Goleiro vende rifa para pagar transferência para clube do RJ
Time da quarta divisão carioca acerta com atleta, mas não consegue R$ 1,1 mil para concluir inscrição e sugere realização de rifa ao reforço. LANCE! conta essa história
O PSG teve R$ 821 milhões para contratar Neymar. Enquanto isso, o Paduano Esporte Clube não conseguiu R$ 1,1 mil para contar com o goleiro Marco Antonio. A realidade é dura no clube de Santo Antônio de Pádua (RJ), município de 40 mil habitantes que fica a 265 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro.
Em maio, Marco Antonio acertou com o Paduano para a disputa da quarta divisão do Campeonato Carioca, chamada de Série C, que é o último nível do futebol profissional no Rio. Dois meses depois, no momento de registrar os atletas na competição, o Paduano se deparou com a necessidade de pagar R$ 1,1 mil pela transferência da documentação do goleiro da federação do Espírito Santo, onde ele jogava, para a federação do Rio. Sem dinheiro, o clube não inscreveu Marco Antonio, situação que segue igual até hoje. Porém, há duas semanas, o presidente do Paduano fez uma sugestão inusitada: se o goleiro conseguisse levantar os R$ 1,1 mil vendendo rifas, ele entraria no campeonato. E assim surgiu a história do atleta que está financiando sua própria transferência.
Marco Antonio Santos então foi à luta. No começo da semana passada, ele colocou 110 rifas à venda por R$ 10, valendo uma camisa oficial do Paduano. Em uma semana, já conseguiu comercializar 90 números. Aos 24 anos, Marco Antonio tenta um lugar ao sol no mundo do futebol. O goleiro tem passagens por clubes de menor expressão no Rio e times de reconhecimento no Espírito Santo. Em setembro do ano passado, no Rio Branco Atlético Clube (ES), Marco sofreu uma lesão muscular na perna direita durante treino e precisou se afastar de trabalhos com bola até janeiro. O período inativo o fez perder visibilidade e ficar sem clube para 2017. Contatos o levaram ao Paduano, que lhe abriu as portas para treinar. O goleiro mostrou serviço nas atividades e recebeu convite para defender o clube. Grato pela chance que ganhou, Marco Antonio diz que não sente vergonha de repassar a rifa para jogar no Paduano.
- Aceitei o convite do Paduano, só que não sabia a situação financeira do clube, as dívidas do clube. O presidente Romulo Vieira tentou levantar esse dinheiro, mas não conseguiu. Há duas semanas, ele me chamou e falou: você não consegue fazer uma rifa? Aí mandei mensagem para vários amigos e familiares, e muita gente topou me ajudar: amigos do Espírito Santo, do Rio de Janeiro... Já que estou aqui no Paduano, quero ajudar o clube a se reerguer, retribuir a confiança que tiveram em mim. Não tenho vergonha de vender as rifas, porque eu sou muito humilde, sabe. É meu sonho que está em jogo - comentou o goleiro, nascido em Niterói (RJ).
Marco Antonio já ficou fora de cinco jogos do campeonato. O desempenho do Paduano na quarta divisão tem sido modesto. Das cinco partidas, o time só venceu uma e perdeu três vezes (uma das derrotas foi por W.O, na primeira rodada, por não ter cumprido o prazo para inscrição de atletas). Subir de divisão é um sonho distante, mas a disputa vai até novembro. O goleiro espera ser regularizado nos próximos dias para contribuir logo com o grupo:
"Como faltam só 20 rifas, acho que terei o valor completo já nesta semana. Minha expectativa é ser inscrito até o fim da semana, sorteando logo a rifa e anunciando o ganhador no meu Facebook. Quando estiver jogando, poderei ajudar muito o clube e mostrar meu valor, até para tentar algo melhor para mim lá na frente. Nunca vou esquecer o que a gente está passando aqui."
Marco Antonio e os demais jogadores vêm passando apertos. O clube não tem pago salários desde o começo da quarta divisão. O goleiro, que assinou contrato até novembro para ganhar um salário mínimo (R$ 937) por mês, está recebendo apenas R$ 200 para pagar a pensão do filho de cinco anos:
"O clube tem me dado uma ajuda de custo de R$ 200 para pagar a pensão do meu filho, se não eu poderia até ir preso. Acertamos um salário mínimo por mês, mas não tem previsão de vir. Moro com meus pais, eles que me ajudam dia a dia financeiramente. Meu pai é aposentado e minha mãe é faxineira. Eles apostam em mim, e eu treino todos os dias pensando nesse empenho deles."
O Paduano Esporte Clube é um clube tradicional, com 90 anos de história, e é o maior campeão da terceira divisão do Rio, com títulos em 1987 e 2012. No entanto, o Trovão Azul estava afastado das competições oficiais desde 2014, quando disputou a Série B do Carioca e foi rebaixado. Afundado em dívidas, chegou a ter suas dependências interditadas. Só neste ano uma nova diretoria assumiu, conseguiu regularizar a situação do clube na federação do Rio e pagou algumas dívidas, além de negociar outras. Hoje, o Paduano recebe R$ 5 mil de dois patrocinadores, o que ainda não é o suficiente para ficar no azul. Alguns mercados de Santo Antônio de Pádua têm ajudado com doações de alimentos, salvando as refeições dos atletas antes e depois dos treinos e jogos.
"A gente tem um sonho e não pode desistir quando surgem as barreiras. Lá na frente vai valer muito a pena todo esse esforço", finalizou Marco Antonio.