Nottingham Forest decola na Premier League sob gestão de Marinakis, que mira São Paulo e Vasco
Time dos brasileiros Danilo, Murillo, Carlos Miguel e Morato é sensação da temporada na Inglaterra e sonha em voltar à Champions, da qual é bicampeão, depois de 44 anos
O Nottingham Forest que enfrenta o Wolverhampton nesta segunda-feira pela 20ª rodada da Premier League é o melhor em anos. A equipe dos brasileiros Carlos Miguel e Murillo (ex-Corinthians), Morato (ex-São Paulo) e Danilo (ex-Palmeiras) é a sensação da liga inglesa nesta temporada. Seis anos após o clube ter sido comprado pelo magnata grego Evangelos Marinakis, as chances de voltar à Champions League, da qual é bicampeão, são as mais reais nos últimos 44 anos.
A última vez que disputou o maior torneio da Europa foi na temporada 1980/81, após o bicampeonato (1978/79 e 1979/80), antecipado pelo título da liga em 1977/78. Depois de um marasmo na década de 1980, o time viveu altos e baixos e chegou até a terceira divisão, em 2005, antes de estabelecer-se na Championship, segundo nível do futebol inglês.
O acesso à elite veio no final de 2022. Desde então, o Nottingham Forest brigou para não cair novamente. Isso mudou na temporada atual. Terceiro colocado com 37 pontos, o time bateu gigantes como Liverpool, em Anfield, e Manchester United, no Old Trafford, além de alcançar a maior sequência de vitórias (cinco jogos) desde 1995.
A decadência dos anos 1990 e 2000 endividou o Forest. O clube foi comprado, em 2012, pela família Al-Hasawi, do Kuwait, mas o projeto fracassou sem mudar os anos na segunda divisão até ser vendido a Evangelos Marinakis, em 2017. O sucesso, como costuma ser, não foi imediato.
O Nottingham Forest sofria com uma cultura "à brasileira" de alta rotatividade de treinadores, junto de péssima visão nas janelas de transferências. Isso só mudou durante a temporada 2020/21, quando Marinakis contratou um CEO e um chefe de recrutamento. A partir de então, as regras eram buscar reforços apenas com base em scout, manter salários de até 18 mil libras por semana e fechar, principalmente, com jovens que pudessem ser revendidos.
Isso teve reflexo em campo na temporada seguinte, 2021/22, sob comando do técnico Steve Cooper. O galês assumiu o time na zona de rebaixamento para a terceira divisão e conseguiu chegar aos playoffs para a Premier League, feito inédito em pouco mais de dez anos. Indo além, o Nottingham Forest voltou à elite pela primeira vez desde a temporada 1998/99.
Foi então que Evangelos Marinakis abriu o bolso, com uma sequência de recordes de gastos em janelas de transferências para a temporada 2022/23. A Premier League, contudo, cobrou mais caro. O time acumulava derrotas e sofria com uma série de lesões.
O empresário grego bancou Cooper, em exemplo diferente dos primeiros anos de sua gestão - ainda que tenha demitido o diretor esportivo Filippo Giraldi. Deu certo para a permanência naquela temporada, mas em 2023/24, Cooper não resistiu a rodadas na zona de rebaixamento.
Nuno Espírito Santo chegou e manteve o Nottingham Forest na Premier League. A permanência veio mesmo com punição de perda de pontos por ferir o fair-play financeiro. Marinakis precisava que seu clube arrecadasse mais, justamente para poder gastar.
A meta de Marinakis em retornar a uma competição europeia fracassou na primeira impressão, já que era esperado para 2022. Agora, contudo, isso pode acontecer acima de Conference League ou Europa League. Sob batuta de Espírito Santo e o empresário grego como mecenas, o Nottingham Forest ouve o hino da Champions tocando na próxima temporada.
Após a quinta vitória seguinda, diante do Everton, fora de casa, torcedores empolgaram cantando que o Forest venceria a liga. O clube estava na vice-liderança, o que não acontecia há 30 anos. Para Nuno Espírito Santo, a regra é cautela.
"Os torcedores estão felizes. É sobre aproveitar o momento. É uma competição difícil. Estamos muito orgulhosos, mas não atingimos nada ainda", pregou o treinador. "Não é sobre a tabela, é sobre melhorar e perceber que ainda há um longo caminho", reiterou.
