Morte de torcedor e gás lacrimogêneo provocam suspensão de jogo na Argentina
Partida entre Boca Juniors e Gimnasia y Esgrima foi interrompida após tumulto de torcedores e policiais
A partida entre Boca Juniors e Gimnasia y Esgrima, pelo Campeonato Argentino, precisou ser suspensa na noite desta quinta-feira, 6, quando o relógio apontava apenas nove minutos de bola rolando. O motivo foi a violência que atingiu o Estádio Juan Carmelo Zerillo, em La Plata, na Argentina.
Torcedores e policiais entraram em confronto, e o gás lacrimogêneo usado pelas forças de segurança invadiu o campo, impossibilitando a continuidade do jogo. A confusão ainda resultou na morte de um torcedor, que sofreu uma parada cardiorrespiratória e faleceu a caminho do hospital.
"Confirmo que há uma pessoa morta. Essa pessoa morreu de parada cardíaca", disse Sergio Berni, ministro da Segurança da província de Buenos Aires. O torcedor foi identificado pelas autoridades do hospital San Martín de La Plata como César Regueiro, de 57 anos. Um cinegrafista do canal esportivo TyC foi ferido por balas de borracha e dezenas de outros torcedores também tiveram que ser levados para hospitais devido ao efeito dos gases, segundo relatos da mídia local.
O tumulto começou quando torcedores tentaram entrar no estádio, mesmo ele já estando no limite de sua capacidade. Segundo as autoridades locais, apesar da lotação, havia pessoas do lado de fora com ingressos válidos. A polícia então usou balas de borracha e gás lacrimogêneo para reprimir os torcedores que lutavam para entrar no estádio já lotado. Detonações foram ouvidas e a fumaça dos gases chegou rapidamente ao campo.
Os jogadores e os membros das equipes técnicas tiveram que ir para o vestiário em busca de ar mais fresco. Com o incidente, o árbitro Hernán Mastrangelo decidiu cancelar a partida até segunda ordem. "A realidade é que não tivemos integridade física para continuar a partida, isso afetou a todos nós no campo, o ar ficou irrespirável. A situação saiu do controle e não havia garantias de segurança", disse o juiz.
O duelo era válido pela 23ª rodada da segunda fase do Campeonato Argentino. O Gimnasia jogava a última chance de lutar pelo título em casa, enquanto o Boca buscava uma vitória para voltar ao topo da competição. "O que era para ser uma festa acabou dessa forma. O que aconteceu machuca a todos", lamentou o técnico do Boca Juniors, Hugo Ibarra. "A primeira coisa que vi foram as pessoas saindo das arquibancadas e comecei a sentir o odor causado pelo gás. Pensei na minha família e comecei a me preocupar. Estou indignado com tudo o que aconteceu", disse Nicolas Contín, jogador do Gimnasia, enquanto carregava o filho pequeno nos braços horas após a suspensão do jogo, ainda no vestiário.
A Associação Argentina de Futebol (AFA) emitiu um comunicado no qual "repudia veementemente os fatos publicamente conhecidos que ocorreram hoje nas proximidades do estádio Gimnasia y Esgrima La Plata" e expressou "seu compromisso de continuar trabalhando para erradicar essa classe de episódios que mancha o festival de futebol". Eduardo Aparicio, chefe do órgão que previne a violência nos estádios da Argentina, também lamentou os incidentes. "É uma pílula muito amarga, tudo está sob investigação, as ações da polícia. Os incidentes começaram de fora para dentro, ao redor do estádio havia 10 mil pessoas querendo entrar, alguns tinham ingressos, outros não. Todo mundo viu como estava aqui dentro, nenhum alfinete cabia". Ele ainda descartou a possibilidade de o jogo ser disputado nesta sexta-feira, 7.
De acordo com estatísticas da ONG Salvemos al Fútbol, os confrontos dentro e fora dos estádios da Argentina já resultaram em mais de 300 mortes desde que o futebol se profissionalizou no país sul-americano na década de 1930, embora dois terços das mortes tenham ocorrido a partir da década de 1990. Antes da violência desencadeada nos arredores do Estádio de La Plata nesta quinta-feira, dois jogos foram disputados, com vitória de 4 a 0 do Argentinos Juniors sobre o Lanús, e de 1 a 0 do Huracán sobre o Talleres de Córdoba.
* Com informações da AFP