Conmebol aponta discriminação de Arsène Wenger e critica Fifa e International Board
Ex-técnico do Arsenal afirmou que Mbappé não seria o mesmo jogador se tivesse nascido na África; entidade sul-americana também questiona falta de consulta sobre fixação das cinco substituições por jogo
A Conmebol iniciou nos últimos dias uma forte briga contra o racismo no futebol da América do Sul, prometendo punições pesadas para os clubes por causa dos atos de racismo de torcedores. A Confederação Sul-Americana de Futebol agora quer dar exemplo para o mundo e mandou uma carta à Fifa reprovando declarações discriminatórias de pessoas da alta cúpula da entidade. Ainda pediu explicações por mudanças no número de modificações nos jogos implantada definitivamente sem uma consulta.
De acordo com a carta da Conmebol, Arsène Wenger, ex-técnico do Arsenal e chefe de desenvolvimento global, afirmou que o francês Kylian Mbappé, do Paris Saint-Germain, "não teria se tornado o atacante que é hoje se tivesse nascido em Camarões." O ato discriminatório não foi aceito e o documento foi uma maneira de cobrar respeito aos demais continentes pela Conmebol.
"Em primeiro lugar, a Conmebol rejeita e condena as infelizes declarações. Há a Europa e o resto do mundo", disse, na carta de repúdio. "A Conmebol está firmemente comprometida com a luta contra expressões e gestos racistas ou discriminatórios, sejam eles provenientes de torcedores nos estádios, de atletas e técnicos no campo de jogo ou de oficiais através de declarações públicas. As palavras de Wenger - além de revelar uma ignorância incomum sobre a valiosa contribuição dos jogadores africanos no futebol mundial, especialmente no futebol europeu - mostram um viés preconceituoso que torna invisíveis os esforços dos jogadores de futebol e das instituições esportivas que não estão na Europa", prosseguiu em seu protesto a Conmebol. "Acontece com frequência que os preconceitos mais repugnantes estejam disfarçados de reflexões 'fundamentadas' e 'inteligentes'".
Sentindo-se humilhada e desmerecida na mesma proporção dos africanos, a Conmebol resolveu se posicionar firme com o propósito de mandar uma mensagem ao planeta pedindo um futebol igual e livre das desigualdades.
"Assim como os africanos, nós sul-americanos conhecemos muito bem e em primeira mão este tipo de atitude, que se baseia na crença de que o mundo começa e termina na Europa", disparou. "O talento, o espírito de sacrifício e o desejo de superação dos jogadores africanos e sul-americanos devem ser valorizados e respeitados."
CINCO SUBSTITUIÇÕES É CONSENSO?
O segundo ponto de protesto na carta da Conmebol enviada à Fifa é a regulamentação das cinco modificações nos jogos sem uma consulta à entidade.
"A Conmebol sentiu a necessidade de chamar a atenção em um aspecto crucial da recente aprovação das cinco modificações permitidas para cada equipe em jogos oficiais. Uma medida de emergência, tomada em circunstâncias inéditas de uma pandemia, tornou-se agora a norma definitiva. Sem julgar os argumentos a favor ou contra tal resolução, o certo é que ela foi adotada sem um processo de consulta que claramente teria enriquecido o debate", cobrou.
E foi além: "Nem a Conmebol nem suas Associações Membro foram solicitadas para uma opinião ou análise sobre este assunto. Se as mudanças que têm efeitos globais em nosso esporte forem decididas unilateralmente, elas podem gerar irritação e desconfiança. Esta é uma prática de exclusão que tem sido repetida nos últimos tempos e está causando grande preocupação", afirmou a Conmebol, antes de finalizar. "Um futebol mais competitivo, de maior qualidade, inclusivo e mais justo será o trabalho de todos nós, em uma estrutura de cooperação, pluralidade e livre troca de ideias e experiências."