E não é que é legal ver o soccer nos EUA? Com cerveja!
Reportagem do Terra mostra em texto, vídeo e fotos como os torcedores americanos estão lidando com a nova febre do soccer
Não se ouve fogos de artifício nos arredores, só dentro do estádio mesmo, onde o show acontece. Os vendedores ambulantes não te abordam no desespero. A figura do flanelinha, aquele que vive extorquindo o torcedor, é inexistente. As opções de entretenimento fora da arena antes da partida começar são inúmeras. E talvez a melhor parte, a cereja do bolo: você pode beber uma cerveja assistindo o futebol ao vivo. Bem no estilo americano da “breja-litrão” gigante.
Estas são apenas algumas das diferenças básicas da experiência de se ver um jogo de soccer nos Estados Unidos, numa rápida comparação com o futebol brasileiro, desde suas novas arenas de Copa do Mundo as do passado, mais no estilo "old school". O Terra esteve em Orlando, no Estado da Flórida, no início do mês, para acompanhar o amistoso entre Orlando City e Ponte Preta.
Para quem não está inteirado no assunto, Orlando City é a franquia recentemente adquirida pelo milionário brasileiro Flávio Augusto da Silva, o fundador da rede de escolas de inglês Wise Up, que trouxe como maior estrela de sua equipe o compatriota Kaká. Contratação de peso – a exemplo do que os Los Angeles Galaxy fez com o inglês Beckham, e o New York Red Bulls com o francês Thierry Henry - ambos já aposentados. Ou seja, hoje Kaká é a maior estrela da Major League Soccer, dos EUA.
Como a ideia da reportagem não é avaliar o desempenho dos jogadores em campo, afinal, se o futebol americano se mostra forte economicamente, dentro de campo ainda existe um gap a ser superado, fica claro que MLS segue um planejamento claro para daqui uma década, quem sabe, ter os mesmos números de faturamento e audiência de uma NFL ou mesmo NBA. Por que não?
“Acredito que ainda estamos cerca de 10 a 15 anos longe de uma NFL ou NBA”, opinou Brad Maxwell, torcedor do Orlando City, com sua camisa 10 do Kaká. “Ele é o nosso herói”. Martin Kuravawa explica que “as comunidades adotaram o futebol e todos sempre perguntam se nós vamos para o jogo”. Era a sua primeira vez na vida dentro de um estádio de futebol, assim como sua mulher, Christine.
“As crianças são loucas por futebol. Na nossa época não tinha o soccer nos colégios, era apenas futebol americano. Hoje as crianças já tem acesso e gostam e entendem muito bem o esporte”, disse, apontando para a filha Ellen, que não para de correr de uma lado para o outro pedindo para “entrar logo no jogo”.
Permanecer nos arredores do estádio, aliás, seja talvez a primeira grande lição que a MLS e os clubes de futebol dos EUA, dão para o futebol brasileiro. E aqui nem vamos falar de organização de calendário, dentro outras coisas, e sim de entretenimento. Puro entretenimento. E neste quesito, é bom dar o braço a torcer, ninguém tem tanto know-how como os americanos.
Uma caminhada pelo Citrus Bowl, a arena erguida para a Copa do Mundo de 1994 e que é a casa temporária do Orlando City enquanto um novo estádio que sendo erguido não fica pronto, já dá a noção exata de como um evento nos EUA é sempre pensado nos mínimos detalhes. E o mais importante: como isso cai bem e serve de modelo para o negócio futebol.
Não estamos falando apenas de barracas com produtos oficiais, ou mesmo de food trucks da vida, porque isso não é novidade, muito embora os ianques explorem isso bem com uma zona de recreação própria onde se come e bebe à vontade. A questão principal é proporcionar um ambiente de segurança para as crianças – que tem inúmeras opções de lazer antes do grande jogo.
Exemplo: em que estádio brasileiro você encontraria um ônibus personalizado do seu time estacionado, com uma TV de, sei lá, umas 60 polegadas acoplada com um PlayStation para a garotada jogar, ali mesmo, ao vivo e a cores? Que outro lugar uma quadra seria improvisada, com as devidas proteções, para distrair os pequenos enquanto os pais fazem o próprio churrasco e se refrescam com uma cerveja gelada ?
Isso sem falar que os caras colocam um DJ na calçada para animar o público, tem brincadeiras com animadores de público, um sofá imenso inflável e personalizado com a logo do clube para você sentar, tirar a sua foto, e postar nas redes sociais prontamente. Resumindo: aos poucos, e bem ao seu estilo, os americanos vão gostando muito do tal soccer.
Dentro do estádio, de fazer inveja ao puritanismo brasileiro de não se vender cerveja, se compra um litrão por cerca de R$ 30. Caro para a gente, para eles, é um preço ok pela situação e pelo tamanho – lembrando que tudo é “super size” nos EUA. “Aqui é tudo certo, existe horário para tudo, e ninguém perde a cabeça, as pessoas torcem juntas, sem violência. Por isso não tem problema nenhuma vender cerveja”, disse o brasileiro Luís Silva, residindo há cerca de seis meses em Orlando.
Para quem ainda tinha dúvida da fissura cada vez mais crescente dos americanos pelo nosso esporte bretão, vale assistir o vídeo desta reportagem até o final. Os torcedores do Orlando City nunca tinham visto o time ganhar em casa nesta nova fase dentro da MLS (as duas vitórias foram fora de casa). Em suma, é um exercício de ambientação, que mostra os gritos de guerra de uma torcida devidamente organizada, e que comemorou como um título ganho o gol da vitória por 3 a 2 contra a Ponte Preta. E era um jogo amistoso apenas.