Federações e clubes veem movimentação estranha em ato do STJ
Órgão desconsiderou em 24 horas um documento produzido pelo próprio tribunal
Várias federações estaduais de futebol e clubes da Série A do Brasileiro, ouvidos pelo Terra, detectaram “uma movimentação estranha” do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no processo que diz respeito a uma demanda de 2017 do Ministério Público do Rio. O órgão de justiça produziu um documento no dia 3 de março, atestando que o diretor de Patrimônio da CBF, Dino Gentile, não figurava como parte nos autos em questão.
Um dia depois, o próprio STJ expediu uma nova certidão para invalidar a anterior, apontando que o primeiro documento havia sido gerado “equivocadamente”.
A estranheza de vários dirigentes de federações e clubes da elite nacional se traduz por essa mudança abrupta de rumo e pela insistência do STJ em dar prosseguimento a um processo que se esvaziou com o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado no início da semana entre a CBF e o Ministério Público do Rio, o autor da ação.
O MP queria que a CBF voltasse a discutir suas normas eleitorais numa assembleia que reunisse as 27 federações e os 20 clubes da Primeira Divisão – encontro já agendado para a próxima segunda-feira (7).
A última assembleia geral, realizada em 24 de fevereiro, afastou definitivamente Rogério Caboclo da presidência da CBF, acusado de assédio sexual e moral, e manteve no cargo o interino Ednaldo Rodrigues. Logo em seguida, o STJ interveio na CBF e determinou ao juiz de primeira instância, da 2ª Vara Cível da Barra da Tijuca, Mario Olinto, a nomeação de Dino Gentile, diretor que seria o mais idoso da confederação, como presidente interino da entidade.
Mario Olinto suspendeu o processo por dois meses diante da manifestação do MP e da CBF para chegar a um acordo, o que se verificou com a assinatura do TAC.
Por trás disso tudo, estaria o interesse político de Gustavo Feijó, vice da CBF e ex-prefeito de Boca da Mata, em Alagoas, onde foi condenado recentemente pela justiça eleitoral, de tentar assumir o controle da entidade que comanda o futebol nacional. Ele é aliado de Dino Gentile, tem em outro vice da CBF, Castellar Guimarães, seu braço direito, e age nos bastidores para impedir a assembleia do dia 7.
Feijó repete exaustivamente entre seus pares que o ministro Humberto Martins, do STJ, é seu amigo pessoal de muitos anos. Por onde passa, o vice alardeia que costuma degustar pururuca com cachaça acompanhado de Martins e recomenda a iguaria para quem ainda não a experimentou. Eles também gostam de frequentar o Restaurante Maria Antonieta, em Maceió.
As relações de Feijó se estendem também à Câmara e ao Senado, locais em que busca apoio político para presidir a CBF numa estratégia que passaria primeiro pela nomeação de Dino Gentile. É próximo do presidente do Congresso, deputado Arthur Lira, também de Alagoas, e esteve na véspera da assembleia do último dia 24 com o secretário do parlamentar, Luciano Cavalcante, num encontro reservado no Hotel Windsor, na capital daquele Estado.
Advogados das federações estaduais avaliavam neste sábado a possibilidade de enviar uma reclamação disciplinar à Corregedora Nacional de Justiça, a jurista Maria Thereza de Assis Moura, contra o presidente do tribunal Humberto Martins. O Terra tentou contato com a assessoria do STJ, sem obter êxito, e continua à disposição do ministro e do órgão para relatar suas explicações.