Cristiano Ronaldo ainda é referência para Portugal? Eurocopa dará respostas de sua importância
Comentaristas avaliam como o craque português pode contribuir para a seleção; Felipão, que comandou equipe em 2004 e 2008, aponta expectativa e assume torcida
Cristiano Ronaldo estreia na sua sexta e última Eurocopa nesta terça-feira, 18, às 16h (horário de Brasília), na Red Bull Arena, em Leipzig, na Alemanha. Há duas décadas, o português entrava em campo pela primeira vez no torneio, que o consagrou como o maior jogador da história de Portugal. Aos 39 anos, o atleta do Al-Nassr ainda desequilibra para o time de Roberto Martínez, mas não é mais figura acima do coletivo português.
O camisa 7 teve uma temporada que impressiona em números, com 63 gols em 51 jogos. Por outro lado, ele viu o rival Al-Hilal vencer os principais títulos. A despedida da Eurocopa é também uma oportunidade de voltar a levantar taças, já que a conta fechou apenas com a Liga dos Campeões Árabes na última temporada. Mesmo em uma liga de menor expressão, na Arábia Saudita, Cristiano Ronaldo tem confiança do treinador. "O foco, a reação à perda de bola e as posições defensivas de Cristiano foram perfeitos durante os últimos jogos. Não tenho dúvidas, nem preocupações", avaliou o técnico da seleção portuguesa sobre o craque.
Martínez deu mais espaço para Cristiano Ronaldo em relação a Fernando Santos, demitido após o Mundial de 2022, e o utilizou como titular mesmo após ter garantida a classificação para a Eurocopa. "(Cristiano Ronaldo) chega agora com mais certezas de que vai ser titular do que em 2022, quando jogava no Manchester United, até porque Gonçalo Ramos teve uma temporada complicada no PSG", avalia o editor do FlashScore Portugal, Bruno Henriques.
Desempenho de Cristiano Ronaldo em Eurocopas
Português quebra seu próprio recorde de mais participações no torneio
- 2004 - Vice-campeão e escolhido entre os melhores atacantes da edição
- 2008 - Quartas de final
- 2012 - Semifinal
- 2016 - Campeão
- 2020 - Oitavas de final e artilheiro com 5 gols, junto do checo Patrik Schick
Além da parte técnica, o time muda com a presença do capitão. "A liderança baseia-se naquilo que somos, no que sentimos e no que aprendemos na nossa jornada. Quero ser um jogador que ajuda os outros, alguém que eles possam admirar, ver como um modelo e ser um bom profissional", refletiu Cristiano Ronaldo dias antes da estreia.
A postura de líder, e não apenas de estrela, é mais pertinente, na opinião do comentarista da DAZN Portugal, Tomás da Cunha. "No fundo, o que grande parte das pessoas pensa em Portugal é que Ronaldo pode ser extremamente útil em certos jogos, sobretudo como finalizador, mas tem de aceitar que exista gestão e outras escolhas de Roberto Martínez", avalia. Apesar dos elogios públicos do técnico ao jogador, da Cunha considera que ainda há dúvida sobre o quanto o atacante pode contribuir coletivamente. "O fato de não ajudar tanto defensivamente e de ser menos altruísta que outros jogadores pode comprometer. O que se viu na preparação é que está motivado e com físico bastante aceitável. Falta saber se está disposto a ajudar a equipe", pondera.
Elenco melhor e seleção já mira era 'pós-CR7'
A equipe portuguesa campeã há duas edições era menos estrelada que a atual. Do time vitorioso na final contra a França, apenas Cristiano Ronaldo e Pepe são remanescentes. Bruno Fernandes é quem vive o melhor momento. São três gols e duas assistências em quatro jogos por Portugal em 2024, sendo que apenas em dois jogou as partidas inteiras. "Depois existe uma linha com Bernardo Silva, Rafael Leão, João Félix, que gozam da confiança do treinador, mas não têm apresentados números tão exuberantes", comenta Henriques. Esses nomes terão, inclusive, a responsabilidade de guiar a seleção em uma era pós-Ronaldo.
Depois do título de 2016, o camisa 7 teve que lidar com a frustração na Copa do Mundo da Rússia, ao ser eliminado para o Uruguai nas oitavas de final. Na Eurocopa 2020, disputada em 2021 devido à pandemia, o sorteio não facilitou, e Portugal precisou encarar Holanda, Alemanha e França já na fase de grupos. Ao avançar entre os melhores terceiros colocados, o time caiu diante de uma Bélgica que vinha com 100% de aproveitamento. Em 2022, no Catar, nova eliminação, diante da sensação Marrocos, nas quartas de final.
A sequência levava a crer que o sucesso de 2016 não seria repetido. Cristiano Ronaldo defende o contrário. "Acho que, ano após ano, vamos tentando melhorar sempre em algum aspecto. Sou um jogador completo, mas há coisas que podemos aperfeiçoar. Com a idade, vamos perdendo algumas habilidades e é preciso o jogador tentar adaptar-se. Se um jogador quer ter um poder de adaptação muito grande, tem de ter características para essa adaptação, foi isso que tentei fazer. Não é coincidência que estou há 20 anos ao mais alto nível", argumenta.
A opinião do craque é também a do narrador da DAZN e do Flashscore Portugal, Diogo Miguel Nunes. "Apesar da idade, a capacidade para fazer a diferença em momentos importantes continua lá. Cada vez mais numa situação de último toque para finalizar uma jogada. Momento em que continua a ser dos melhores do mundo, senão mesmo o melhor".
Nunes também cita Francisco Conceição, Pedro Neto e João Cancelo como nomes relevantes que estarão junto de CR7. Ele destaca, ainda, o ímpeto de Cristiano Ronaldo em despedir-se no topo. "Apesar de não ter de provar mais nada a ninguém, vontade é o que não lhe deve faltar para demonstrar que tudo continua quase na mesma, só que com um ou outro cabelo branco pelo meio", analisa.
Em 2004, no vice-campeonato, e em 2008, o técnico de Portugal era Luiz Felipe Scolari, o Felipão. Nesta edição, ele acompanha como torcedor e acredita que a equipe vai decidir o torneio. "Eu estarei esperando que a possibilidade de uma final chegue novamente e que Portugal vença como em 2016. Estarei torcendo assiduamente como sempre torci. Me acho parte de qualquer seleção que Portugal faça, pois ainda me considero, sim, entre os torcedores e entre as pessoas que vibram pela nossa seleção", disse Felipão ao Estadão.
O técnico de 75 anos falou ao portal árabe Winwin que não pode colocar Cristiano Ronaldo como o melhor que já treinou, por ter trabalhado com outros jogadores especiais ainda em atividade. Mas confessa: "Claro que Cristiano pertence a essa classe de elite, foi mais um dos excelentes jogadores que treinei".
Naquela estreia de 2004, diante da Grécia, que também foi adversário na final, Scolari promoveu a entrada de Cristiano Ronaldo no intervalo, e o jogador marcou aos 48 do segundo tempo o gol de honra para Portugal, que perdeu por 2 a 1. Hoje, outros 129 gols somam-se àquele, o que o isola como maior artilheiro da seleção portuguesa. Para quem foi a maior estrela de onde jogou por duas décadas de carreira, é um desafio adaptar-se a ser "mais um". Pode caber a Cristiano Ronaldo, então, a humildade de como se tivesse apenas 19 anos. A mesma vontade da época, ele já tem.