da paixão pelos resultados esportivos. O resultado desse processo será uma NewCo, ou seja, uma nova empresa que vai explorar apenas o futebol do América-MG.

A busca do time é por um investidor estrangeiro. A desvalorização do real frente ao dólar e ao euro é vista como um facilitador para atrair um parceiro externo. Afinal, com cerca de 10 milhões de euros, o orçamento da Série A passa a ser coberto. A equipe é uma das principais candidatas a voltar à elite do futebol brasileiro e hoje ocupa a vice-liderança da segunda divisão, atrás apenas da Chapecoense.

Segundo a EY, o endividamento líquido do América é de R$ 82 milhões, ocupando a 15ª posição entre os 20 principais clubes do Brasil. Desse montante, R$ 50 milhões se enquadram como dívida tributária. A relação entre endividamento líquido e receita recorrente do clube é de 2,96 vezes.

As receitas não são tão expressivas se comparadas às dos rivais da Série A, mas o América é organizado, possui CT, um estádio, uma propriedade comercial e é conhecido por ser formador de atletas. A próxima temporada pode ser melhor financeiramente. Se vencer a Copa do Brasil, o "Coelho" vai embolsar R$ 72,8 milhões, a premiação máxima.

O mais organizado

O Grêmio é um dos clubes mais saudáveis financeiramente do País. Mesmo na pandemia, o time gaúcho não teve grandes perdas e se manteve estruturado. O último balanço financeiro aponta superávit - diferença entre receitas e despesas - de R$ 25,6 milhões no terceiro trimestre da temporada. O resultado do período proporcionou as contratações de Diego Churín e César Pinares, reforços buscados no futebol sul-americano, e indicam que a equipe vai sair forte da crise provocada pela pandemia.

"O Grêmio está numa posição de equilíbrio, inclusive em relação às contas de 2021 e 2022, antecipando pagamentos", diz ao Estadão o presidente Romildo Bolzan. O dirigente prevê que os clubes que ajustarem suas contas serão aqueles que poderão brigar por títulos na próxima temporada. "O dinheiro da Copa do Brasil atenderia nossas necessidades para reforçar o caixa do próximo ano e seu fluxo", resume o mandatário.

Mudança de estratégia

O Palmeiras mudou radicalmente sua postura de clube comprador, que investe pesado no mercado, neste ano. Para equilibrar as finanças, negociou vários jogadores no decorrer de 2020, como Bruno Henrique, Vitor Hugo e Dudu, reformulou o elenco e apostou na talentosa base. Em campo, os resultados têm vindo. Fora dele, o clube registrou prejuízo de R$ 136,6 milhões em 2020, em balanço realizado até o mês de agosto.

Em agosto, o Palmeiras registrou déficit de R$ 16,6 milhões. Considerando apenas o departamento de futebol, o prejuízo é de cerca de R$ 111 milhões. Foram R$ 489 milhões de receita e R$ 601 milhões de despesas até este mês de dezembro. Os dirigentes palmeirenses preveem que aproximadamente R$ 200 milhões não serão mais arrecadados em 2020 por causa da crise provocada pela covid-19.

O clube deixou de receber com bilheteria desde março, assim como todos os outros, e sofre desde então com uma queda de receitas do programa de sócio-torcedor, entre outros problemas nas finanças. Na pandemia, teve reduzir em 25% salários em carteira e adiar direitos de imagem dos meses de maio, junho e julho para o ano que vem. No segundo semestre, chegou o técnico Abel Ferreira e com ele três reforços: Breno Lopes e Benjamín Kuscevic foram comprados e Alan Empereur veio por empréstimo.

Em 2021, é muito provável que a diretoria tenha de vender algumas de suas principais joias oriundas das categorias de base para aumentar a arrecadação. Gabriel Veron, Patrick de Paula, Gabriel Menino e Wesley já receberam sondagens. No entanto, o título da Copa do Brasil - o time já levantou a taça do Paulistão neste ano - pode melhorar a saúde financeira e evitar negociações precoces.

Modernização do Morumbi

O São Paulo chegou a ser um dos exemplos de gestão no futebol brasileiro. Mas de alguns anos para cá, se atolou em dívidas e tem de vender frequentemente jogadores revelados em Cotia para aliviar a crise financeira, que só vem piorando nos últimos anos com a escassez de títulos. A última taça foi levantada em 2012, a da Copa Sul-Americana. Com isso, vencer a Copa do Brasil teria importância em dobro, esportivamente e também nas finanças.

O clube tricolor tem uma dívida de quase R$ 600 milhões e hoje não pode, por exemplo, realizar uma grande obra no Morumbi, que perdeu o posto de principal palco de grandes shows em São Paulo para o Allianz Parque, a casa do Palmeiras.

O presidente eleito Julio Casares disse que só vai realizar grandes obras no Morumbi com investimento do setor privado, mas a verba da Copa do Brasil pode ajudá-lo a governar. Ele apontou as mudanças que vai implantar no estádio caso seja eleito. "Vamos melhorar a precificação do aluguel para shows para competir em igualdade de condições com as arenas. O estádio é nosso, está pago, então podemos cobrar menos e trazer um volume maior de shows".

O dinheiro da competição também pode ser útil como investimento no programa de sócio-torcedor, que carece de uma reformulação. "Uma das missões do departamento será refundar o programa de sócio-torcedor, que terá 100% da sua receita líquida usada no futebol. Vamos entender que o sócio-torcedor do São Paulo não tem um perfil único, mas vários, e desenvolver planos que façam sentido para cada um deles", explicou Casares.

Estadão
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