De Lagarto para Portugal: Anderson, defensor do Vizela, diz: 'Essa vontade de vencer faz parte do nordestino'
Em entrevista ao LANCE!, zagueiro que ajudou a classificar o América-MG à Libertadores conta sobre infância complicada, inspiração do pai e sonhos por alcançar
Inspirado pelo pai. De Lagarto, no Sergipe, para Portugal. Vivendo o sonho de jogar na Europa. Essas frases contam um pouco da história do zagueiro Anderson, do Vizela, que encara o Benfica nesta sexta-feira pelo Campeonato Português. Em conversa com o LANCE!, o defensor contou sobre a sua trajetória e as dificuldades enfrentadas no interior do Brasil para chegar onde chegou.
ORIGEM HUMILDE
O filho do seu Roseval, ou melhor, de Valdo Preto, como é conhecido em sua cidade, tem uma vida marcada pelas dificuldades e pelo trabalho desde cedo. Essa é a realidade de muitos brasileiros, mas Anderson conseguiu, através do seu talento com a bola nos pés, superar as adversidades impostas.
- Creio que tudo tem um porquê nas nossas vidas. Na minha infância, eu via a dificuldade de não ter algo para comer, para brincar. Não ter uma sandália. Eu caminhava com meus pais para trabalhar na lavoura, em material de construção, cavar poço com meu pai. Esse sofrimento faz parte da vida do nordestino. Não que a gente mereça, mas essa garra, essa vontade de vencer e de buscar algo melhor pra sua vida e sua família faz parte do nordestino.
Buscando ser um orgulho para dona Domingas e seu Roseval, Anderson seguiu os passos do seu genitor, que atuava no futebol amador, e de Valdo, seu irmão, que atualmente joga no Shimizu, do Japão, e foi para Aracaju com o objetivo de vestir a camisa do Confiança. No entanto, o defensor ainda dependia do dinheiro dos pais até conseguir o primeiro contrato profissional.
- Meu pai jogava campeonatos amadores. Todos têm uma consideração muito grande por ele por conta do time do povoado. Nosso pai foi nossa influência em todos os aspectos. Encarar a realidade da vida do futebol, não desistir. Quando a gente desanimava, ele deixava o serviço e ia pra Aracaju conversar com a gente.
ADAPTAÇÃO EM PORTUGAL
Após grandes temporadas com a camisa do América-MG, inclusive sendo parte do elenco que classificou o Coelho para a Libertadores, Anderson ganhou sua primeira chance no Velho Continente. O brasileiro contou sobre suas principais dificuldades encontradas nestes primeiros meses,
- Senti dificuldade quando cheguei. A gente vem com aquele receio sem saber como será. O clima é muito diferente do Brasil. O frio me pegou de surpresa. Tem um solzinho aqui atrás (apontando para a janela durante a entrevista), mas não adianta nada não. Porém estou muito feliz com a experiência que estou vivendo e só tenho a crescer na carreira.
O camisa cinco também contou sobre as principais diferenças que vêm notando entre o futebol praticado no Brasil e em Portugal. Segundo o atleta, o ritmo de jogo é um dos principais contrastes que há entre a América do Sul e a Europa.
- Os brasileiros possuem muito a questão individual, tem aquele jogador que vai pra cima. Meus primeiros 15 dias foram difíceis para entender a filosofia do treinador, mas fui me adaptando e evoluindo. O ritmo é mais intenso, o jogo é mais rápido, mais vertical, sempre buscando o gol. Essa oportunidade é única e tenho que aproveitar da melhor maneira possível.
SONHOS ALTOS
Hoje no Vizela, Anderson não tem a menor perspectiva de que seu pai viaje para Portugal para assistir a uma partida da modesta equipe portuguesa. Por conta do medo de viagens de grandes distâncias, o defensor retorna todos os anos para Lagarto, onde sua família vive até hoje, para se reconectar.
- Você pode dar uma casa na beira da praia, mas os dois não saem de lá (Lagarto) de jeito nenhum. A gente fica com saudades, pois eles não viajam de avião. Quando temos a oportunidade de vê-los é só nas nossas férias. Minha mãe não trabalha por consequência de uma hérnia de disco pelo tempo sentada em um banco de madeira raspando mandioca, mas meu pai trabalha em poços. Eu dou algumas duras, mas ele diz que não quer ficar sem fazer nada em casa.
Sem esquecer de sua origem humilde e de sua família, o zagueiro ainda tem sonhos a serem realizados tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Aos 27 anos, o menino que saiu de Lagarto e que trabalha com os pais após cada campeonato estadual, trabalha para chegar no topo do esporte.
- Meu sonho pessoal é dar uma escolinha de futebol para o meu pai trabalhar com os meninos do nosso povoado e creio que ainda vou realizar. Profissionalmente, meu sonho é chegar à Seleção Brasileira. Depois de sair de onde eu saí e passar por tudo o que passei na minha infância, vestir a camisa do Brasil é o meu maior sonho.
Nesta sexta-feira, Anderson tem a oportunidade de aparecer para o mundo ao enfrentar as Águias, às 17h15 (horário de Brasília), em pleno Estádio da Luz. Com contrato até 2024, o zagueiro já atuou em oito jogos como titular e espera seguir agarrando a chance com toda a bagagem carregada nas costas em busca de voos mais altos.