"Irrepreensível" durante doença, Muricy deixa saudades em CT
Muricy Ramalho não é mais o técnico do São Paulo. O treinador entrou em acordo com a diretoria e deixou o comando do time na tarde da última segunda-feira, mas a sensação dentro do clube é de que a terceira passagem do tricampeão brasileiro pela equipe tricolor ainda não chegou ao fim, seja entre a diretoria ou entre os funcionários do CT da Barra Funda.
A própria postura do vice-presidente de futebol, Ataíde Gil Guerreiro, durante o anúncio do fim do vínculo, é exemplo disso. Guerreiro ao menos três vezes confundiu o nome de Muricy com o de Milton Cruz na hora de comentar sobre o auxiliar, que assumirá interinamente o São Paulo enquanto a diretoria busca um novo comandante.
"Eu não consigo me desligar do Muricy", brincou Ataíde após uma das confusões de nome. De acordo com o dirigente, em nenhum momento a fase ruim do São Paulo foi o fator decisivo para a queda do treinador, que sai oficialmente por causa dos seus problemas de saúde. Muricy sofre de diverticulite e fará uma operação para se recuperar da doença. Além disso, o técnico sofreu um quadro de arritmia cardíaca no fim de 2014.
"Estava tão satisfeito com o trabalho dele que não permiti que ele saísse depois da derrota contra o Palmeiras. Mas ele me deu argumentos tão fortes, familiares, que eu fui obrigado a repensar tudo", disse o vice de futebol.
A sensação de que o trabalho continua sendo feito pelo treinador no São Paulo também não foge dos profissionais que conviviam com Muricy no CT da Barra Funda diariamente. Em contato com o Terra, seguranças e porteiros do centro de treinamento não se posicionaram sobre a queda do comandante, mas defenderam a postura do técnico no dia a dia tricolor.
De acordo com a equipe técnica, Muricy era querido dentro do clube. A postura do treinador era "irrepreensível" do ponto de vista do relacionamento com os funcionários.
Segundo as mesmas fontes, nem mesmo a saúde fragilizada afetou a postura do treinador na rotina diária. Apesar dos problemas pessoais, Muricy continuava com a sua famosa característica de cobrar muito os atletas durante as atividades. "Apesar dos problemas dele, que qualquer humano pode passar, ele continuava segurando as pontas dele como qualquer um", comentou um dos funcionários.
Críticas, apenas para a diretoria. Para Marco Aurélio Cunha, dirigente do clube no período do tricampeonato brasileiro com o técnico e atual oposição do presidente Carlos Miguel Aidar, o São Paulo usou as questões pessoais de Muricy para justificar os atuais problemas do time. "A doença e o cansaço (do Muricy) são um subterfúgio para não sofrerem muitas críticas na fase ruim da equipe. É claro que a doença atrapalha, mas a pior coisa que pode acontecer com um profissional é a falta de apoio. O São Paulo está numa crise de tristeza. Um setor não acredita no outro", concluiu o ex-dirigente, ao comentar a relação da diretoria com o clube.
O clima dentro de campo também dava mostras de que o técnico da equipe acabara de sair. A atividade da segunda-feira ocorreu em clima descontraído, comandada pelo interino Milton Cruz ao lado dos preparadores físicos após uma breve conversa com o elenco. Como é de praxe após partidas, foram feitos apenas exercícios físicos dentro de campo
Se depender do desejo do comando são-paulino, a terceira Era Muricy no São Paulo não será a última. "Ele sempre terá as portas abertas aqui. Ele salvou o São Paulo de um rebaixamento e levou o clube a um vice-campeonato em 2014", elogiou Guerreiro.