O que esperar da Seleção Brasileira após a Copa do Mundo Feminina?
A CBF promete investimento contínuo para a modalidade, independente do resultado neste Mundial
Presente em todas as edições da Copa do Mundo Feminina desde o Torneio Experimental de 1988, o Brasil tinha parado na fase de grupos em 1991 e 1995 até esta edição quando voltou a ficar fora do mata-mata. Mesmo com um desempenho em campo abaixo do esperado, especialmente pelo crescimento mostrado em partidas que antecederam a estreia contra o Panamá, o olhar para o futuro da Seleção Feminina não pode ser analisado simplesmente pela participação do Mundial da Austrália e Nova Zelândia.
Esquecendo um pouco a atuação contra França e Jamaica, o Brasil apresentou evolução tática e técnica desde a chegada da treinadora Pia Sundhage. Se antes víamos uma Seleção dependente de Marta, que não tinha uma estratégia de jogo, agora vemos um time mais coletivo, que ataca e defende de forma organizada, tem um futebol sem a bola e faz frente às grandes potências mundiais.
É importante que, quem assumir a vaga de Pia, dê continuidade ao trabalho de evolução do ‘jogo jogado’ do Brasil, pois assim será mais notório o legado da sueca.
A nova comissão precisa não só ter experiência com o futebol de mulheres, mas ter mentalidade vencedora. O Brasil encerrou nesta Copa o patamar de ‘aonde chegar é lucro’ ou 'que pena das meninas’, para ‘vamos disputar para sair com o título’ e ‘vamos jogar para ganhar’.
Pia ficando ou não até o fim de seu contrato que vai até agosto de 2024, já mudou a forma na qual a Seleção Brasileira é vista fora do país. Há muitas críticas quanto ao se papel durante a Copa, mas também é preciso olhar para além do torneio para avaliá-la e projetar o que vem pela frente.
Com a sua experiência internacional, ela trouxe a modernidade que o futebol feminino vive nos grandes centros. Pia dialogou e trabalhou em parceria com a CBF para programar o básico para o desenvolvimento da modalidade no país.
Calendário, competições, categorias de base e estrutura de clubes e seleções estão entre as pautas trabalhadas pela treinadora que, embora não tenha atuado sozinha, ou conseguido colocar tudo em prática, trouxe a visão do que falta dentro da CBF: um departamento de futebol feminino.
É de suma importância que a entidade atenda a necessidade do esporte de mulheres e direcione uma equipe de estratégia para planejamento e execução das demandas que a modalidade apresenta.
O presidente Ednaldo Rodrigues assimiu o compromisso de intensificar o investimento, e precisa colocar o plano em prática.
Em outros tempos, a Confederação Brasileira abriu grupos de trabalhos de futebol feminino, mas os estudos nunca saíram do papel, pela falta de interesse da própria CBF.
Hoje, mesmo com nomes importantes como a coordenadora de Competições Aline Pellegrino e Ana Lorena Marche, supervisora de Seleções, é necessário um setor exclusivamente pautado a trabalhar pelas mulheres do futebol.
Não tem como falar do futuro da Seleção, sem falar de base. Apesar de ter anunciado a retomada da categoria Sub-15, a entidade peca na falta de calendário para as Sub-17 e Sub-20. É fundamental um trabalho mais consolidado e inteiramente aliado aos clubes, para que haja um planejamento para a nova geração de atletas.
O futuro passa pelo passado
Pioneiras cobram a valorização da história que pavimentou o futebol no país. É necessário um plano que traga valorização às lendas do esporte, para que elas tenham estrutura e possam colaborar com suas experiências. Cursos, formações e licenças devem ter os acessos facilitados para as atletas das primeiras gerações, para que haja uma reparação histórica. A valorização as pioneiras, vai mobilizar o olhar das atletas do presente e do futuro, para o que é jogar com a camisa verde e amarela.
O que se projeta daqui pra frente é evolução. Não há retrocesso que barre a potência do futebol de mulheres que, já escreveu grandes feitos, lutando contra a falta de estrutura, o machismo e o preconceito.
A cobrança aos detentores do poder, pelo apoio e desenvolvimento será constante. Atletas e comissão técnica também precisam valorizar o que é representar uma nação, mas a força que esta Copa mostrou por meio do protagonismo das mulheres, nos faz crer que estamos no caminho certo, e que a Seleção Brasileira está mais perto do apogeu.