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Copa do Mundo

Em 'Travessia', seu terceiro livro, Casagrande aborda seus traumas e medos

Ex-jogador e comentarista da TV Globo lança mais uma obra sobre sua volta por cima após se livrar das drogas

29 jun 2020 - 10h11
(atualizado às 10h11)
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Final da Copa do Mundo de 2018, na Rússia. A França acaba de derrotar a Croácia por 4 a 2, no estádio Luzhniki, em Moscou, e conquista o seu segundo título mundial na história. Na cabine de transmissão da TV Globo, o narrador Galvão Bueno exalta o Mundial das grandes viradas, dos imigrantes, e passa o microfone para Casagrande. Emocionado com o momento, o comentarista e ex-jogador revela que aquela era a primeira Copa em que havia permanecido sóbrio.

"Galvão, essa é a Copa mais importante da minha vida! Tive uma proposta de chegar aqui pela primeira vez numa Copa do Mundo sóbrio, permanecer sóbrio e voltar pra minha casa sóbrio", disparou Casagrande. "Então, eu tô muito feliz", sussurrou, antes de cair no choro.

Casagrande se emociona durante depoimento
Casagrande se emociona durante depoimento
Foto: Divulgação/Rede Globo / Estadão

Essa passagem marca o início do livro "Travessias", o terceiro de uma trilogia sobre a sua vida escrita com o amigo e jornalista Gilvan Ribeiro, que aborda os caminhos que percorreu até se livrar das drogas, a ressocialização depois de anos no vício, as histórias de amor, os dramas e surtos psicóticos e, além de tudo, o apetite pela vida que o levaram a experiências extremas que o deixaram no limite da sanidade e da sobrevivência.

"Não tinha preparado nada. Não imaginava nada. O que aconteceu foi, assim, acabou a Copa, recebeu o troféu e começaram a comemorar, indo para lá, para cá, dar a volta olímpica, a torcida vibrando. Aquilo me emocionou e veio na minha cabeça o que eu tinha falado para a série do Fantástico (programa da TV Globo) que eu ia para a Copa sóbrio, ia ficar sóbrio e ia voltar sóbrio. Que era um objetivo meu. Ali eu percebi que tinha conseguido o meu objetivo. Por isso foi de coração mesmo, foi emocionante, porque eu falei mesmo naquele momento, naquela hora, esse pensamento", revelou Casagrande em entrevista ao Estadão.

Capa do livro Travessia, escrito por Gilvan Ribeiro e Casagrande
Capa do livro Travessia, escrito por Gilvan Ribeiro e Casagrande
Foto: Divulgação/Editora Globo / Estadão

"Travessias" vem depois de Casagrande expulsar seus demônios e contar a sua história de amizade com Sócrates, companheiro de Corinthians na década de 80. No livro considerado mais íntimo dos três lançados, o ex-jogador mostra como nunca antes o seu lado mais humano. Como em um trecho onde expõe o medo e as visões que teve em um dos momentos mais delicados da vida e afirma que viu o demônio dentro da própria casa.

"Comecei a ter visões de demônios na minha casa. Eu via uma sombra no banheiro. Aí, eu ia pra sala, tinha a cara do demônio no sofá. Isso acordado, sem droga nenhuma. Eles começavam a aparecer às seis da tarde em ponto, antes de eu beber. Sentia algo me pegando, me arranhando as costas. (...) Um dia, um demônio passou andando na minha frente; com cara de gente, cabelo amarelo, de calça jeans e tudo. Eu tava muito assustado. Corri pra internet e coloquei a Bíblia falada pelo Cid Moreira. Deu uma apaziguada no ambiente", conta um trecho do livro.

Fotos do livro Travessia, que conta a história de Walter Casagrande
Fotos do livro Travessia, que conta a história de Walter Casagrande
Foto: Divulgação/Editora Globo / Estadão

Depoimento de amigos

O livro traz também depoimentos de grandes artistas e amigos próximos de Casagrande, como Baby do Brasil, Paulo Miklos, Nando Reis e Branco Mello. Nasi, vocalista do Ira!, aparece em uma passagem sobre drogas. "Os dois também tiveram um programa de rádio, em 2005. Nasi, que usara cocaína por muitos anos, tinha parado em 1997. O vocalista do Ira! diz que tentava convencer Casão a fazer o mesmo. Não só não adiantou, como um dia, ele temeu dançar na mão do amigo. Depois de se encontrarem para um trabalho, Casa lhe ofereceu carona. No caminho, sua casa ficou para trás. 'Percebi que ele tava no celular, combinando com um mala para comprar pó. Ele parou embaixo da ponte da Casa Verde, saiu do carro e pegou a cocaína. Fiquei pensando: 'Caralho, se eu sou preso, quem vai acreditar que eu tô limpo?'. Teve um dia que eu falei pra ele: 'Casa, porra, senta a bunda nos Narcóticos Anônimos, cara'. E ele rebateu: 'Ah, isso não pega nada!'. Mais pra frente, ele capotou o carro".

Casagrande só tem o que agradecer aos amigos, pela vida e pelo livro. "Os meus amigos são importantes desde o início que eu conheci para fazer o livro. Amizade pura, ali é respeito mútuo, admiração de todos, por todos. Passamos muitas coisas juntos e são importantes no livro porque ele conta essa parte da minha recuperação, do meu tratamento, da minha evolução no tratamento, da minha sobriedade. E eles participaram disso do começo ao fim porque conversava com eles o tempo todo", afirmou.

Fotos do livro Travessia
Fotos do livro Travessia
Foto: Divulgação/Editora Globo / Estadão

O ex-jogador usou drogas por 37 de seus 57 anos. Teve quatro overdoses, a primeira delas aos 42. Viveu, também, surtos psicóticos com visões do demônio, depressão, várias recaídas e tristíssimos rompimentos familiares. A dependência acabou com um casamento de 20 anos e faz, ainda hoje, com que ele tenha uma relação distante com filhos e netos.

Atualmente, Casagrande dá palestras sobre o combate ao vício, apoio em sessões de terapia coletiva e, junto com psicólogos, leva dependentes químicos em tratamento para jantares, shows e até mesmo casas noturnas. Resolveu fazer esse trabalho para ajudar gente que passa pela mesma situação que ele conhece bem.

"Faz tempo que faço palestras. Participei de um projeto que tem no Ceará, que é o "Ceará sem drogas". Foram quatro anos viajando por todas as cidades do Ceará conversando com garotos de 12 a 18 anos. Às vezes a cidade toda ia para a palestra. Eu faço palestra também aqui em São Paulo nas escolas, fiz em universidades, no (hospital Albert) Einstein, na parte de psiquiatria. Isso aí não vou parar nunca. Minha missão é essa: passar a minha história pra frente, passar minha opinião pra frente. É isso que vou fazer", revelou Casagrande ao Estadão.

Estadão
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