Na despedida de Marta, Brasil comete erros e não vai ao mata-mata pela 1ª vez em 28 anos na Copa feminina
Seleção Brasileira tem mais de 70% de posse de bola e acerta o alvo oito vezes, mas não consegue vencer, sendo eliminado na fase de grupos d
O Brasil está eliminado da Copa do Mundo Feminina da FIFA de 2023 – e de forma precoce, ao se olhar para a história. O empate por 0x0 com a Jamaica nesta quarta-feira, no Melbourne Rectangular Stadium, na Austrália, fez com que a Seleção voltasse para casa sem alcançar o mata-mata pela primeira vez em 28 anos.
Esta foi a terceira vez que a Amarelinha caiu na fase inicial do Mundial em nove participações. As outras duas aconteceram nas primeiras duas edições da história, em 1991 e 1995. O Brasil vinha de seis classificações consecutivas para as fases eliminatórias.
Por outro lado, a Jamaica se classificou para a fase final pela primeira vez na história em sua segunda participação no torneio. As jamaicanas ainda não sofreram gols em 2023, depois de terem sofrido 12 gols e perdido todos os seus jogos em 2019, inclusive um 3x0 contra as brasileiras.
A frustração de não balançar as redes em uma partida de Copa do Mundo Feminina da FIFA também foi uma novidade para o Brasil em fase de grupos no século XXI. Esta foi apenas a terceira vez desde 2001 que a Seleção ficou no zero no placar em Mundiais – as outras duas ocorreram na final de 2007 contra a Alemanha (0x2) e nas oitavas de final de 2015 contra a Austrália (0x1).
O marcador de 0x0, no entanto, tem sido insistente na edição de 2023. Já são sete empates sem gols no torneio, sendo que antes deste ano eram somente oito empates em 0x0 na história da competição.
Agora, o Brasil volta para casa com dois jogos consecutivos sem vitória. Neste século, isso só havia ocorrido uma outra vez: em 2003, quando a Seleção empatou com a França na última rodada da fase de grupos e foi eliminada nas quartas de final com uma derrota contra a Suécia.
A DESPEDIDA DA RAINHA
Contra a Jamaica, Marta fez sua 23ª partida de Copa do Mundo Feminina da FIFA. Além de ser a segunda brasileira com mais jogos de Mundial (atrás da recordista Formiga, com 27), a Rainha subiu para a oitava posição no ranking geral de atletas com mais participações na competição. Ela está empatada com Mia Hamm, Joy Fawcett e Julie Foudy (23 jogos cada). À frente dela, estão Birgit Prinz, Homare Sawa e Christine Sinclair (24), Carli Lloyd e Abby Wambach (25), Formiga (27) e Kristine Lilly (30).
Marta foi titular em 21 desses 23 jogos – ela saiu do banco somente nas duas rodadas iniciais da atual edição da competição. No século XXI, apenas Christine Sinclair, do Canadá, esteve no onze inicial mais vezes na Copa do Mundo feminina (23).
A lenda do futebol encerra sua participação em Mundiais com 17 gols, recorde na Copa do Mundo da FIFA feminina e masculina.
A edição de 2023 foi a primeira na qual Marta não balançou as redes. Ela havia anotado pelo menos um gol em cada uma de suas cinco Copas anteriores, sendo a de 2007 a mais artilheira delas (7 gols). Também foi a eliminação mais precoce da Rainha.
Marta foi um dos destaques da primeira etapa, liderando o time em finalizações (3) e ações com bola na área rival (8).
A Rainha foi substituída aos 35 minutos do segundo tempo sem ter finalizado na segunda etapa, mas adicionando outras duas ações na área da Jamaica. A marca de 10 intervenções na área rival foi a maior de uma atleta do Brasil em uma partida nas últimas quatro edições da Copa do Mundo Feminina (empatada com Debinha, que também teve 10 no jogo desta quarta e em uma outra ocasião em 2019).
BRASIL DOMINA A BOLA, MAS NÃO É EFETIVO
O primeiro tempo da partida desta quarta-feira foi inteiro do Brasil, que finalizou 11 vezes e não permitiu nenhum arremate à Jamaica. A Seleção se tornou a primeira equipe da atual edição do Mundial a não sofrer nenhum chute a gol na etapa inicial em duas ocasiões, algo que já havia ocorrido contra o Panamá.
O placar terminou em 0x0, com as estatísticas apontando 18 finalizações para o Brasil contra apenas três da Jamaica. A Seleção Brasileira teve 72,6% de posse de bola, sua segunda maior marca em um jogo nas últimas quatro edições da Copa do Mundo Feminina da FIFA – algo que a equipe de Pia não conseguiu converter em gols.
Ter tanto a bola e não balançar as redes é algo incomum nas últimas quatro edições da Copa do Mundo Feminina da FIFA. Entre as seleções que tiveram mais de 70% de posse de bola nesse intervalo, apenas quatro não marcaram gols.
Além do Brasil nesta quarta, a França também não havia marcado contra a Jamaica na primeira rodada de 2023, mesmo com 72,2% de posse. As outras duas ocorrências foram com a Espanha contra o Japão em 2023 (77,1%, derrota por 4x0) e com o Japão contra a Argentina em 2019 (71,5%, empate em 0x0).
O Brasil bateu seu recorde de passes em um jogo nas últimas quatro edições do torneio: foram 599 tentativas. No entanto, 142 deles foram errados, também a maior marca brasileira em um jogo no torneio neste intervalo.
Dois terços das tentativas de passes brasileiros aconteceram no campo de ataque (403 de 599). Entre os quatro times que superaram 400 passes no campo de ataque na atual Copa do Mundo Feminina da FIFA, o Brasil foi o único que não teve grandes chances de gol.
De fato, o Brasil acumulou 1,6 Gols Esperados (xG) contra a Jamaica, quarto menor índice de qualidade das chances de finalização entre as 25 partidas nas quais uma seleção teve ao menos 70% de posse de bola nas últimas quatro edições do Mundial.
Ainda que as oito finalizações certas do Brasil contra a Jamaica sejam o terceiro maior número da Seleção em um jogo de Copa do Mundo feminina desde 2011, todas pararam em defesas da goleira Rebecca Spencer. Foi a segunda vez no período que a Amarelinha não balançou as redes.
Com o Brasil eliminado, as atenções se voltam às favoritas a avançar na competição. De acordo com o supercomputador da Opta, a Inglaterra é quem tem mais chance de ser campeã, com 26,2%. As inglesas também aparecem com 41,5% de probabilidade de alcançar a final.