'Festa dos excluídos': tri paulista do Palmeiras une gerações e vence distância
Centenas de torcedores fizeram a festa do lado de fora do Allianz Parque na noite deste domingo, 7, pela conquista do Paulistão
A final do Campeonato Paulista de 2024 foi presenciada por 41.446 torcedores alviverdes que, dentro do Allianz Parque, viram o Palmeiras ser tricampeão paulista sobre o Santos, na noite deste domingo, 7. Do lado de fora do estádio, outros milhares, unidos principalmente pelo amor ao clube, celebram a conquista como se eles próprios estivessem dentro do gramado, entre gritos, lágrimas e abraços.
A origem do mar verde e branco que surge nas ruas da região da Barra Funda, em São Paulo, às vésperas de disputas de títulos do Palmeiras tem os mais variados motivos. O alto custo e indisponibilidade dos ingressos --que levam cambistas a cobrar quase R$ 3 mil por uma cadeira em dia de jogo-- a falta de acessibilidade ou a própria festa democrática que se forma no entorno da Rua Palestra Itália.
E não faltou motivo para a torcida que não conseguiu o acesso ao Allianz Parque fazer a festa do título na região. Para eles, torcer ao lado de alguém completamente desconhecido, com apenas o amor em comum por um time de futebol, pode ser uma “experiência muito louca”, como diz o publicitário Maicol de Oliveira Daturi, de 34 anos.
Emocionado, ele descreve, em meio às lágrimas, a sensação que teve com o título do seu Verdão. “As pessoas te abraçando, te acolhendo, a gente vendo o que de fato acontece, mesmo, só enfatiza o sentimento que temos pelo clube."
Para a final do Paulistão, os ingressos foram vendidos entre os valores de R$ 200 e R$ 500. Maicol critica os preços que considera inacessíveis ao público. “Quando se fala em setor popular com um preço de ingresso muito elevado, a gente se dá conta que o setor popular é aqui fora, onde a coisa acontece”.
O amor pelo Palmeiras fez o publicitário viajar mais de 5h para percorrer os 452,3 km que separaram a cidade de Mirassol, no interior de São Paulo, a capital paulista. Ele não conseguiu entrada, mas isso não mudou os planos de torcer pelo clube do coração de pertinho do Allianz Parque.
Não mudaria uma vírgula, se eu tivesse o ingresso para assistir no estádio, eu ficaria exatamente onde estou hoje”, celebrou o palmeirense
Amor de pai para filho
Já para outros torcedores, a ausência no Allianz Parque é, também, sinônimo de responsabilidade profissional. Dono do hostel Finestra, que foi transformado em bar, o comerciante Gerson Baldini, de 67 anos, cuida com esmero de uma das dezenas de cozinhas espalhadas nas imediações do estádio. Ao Terra, ele confessa a vontade de ver seu time ao vivo, mas que não se frustra de acompanhar as partidas longe das arquibancadas.
“Montei isso aqui como uma diversão e foi algo que deu certo. A gente vê e acolhe palmeirenses de vários lugares. Acaba que formamos aquilo que o Palmeiras é, de fato, uma grande família. Gostaria sim [de estar no estádio], mas eu gosto muito, muito mesmo, de estar aqui nessa muvuca e a gente fica se apaixonando por esse processo todo” diz Geraldo, que divide os cuidados do comércio com o filho Guilherme, responsável pelo balcão principal.
O gostinho da sentir o título nas ruas também fez com que o torcedor Jefferson Pereira Ferreira, junto da esposa Keyla Ferreira e os três filhos do casal, encarasse uma viagem de 1h30, de Santo André, na Grande São Paulo, até o estádio. Nem mesmo o alto custo dos ingressos, multiplicado por cinco, os impediu de celebrar junto à torcida.
Ao Terra antes da bola rolar, a família alviverde revelou que foi às ruas, mesmo, por causa do preço elevado.
Vimos quando estava em torno de R$ 250, R$ 300, e para cinco não dava. Então a gente veio para ficar do lado de fora, mesmo, e ver o Palmeiras ser campeão”
Para os torcedores, independentemente de onde estivessem, o grito que escapou do fundo da garganta e transcendeu barreiras de concreto e aço, foi um só às 20h deste domingo: “É campeão”.