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Especialistas explicam relação de amor e ódio com Neymar

Craque centraliza as atenções na Seleção Brasileira para o bem e para o mal

20 jun 2018 - 05h04
(atualizado às 08h21)
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Em um Brasil cada vez mais polarizado, Neymar é amor e ódio. Na relação do principal craque da Seleção Brasileira com a torcida não tem meio termo. E isso está cada vez mais evidente na Copa do Mundo da Rússia.

Foto: Reuters

Até a estreia do Brasil no Mundial, domingo, Neymar voava em céu de brigadeiro. Bastou uma atuação ruim diante da Suíça para que o atacante do Paris Saint-Germain virasse o principal alvo da ira da torcida, insatisfeita com o rendimento do time e, lógico, do craque. Nem mesmo nesta terça-feira, quando Neymar deixou o treinamento mais cedo com dores no tornozelo direito (o mesmo que levou dezenas de pancadas dos suíços no domingo), a torcida perdoou.

As redes sociais é o ambiente onde Neymar melhor se expressa. Com 94 milhões de seguidores no Instagram - quase metade da população do Brasil -, tudo o que ele publica tem enorme repercussão. É nas redes sociais também que a torcida se volta contra ele. Desde domingo, as redes foram tomadas por memes do jogador. Do seu novo corte de cabelo ao tornozelo, tudo vira motivo de piada e provocação.

"Neymar é um ímã que atrai todas as inspirações das pessoas, como sucesso, dinheiro e mulheres, carros e reconhecimento. É alvo de desejo das pessoas, mas também provoca uma reação de admiração e ódio, como um jogo de atração e repulsa. Quanto mais seguidores, maior o número de haters", diz o historiador Leandro Karnal.

O atacante é o principal expoente de sua geração. Ao contrário da Copa do Mundo de 2002, por exemplo, quando o Brasil foi para o torneio da Coreia do Sul e Japão com craques como Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos, agora Neymar é praticamente o único ídolo nacional da seleção e, por isso, centraliza as atenções. Todos os holofotes estão virados para ele. Para o bem e para o mal. "No futebol, temos poucos ídolos atualmente. Ele é uma referência muito forte, com grande identificação com os jovens. A superexposição nas redes sociais é boa para ele, mas também tem o seu lado ruim. Tem de saber lidar, não é fácil", diz o especialista em Psicologia do Esporte, Rodrigo Scialfa Falcão.

Neymar no treino da Seleção desta terça antes de abandonar a atividade devido a dores no pé
Neymar no treino da Seleção desta terça antes de abandonar a atividade devido a dores no pé
Foto: REUTERS/Hannah McKay / Reuters

CRÍTICAS

O comportamento do torcedor brasileiro com Neymar é proporcional à expectativa ao seu rendimento em campo. Forte candidato ao prêmio de melhor da Copa da Rússia, o jogador não foi bem na estreia e, mesmo com a comissão técnica da seleção lembrando que o atacante ainda não está 100% fisicamente por causa da fratura no quinto metatarso do pé direito que o tirou de combate por quase três meses, o torcedor esperava dele uma atuação de destaque, capaz de fazer o Brasil somar três pontos contra a Suíça. Como isso não aconteceu, a torcida brasileira não poupou o craque.

"Ao invés de reconhecer as dificuldades da partida diante de um adversário forte, a saída emocional mais fácil é criticar o Neymar. É mais ou menos como as pessoas fazem em suas vidas. Diante de um problema, escolhem um único ponto para colocar a culpa", analisa Gustavo Bonini Castellana, psiquiatra do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas.

A reação da torcida com Neymar também pode ser explicada pelo fato de o público, muitas vezes, não enxergar nele uma figura humilde (como Gabriel Jesus, que há quatro anos pintava as ruas de seu bairro) ou de superação (a exemplo de Ronaldo Fenômeno, após sofrer várias lesões). Como às vezes parece ser arrogante, a torcida costuma ser menos complacente com ele.

"Mesmo nos momentos mais complicados, ele não transmite uma imagem de fragilidade. Tem gente que até espera isso dele, mas essa postura, na verdade, é uma qualidade", explica Castellana.

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