Brigas, confusão e mais: torcida única não garante segurança
Ideia de torcida única não será colocada em prática no Palmeiras x Corinthians deste domingo, mas lembramos abaixo alguns países onde elas são bem sucedidas. E em outros casos, não!
O futebol brasileiro chegou a um nível extremo nos últimos anos: depois do clássico Atlético-MG x Cruzeiro ser jogado com torcida única, agora Palmeiras x Corinthians foi cogitado para acontecer desta forma, com o intuito de controlar as confusões causadas pelas torcidas organizadas.
A ideia não foi para frente e acabou derrubada na última sexta-feira. Mas mesmo assim, em outros lugares do mundo, ela foi/é praticada e nem por isso funciona. Jogo sem torcida visitante já gerou críticas, protestos e até teve confusões graves em alguns casos. Ela não será colocada em prática no Palmeiras x Corinthians deste domingo, mas lembramos abaixo alguns países onde elas são bem sucedidas. E em outros casos, não!
Enquanto a ideia da torcida única volta a ganhar força no Brasil agora, na Argentina é realidade desde a década passada. Em 2004, isso já começou a ser feito nos clássicos. Nos últimos campeonatos a proibição foi geral, ou seja, todos jogos ficaram sem torcida visitante.
Na Europa os principais problemas acontecem em países onde o futebol não é tão organizado, como Escócia, Grécia e Turquia. A rivalidade extrema de alguns times também contribui para isso: as torcidas de Celtic e Rangers se envolvem em uma questão religiosa e por isso apenas uma torcida pode ver os clássicos nos estádios.
Mas é na Grécia e na Turquia que acontecem as piores confusões, inclusive dentro de campo. No clássico entre Panathinaikos e Olympiakos de 2012, que podia deixar o primeiro muito perto do título, aconteceu praticamente uma guerra: depois que o Olympiakos fez um gol, a torcida passou a jogar bombas e fogos em campo. A polícia tentou controlar, mas sofreu revide e por isso o jogo foi encerrado antes do tempo.
Na Grécia existem vários clássicos disputados com torcida única. O maior deles, Galatasaray x Fenerbahce, é quase incontrolável. Mas entre as confusões recentes, a pior aconteceu em um jogo entre Besiktas e Galatasaray. O brasileiro Felipe Melo foi expulso e mostrou a camisa do time aos rivais, que eram mandantes. Foi o que bastou para a torcida invadir o campo e tentar agredir os jogadores.
Na Croácia ainda há uma resistência muito forte contra a medida: em 2014, a federação proibiu uma pequena parte da torcida do Hajduk Split, uma das mais agitadas do mundo, de entrar no estádio do Dínamo Zagreb. Porém, aqueles que não estavam proibidos resolveram que não iriam por protesto. Assim que os jogadores souberam, resolveram aderir ao boicote e não jogaram. Agora é totalmente improvável que algum dia a federação tente impor a torcida única em algum clássico.
Mas é claro que também existem bons exemplos na Europa. Na Espanha, o controle é maior: a venda de ingressos só para sócios-torcedores faz com que os visitantes tenham pouquíssimos bilhetes - em alguns casos é menos de mil. Já na Itália o duelo Inter de Milão x Milan tem uma divisão quase igual, já que os dois times usam o mesmo estádio, o Giuseppe Meazza (ou San Siro para os milanistas), e mesmo há assim acontecem poucos registros policiais.
A Inglaterra é o país que deu o melhor exemplo: após sofrer por anos com as ações violentas dos hooligans, a federação resolveu tomar atitudes extremas para acabar com a violência. O primeiro passo foi construir ou reformar estádios para aumentar a segurança, já que uma tragédia no Hillsborough matou 96 torcedores.
Além disso, todos times ingleses tinham ficado fora das competições europeias por causa de confusões causadas por hooligans fora da Inglaterra. A solução foi punir, prender e até banir esses criminosos. Atualmente os estádios são calmos até demais, com torcedores de elite, mas pelo menos a violência está controlada e não é preciso proibir os visitantes.
No Brasil já existem outros estados, além de São Paulo e Minas Gerais, que estão pensando em deixar os clássicos com torcida única. O Atlético-PR, por exemplo, tem insistido em fazer isso nos jogos contra o Coritiba. Mas basta olhar além do Brasil para chegar a duas conclusões fundamentais: não basta proibir as torcidas no estádio e é mais importante controlá-las fora deles.