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Juventus termina o ano com discussão de SAF travada e 'coleção' de sindicâncias contra o presidente

Presidente Tadeu Deradeli, acusado de má gestão e criação de dívidas sem autorização, está na mira de um potencial processo de impeachment; procurado pela reportagem, ele não respondeu sobre as acusações

20 dez 2024 - 09h40
(atualizado às 11h16)
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O Juventus da Mooca termina 2024 sem o que comemorar. Além de perder o acesso à elite do Paulistão na semifinal da Série A2 e cair cedo na Copa Paulista, o clube mergulha em tensão política entre a gestão Tadeu Deradeli e a oposição nos conselhos deliberativo e fiscal. Há motivo: adversários de Deradeli o acusam de centralizar ações, desrespeitar as votações dos conselhos em gestão temerária e até proibir opositores de estacionar dentro do clube. O mandatário foi questionado pela reportagem do Estadão sobre as acusações por diferentes vezes desde o final de novembro, por meio de sua assessoria, mas não se manifestou. O espaço fica aberto.

Um dos episódios dessa tensão foi a discussão para a transformação do futebol do clube em SAF. Entre propostas, o maior valor chegou a R$ 24 milhões. O conselho deliberativo, contudo, acusou Deradeli de não seguir os ritos e contratar uma assessoria financeira sem autorização. Segundo o contrato, ao qual o Estadão teve acesso, a empresa receberia 6% do total de eventual negócio.

TQ SÃO PAULO 06.09.2024 ESPORTE Estádio do Juventus e entrevista com o diretor Dilson Tadeu dos Santos Deradeli, presidente do Clube. Foto Tiago Queiroz/Estadão
TQ SÃO PAULO 06.09.2024 ESPORTE Estádio do Juventus e entrevista com o diretor Dilson Tadeu dos Santos Deradeli, presidente do Clube. Foto Tiago Queiroz/Estadão
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

Em setembro, o presidente confirmou a história, mas argumentou que o processo estava muito lento. "É para ontem. Não dá para esperar mais. Querem ver novamente o valuation, mas não podemos esperar muito tempo. Se for fazer ao pé da letra, acho que até diminui o valor (do clube)", justificou Deradeli, ao Estadão, na época. "Foi fechado porque a gente precisava de uma empresa que viesse assessorar. O nosso jurídico do é tributário, cível... A lei de SAF é uma coisa nova".

A expectativa inicial do presidente era que o negócio fosse concretizado até julho de 2024, ano do centenário do clube. No começo de agosto, a definição foi adiada para metade do mês, quando foi criada a comissão de análise da SAF no conselho deliberativo. O grupo encerrou o trabalho, e o assunto deve ser pautado em breve, mas não há indícios de que haverá aceite de alguma das propostas.

Com futebol em crise, gestão atual recorre a projeto de SAF e empréstimos, mas em conflito com demais poderes do clube.
Com futebol em crise, gestão atual recorre a projeto de SAF e empréstimos, mas em conflito com demais poderes do clube.
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

Conforme apurou o Estadão, a gestão atual acredita que se trata de um boicote, para que uma eventual transformação em SAF não aconteça sob a gestão de Tadeu Deradeli. O mandatário foi eleito vice-presidente em 2022, mas assumiu o novo cargo após Antonio Ruiz Gonsalez renunciar, em março de 2023. Ele tem mandato até maio de 2025, quando estão previstas eleições no clube.

O que pode antecipar uma mudança na gestão é um pedido de impeachment, engatilhado no conselho fiscal e motivado por sindicâncias que investigam, entre outras suspeitas, uso irregular de recursos financeiros do clube social para o futebol. "Trata o Juventus como se sua propriedade fosse", resumiu uma fonte ligada ao clube para a reportagem do Estadão.

A prática é proibida conforme estatuto do Juventus. As acusações ganharam apoio até mesmo no conselho de administração. "Há uma carta do vice-presidente (Odacyr Marinelli Raymundo), listando transgressões estatutárias", diz Eduardo Pinto Ferreira, integrante do conselho fiscal.

Sindicâncias investigam cessão de espaços e contratos sem aval do setor jurídico

Os processos administrativos se estendem a diferentes temas, como o contrato da assessoria financeira e empréstimos tomados em nome do clube social para pagar jogadores. É apontado, em uma das investigações, que há atletas que tiveram contratados sem assinatura do setor jurídico, apenas com a firma do presidente.

Outro caso envolve a cessão de um espaço na sede para a construção de quadras de beach tennis. "O que foi aprovado em plenário foi diferente do assinado. Os números mudaram, deixamos de ter alguns direitos, o aluguel era muito baixo. Um espaço desses, aqui na Mooca, era de R$ 60 mil (o aluguel). (A empresa) pagava R$ 12 mil", critica Ferreira.

Presidente Tadeu Deradeli acredita que há boicote no processo de SAF. Ele não respondeu sobre as acusações que sofre.
Presidente Tadeu Deradeli acredita que há boicote no processo de SAF. Ele não respondeu sobre as acusações que sofre.
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

Segundo o conselheiro, seriam construídas seis quadras, mas foram feitas apenas cinco. Depois, o total foi expandido para sete. O contrato aumentou para dez anos, sob aluguel de R$ 25 mil mensais, ainda considerado abaixo do ideal pelo conselho fiscal.

Essa mudança foi mais uma feita sem aval de outros poderes. O próprio conselho de administração considera que Deradeli agiu com abuso de poder e expondo o clube a riscos fiscais, sob argumento de que o contrato omitiu pagamentos de Impostos Sobre Serviços (ISS) e Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU).

Outras acusações são sem caráter formal. Uma delas é de que opositores de Deradeli teriam sido proibidos até mesmo de estacionar nas dependências do clube. Outra diz que o presidente centralizou tarefas, como a gestão da agenda do salão de festas do clube social, a alguém de sua confiança, mas que não tem relação com o Juventus.

O processo de impeachment pode acontecer de três formas: por pedido de 500 associados ou 20 membros do conselho deliberativo. Ou, ainda, pelo conselho fiscal. A mobilização nos dois primeiros é vista como insuficiente. Há, inclusive, receio de manifestar-se contra a atual gestão e sofrer alguma retaliação. Por isso que o conselho fiscal, composto por três membros, é o caminho mais viável para um possível impedimento de Tadeu Deradeli.

Previsão orçamentária coloca Juventus com R$ 2 milhões em dívidas

O Juventus aprovou a previsão orçamentária de 2025 com uma votação acirrada no conselho deliberativo (33 a 31) e prevê déficit de R$ 2 milhões. A administração tinha intenção de fazer um empréstimo para quitar parte das dívidas, o que foi negado por 39 votos a 28. Os opositores preocupam-se que o dinheiro seja usado novamente para pagar jogadores.

Uma fonte do clube informou que o presidente confessou que faria o empréstimo da mesma forma, sem autorização. A captação de R$ 500 mil, no começo de 2024, sem aval do conselho, é objeto de mais uma sindicância contra Deradeli. Ele também teria usado, novamente sem autorização, R$ 800 mil da conta garantida do clube, cuja função é financiar capital de giro. Sobre essas acusações, o mandatário também não se manifestou.

Estadão
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