Saiba por que os brasileiros mudam de posição na Europa
Laterais que precisam marcar, zagueiros que devem ser mais fortes e meias que jogam pelos lados do campo. A forma de organizar suas equipes taticamente, de uma forma geral, fazem com que o futebol europeu tenha características particulares bem diferente da forma com que se joga no Brasil.
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É justamente por isso que, nomes como Mancini, Deivid e Betão, por exemplo, precisaram se readaptar a uma nova forma de jogar quando decidiram se transferir para a Europa. "Quando cheguei, meu treinador conversou e me mostrou a intenção de me usar na lateral. Ele acabou gostando, também gostei e pretendo seguir assim", explica Betão, hoje o titular da lateral direita do Dínamo de Kiev.
Betão admite que é pouco forte para o padrão europeu de zagueiros, ainda que naturalmente existam exceções. Como lateral, ele avança ao ataque apenas contra adversários mais frágeis, e normalmente guarda a posição defensiva.
Ilsinho, que defende o também ucraniano Shakhtar, vive situação exatamente oposta. Lateral de origem, o jogador revelado no Palmeiras sempre se caracterizou pela força ofensiva e pela pouca atenção que dá para a marcação. Naturalmente, virou meia na Europa.
No sistema tático comum ao futebol europeu, em que há meias pelos lados do campo, Ilsinho pode usar melhor a velocidade de seu jogo sem comprometer a defesa. "Agora estou mais perto da área, entro toda hora para finalizar e participo mais dos lances de gol. Gostei dessa função e pretendo me aprimorar", diz o jogador que cansou de ouvir Muricy Ramalho, nos tempos de São Paulo, exigir mais cuidados defensivos.
Ilsinho, assim como Marcelo, do Real Madrid, Mancini, hoje da Inter de Milão, Athirson, hoje no Cruzeiro, e Adriano Correia, atualmente no Sevilla, representa a legião de laterais brasileiros que, na Europa, partiram para o meio-campo por saber marcar pouco. Campeão da Copa da Uefa, o jogador do Shakhtar espera se valorizar e partir para um clube maior, a fim de voltar à Seleção. "Hoje o Maicon e o Daniel Alves são os melhores do mundo", diz.
Do meio pra frente, mais mudanças de posicionamento
Assim como Anderson, que deixou o Grêmio como meia-atacante e virou meia-central (algo parecido com a função de volante), Carlos Eduardo, mais um a surgir nas categorias de base gremistas, saiu do ataque para ser um misto de meia e cabeça-de-área no Hoffenheim, da Alemanha.
"No meu começo, o treinador comentou que me testaria ali, por ter passe e visão de jogo muito bons. Não foi tão difícil de me adaptar, pois pego a bola de frente e não tenho tanto contato", diz Carlos Eduardo. Na Europa, é comum ter jogadores de boa saída de bola nas primeiras funções do meio-campo, algo que ele já aprendeu.
Realizando papel tático semelhante ao de Ilsinho, Deivid virou misto de meia e ponteiro no Fenerbahce, em uma modificação proposta por Zico, treinador do clube turco na temporada passada. Por lá, o ex-santista, que se caracterizou por velocidade e faro de gol, também precisa colaborar nas funções defensivas, normalmente perseguindo o lateral adversário.
"Agora estou sempre com a bola no pé, de frente para o gol e os zagueiros. Chego de trás e, como tenho força física, volto na marcação. Por isso o Zico gostou e foi dando certo, fiz muitos gols", diz o jogador, que hoje se sente quase completo.
Hoje em dia, treinadores como Mano Menezes e Vágner Mancini já se utilizam de esquemas táticos comuns na Europa. Respectivamente no Corinthians e no Santos, ambos repetem o que já haviam feito por Grêmio e Vitória. Sinal de que a mentalidade também vai se disseminando no Brasil.