Clube argentino desiste de ser filial do Corinthians
A cerca de 500 km de Buenos Aires, o portão alvinegro que exibia um distintivo muito semelhante ao do Sport Club Corinthians Paulista (a bandeira estadual de São Paulo acabou substituída pela argentina) quase não foi aberto em 2015. O Santa Fe Fútbol Club - que se apresentou como Corinthians Santa Fe até o final do ano passado - abdicou de competir nesta temporada para conseguir se reestruturar após uma frustrante parceria com o clube brasileiro.
Fundado em julho de 2005 por um grupo de jogadores aposentados (entre eles, Ameli, ex-zagueiro de Internacional e São Paulo), o Santa Fe se vinculou ao Corinthians em janeiro de 2012. A ligação foi alavancada pela obsessão de Luis Paulo Rosenberg, antigo homem forte do marketing corintiano, de internacionalizar o clube que seria campeão continental e mundial naquele ano. Previa intercâmbio de técnicos e jovens jogadores, além do fornecimento de todo o material esportivo utilizado pelo time argentino.
Depois de uma e outra reportagem no país vizinho, da conquista do quarto lugar da Copa Danone pela equipe Sub-13 do Corinthians Santa Fe (que eliminou o Brasil nas quartas de final) e da utilização de alguns treinadores e atletas argentinos na base corintiana, o contrato de parceria chegou ao fim sem muitos outros motivos para ser prorrogado.
"Independentemente da decisão do Sport Club Corinthians Paulista, não é nosso desejo renovar. Chegamos pelas mãos de um diretor da base, o Fernando Alba, e vamos embora com ele", avisou Esteban Kreig, presidente do Santa Fe. Em seguida, ele demonstrou arrependimento em relação à filosofia do projeto. "Se o critério para fazer uma parceria com outro clube brasileiro for aprofundar mais o lado esportivo, sim, aceitaríamos. Se for mais marketing do que futebol, não."
Antes dessa entrevista, Esteban dizia à imprensa de Santa Fe que aguardaria a eleição presidencial do Corinthians (realizada em fevereiro) para definir se continuaria a vestir os seus jogadores com uniformes do time paulista. De qualquer forma, o custo mensal avaliado em aproximadamente 100 mil pesos argentinos (pouco mais de R$ 35 mil) para funcionamento e uma dívida de 130 mil pesos argentinos (R$ 46 mil) já haviam forçado o dirigente a abrir mão de disputar a Liga Santafesina em 2015. A ideia era emprestar quase 200 atletas a outras equipes e retomar as atividades somente no ano seguinte.
"Só conversei uma vez com Roberto de Andrade (que derrotou Antonio Roque Citadini e sucedeu Mário Gobbi como presidente do Corinthians), em uma ocasião que nada teve a ver com a renovação ou não do nosso contrato. Ele me pareceu uma pessoa preparada para o seu cargo, simples e muito educado", contou Esteban. "Mas não esperamos nem especulamos em torno da eleição porque entendíamos que um projeto sério deveria continuar independentemente de quem fosse eleito", ponderou.
Ainda que Roberto de Andrade fosse o candidato da situação, o Corinthians mudou alguns aspectos de sua política a partir do mês passado. Deixou um pouco de lado a megalomania publicitária - o então vice-presidente Rosenberg, inclusive, apoiou Citadini na eleição - para privilegiar uma rígida contenção de gastos em departamentos além do futebol profissional. Citado por Esteban Kreig, Fernando Alba saiu da diretoria das categorias de base e acabou não aproveitado na nova cúpula corintiana.
"O marketing não é prejudicial a uma parceria, mas o excesso dele ou só focar nisso faz com que você não produza muito no lado esportivo", comentou Esteban, que trabalha para reativar o Santa Fe Fútbol Club. "Depois que o contrato encerrou, resolvemos parar em 2015, informando a nossa federação, para ter um ano para reagrupar e acomodar as questões logísticas. É claro que foi uma decisão difícil, mas serve para voltarmos com mais forças e melhor ordem", acrescentou.
Ainda restará um resquício, contudo, da ligação com o Corinthians. O meia argentino Matias Ferrero, que foi até repassado ao Flamengo de Guarulhos (outro antigo parceiro corintiano), permaneceu no Brasil mesmo após o término do projeto com o Santa Fe. Nascido em 1995, ele tem compromisso no futebol nacional válido por mais um ano e ainda não sabe qual será o seu futuro. "Vários jogadores e técnicos nossos fizeram parte desse intercâmbio. Foi uma experiência muito boa para os meninos e os adultos. O Matias Ferrero ficou. Quando o seu contrato acabar, o Corinthians deverá decidir se ficará ou não com ele. Se quiser, pagará algum dinheiro a nós, já que os direitos dele são divididos igualmente", explicou Esteban.
Caso tenha que voltar à Argentina, Ferrero encontrará um clube disposto a reconquistar o seu espaço regionalmente, mesmo sem contar com a ajuda de outrem. "Até a chegada do Sport Club Corinthians Paulista, sempre nos sustentamos com recursos próprios. Em 2016, será da mesma maneira", prometeu Esteban Kreig, presidente do agora extinto Corinthians Santa Fe, que também ficou com um legado de sua matriz. "Não sei se me tornei mais um torcedor (ele usa o termo em português), mas sempre é difícil esquecer quando se vê tanta paixão por uma equipe. Na Libertadores, com o Tite, o Corinthians recuperou a sua mística vencedora e virou um forte candidato ao título. Sempre foi, é e será um adversário difícil para qualquer rival, em qualquer lugar", concluiu o corintiano santafesino.