Didier Deschamps pode se tornar primeiro não brasileiro a ganhar três Copas do Mundo
No comando da seleção francesa desde 2012, treinador mostra que sorte é, na verdade, trabalho bem feito
ENVIADO ESPECIAL A DOHA - Técnico da seleção francesa, Didier Deschamps atingirá algumas marcas pessoais históricas se for campeão do mundo sobre a Argentina. Ele se tornará o primeiro técnico desde o italiano Vittorio Pozzo a conquistar duas Copas do Mundo seguidas. Também será o primeiro desde Pelé e Zagallo a vencer três mundiais. Comedido nas palavras, as quais maneja com a mesma habilidade que tinha com os pés na década de 1990, Deschamps prefere dar de ombros para os méritos próprios e exaltar os feitos de sua equipe - que são muitos desde que ele assumiu, há dez anos.
Quando chegou ao comando da seleção francesa, em 2012, Deschamps tinha como grande objetivo resgatar o orgulho de uma equipe que vinha de uma jornada ruim. A França havia terminado a Copa do Mundo de 2010 na última colocação de seu grupo e precisava reconstruir sua seleção. Para isso, mais do que um bom trabalho, era preciso uma boa dose de sorte.
Para quem entendia do riscado, o capitão da seleção campeã em 1998 era a escolha certa. "Napoleão dizia que para vencer batalhas é preciso ter bons soldados e sorte. Didier sempre teve. Me pergunto se quando ele nasceu, ele não caiu em uma fonte de água benta", disse à época da contratação o então presidente da Uefa e ex-craque da seleção francesa Michel Platini.
O tempo mostraria que a opção por ele era de fato a acertada. Com dois anos de trabalho, Deschamps levou a França às quartas de final da Copa do Mundo, realizada no Brasil - o time perdeu para a Alemanha, que se sagraria campeã. Quatro anos mais tarde, a França conquistaria o bicampeonato no Mundial da Rússia. Agora, chega a mais uma final.
O trabalho do treinador é quase primoroso, sobretudo quando se olha para o que ele fez nesta Copa do Mundo do Catar. A seleção francesa perdeu quase um terço do elenco antes de começar o Mundial, ganhou um desfalque adicional na primeira rodada, e foi para a semifinal diante do Marrocos sem poder contar com outros dois titulares, que foram atingidos por um quadro gripal.
Mesmo com esse infortúnio todo, com potencial para derrubar a tese da "sorte" apontada por Platini há dez anos, Deschamps preferiu apenas trabalhar. Sem Benzema, um dos maiores atacantes da atualidade, ele fez de Giroud um de seus goleadores. Sem muitas opções na armação, ele fez de Griezmann um dos principais garçons da Copa do Mundo. E, talvez o principal, Deschamps deu ao grande craque do time, Kylian Mbappé, a possibilidade de ser decisivo sem que para isso ele precise ser tratado como estrela, algo que para muitos tem atrapalhado o futebol de seu clube, o PSG.
O trabalho de Didier Deschamps tem sido tão acima das expectativas que fez até o presidente da França, Emmanuel Macron, exaltar seu trabalho e sua "sorte". "Deschamps, são três finais. E ele vence! O Deschamps está sempre lá, com sua sorte e seu talento", declarou o político após a vitória sobre o Marrocos. Ele ainda aproveitou para pedir ao treinador que siga na seleção francesa.
Indagado sobre isso, o hábil Deschamps disse aos jornalistas que a resposta ao presidente seria dada em privado. E resumiu seu trabalho à frente da seleção. "Eu não estou aqui por mim. Eu não sou o mais importante. O mais importante é a seleção da França."