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Copa do Mundo

No acampamento Copa do Povo, não teve Copa da Fifa

12 jun 2014 - 21h20
(atualizado às 22h07)
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Na ocupação Copa do Povo, que fica a cerca de 3,5 km da Arena Corinthians, na zona leste de São Paulo, teve Copa do Mundo, mas não com a Seleção Brasileira.

Na manhã desta quinta-feira, horas antes da abertura oficial do Mundial, os moradores dos barracos fizeram seu próprio torneio de futebol, no qual os times representavam categorias de trabalhadores que reivindicaram melhorias salariais nos últimos meses: garis, professores, metroviários e outros.

Muitos vestiam a camisa da Seleção Brasileira, mas a possibilidade de assistir à partida contra Croácia no fim da tarde dividia opiniões.

"Eu queria que não tivesse Copa, mas ver a Seleção Brasileira jogar eu acho que não tem nada a ver com isso", disse Loamir Augusto de Souza, 29 anos, à BBC Brasil. Ele é técnico de telefones celulares e diz que se divide entre a ocupação e uma casa de um cômodo, cujo aluguel nem sempre consegue pagar.

Loamir estava completamente vestido com as cores da Seleção Brasileira porque estava vendendo os produtos para os possíveis torcedores. Mas não teve muita sorte na ocupação. "Só vendi alguma coisa fora daqui e só hoje, porque é o dia da Copa. Antes não vendi nada."

A história de Loamir ilustra o clima na ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que começou há um mês.

Antes do início dos jogos, os moradores fizeram uma cerimônia de abertura com críticas à Fifa e ao que chamaram de Copa "elitizada". Álbuns da Copa foram queimados durante à cerimônia, mas as crianças da ocupação rapidamente se juntaram para recolher as figurinhas restantes. Muitos vestiam camisas da Seleção ou até uniformes completos;

Depois do torneio - cujos jogos acontecerão no mesmo dia dos jogos da Seleção - diversas pessoas deixaram a ocupação para assistir o jogo nas casas de amigos e familiares. Os que ficavam se mostravam divididos entre torcer e "dar ibope" para a Fifa.

Discussão

"Tem pessoas que vão assistir os jogos e torcer. As nossas críticas não são aos jogos e à seleção, são ao modo como a Copa foi feita aqui no Brasil. Os gastos públicos bilionários, o aumento da especulação imobiliária que a Copa trouxe especialmente para a região de Itaquera e a postura da Fifa", disse à BBC Brasil Josué Rocha, 25 anos, coordenador estadual do MTST.

Rocha foi o principal organizador do torneio de futebol da Copa do Povo, mas depois que deixou a ocupação, os coordenadores presentes discutiram sobre se deixariam que os moradores assistissem à partida na única TV disponível no local, que fica dentro do "barracão dos militantes".

A decisão final, com a qual nem todos os líderes ficaram satisfeitos, foi a de não permitir a torcida. A televisão permaneceu ligada, mas em um canal que não exibia o jogo. Donos de casas vizinhas à ocupação viraram seus televisores para a rua, mas a adesão foi baixa: a maioria dos que ficou na ocupação fez questão de não assistir à vitória da Seleção sobre a Croácia por 3 a 1.

A alternativa de um pequeno grupo de torcedores foi o celular com TV de Daniel Paz, 19 anos. O rapaz, que é ajudante de eletricista, foi encontrar com sua mulher, que mora na Copa do Povo. Era sua primeira visita ao local. "Eu não estou nem torcendo muito, estou só acompanhando mesmo", disse.

Em um bar próximo ao local, Valter de Oliveira Ponte, 35 anos, e outros moradores acompanhavam a primeira partida do Mundial, também divididos entre a animação e as críticas ao governo.

"Como a Dilma nos ajudou a conseguir o terreno, vim prestigiar a seleção. Agora ela vai ter que honrar a palavra dela", afirmou à BBC Brasil. "Mas não estou alegre, nem triste, o certo é quando eu tiver meu teto. Eu não ganho nada com esse jogo."

A ocupação Copa do Povo reúne cerca de 4 mil pessoas, segundo a organização, num terreno privado de 150 mil metros quadrados e é de propriedade da Viver Incorporadora. Em nota à imprensa, a construtora, que busca reintegração de posse, afirmou que a área não tem débitos com a justiça.

Nos últimos dias, o movimento fez vários atos pedindo moradia, colocando milhares de manifestantes nas ruas. O governo abriu um canal de negociações e o MTST anunciou que a área deve ser usada para a construção de moradias populares.

Segundo o MTST, que coordena a construção dos barracos, o local - cujo valor de mercado é estimado em mais de R$ 20 milhões - está abandonado há mais de 20 anos.

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