Classificam-se para a Champions League os quatro primeiros da liga inglesa. A média de pontos do quarto colocado, historicamente, é de 68,5. Se o Nottingham Forest repetir, no segundo turno, os 37 pontos da primeira metade do campeonato, pode chegar a 74, pontuação suficiente em nove das últimas dez temporadas da Premier League.
Como joga o Nottingham Forest de Nuno Espírito Santo?
Mesmo que priorize a defesa, a equipe sensação da Premier League não pode ser chamada de retranqueira. A principal regra do time de Nuno Espírito Santo é surpreender o adversário.
A equipe varia entre um 4-2-3-1 e um 3-4-3, tanto durante o jogo, quanto na formação inicial. Na vitória por 2 a 0 contra o Brentford, por exemplo, Morato entrou como terceiro zagueiro. "É sobre equilíbrio. Se um vai, como o Elliot (Anderson), para construir o gol, outro deve ficar atrás, como Morgan (Gibbs-White). Os dois são jovens e maduros para perceber isso. Eles têm bom conhecimento do jogo", explica o técnico sobre seu meio de campo.
No ataque, o time conta com Neco Williams e Hudson-Odoi pelos lados, normalmente buscando espaços vazios para avançar. Quase sempre os dois buscam o centroavante neozelandês Chris Wood. São apenas 26 gols marcados pelo Nottingham Forest, mas o suficiente para acumular vitórias, já que sofre pouco. Dos 26, Wood fez 11.
"O 3-4-3 é uma forma que temos usado quase sempre nos momentos finais dos jogos. É sobre construir e tentar encontrar soluções. Nesta liga, você enfrenta diferentes oponentes, temos que nos adaptar. Nossos três zagueiros se complementam, cobrem, são rápidos, agressivos e bons com a bola", avalia o técnico.
Prestes a encarar o Nottingham Forest, o lateral português Nelson Semedo dispara elogios a Nuno Espírito Santo, com quem ele trabalho no Wolverhampton. "Honestamente, não me espanta ver o Nottingham Forest em lugares de acesso à Champions. Eu sei o quão exigente é Nuno Espírito Santo. E também o quão bom ele e o staff que o acompanha são. Estão a fazer as coisas muito bem", comentou durante a semana de véspera da partida.
O compatriota Vitor Pereira, ex-Corinthians e que hoje comanda o adversário do Nottingham Forest desta segunda-feira, também reconhece o valor do técnico. "Lembro do trabalho que fez no Rio Ave. Um trabalho fantástico. E está a fazer a sua carreira com qualidade, com consistência e gosto da sua personalidade, porque é um low profile, não é um treinador que goste de falar muito, é um treinador que gosta de mostrar o seu trabalho em campo", ponderou.
A partida fecha a rodada. Se vencer, o Nottingham Forest iguala o Arsenal com 40 pontos, mas permanece em terceiro porque fica atrás no saldo de gols. A vantagem para o Chelsea (4º) aumentaria para quatro pontos, os deixando mais perto do retorno à elite da Europa.
Evangelos Marinakis mira base do São Paulo, mas Julio Casares evita classificar negócio como 'venda'
O empresário grego também é dono do Olympiakos e do Rio Ave e mira o mercado brasileiro. Dono de uma fortuna de US$ 3,7 bilhões (R$ 23 bilhões), segundo a Forbes, Marinakis negocia a compra da SAF do Vasco e pode fechar um negócio envolvendo a base do São Paulo.
A ideia inicial era de que o magnata tivesse um percentual em cima das vendas de jogadores formados em Cotia. Isso representaria um aporte praticamente imediado aos cofres são-paulinos, mas poderia gerar uma perda no futuro.
Assim, a gestão de Julio Casares não quer tratar o assunto como uma "venda da base". O presidente do São Paulo prefere que a parceria seja no sentido de promover intercâmbios de garotos e profissionais entre os clubes de Marinakis.
"Nós estamos conversando. É algo ainda embrionário, vou com muita calma, mas estamos caminhando bem para trazer um empresário ligado a plataforma esportiva, não só financeira. Imagina o São Paulo com o grupo dele, se isso caminhar dessa forma. Ele tem o Olympiacos, o Rio Ave, o Nottingham", falou Casares em dezembro.
A expectativa do São Paulo vai ainda no sentido de conseguir contratar atletas de outros clubes ainda na base, tirando-os de outros times. A ideia é aproveitar o potencial dos jovens ainda antes do profissional.