Veja como funciona a vacinação em atletas da Conmebol
Veja detalhes da negociação para vacinas terem chegado à entidade máxima do futebol sul-americano e a atitude das equipes brasileiras diante da proposta de imunização
A logística da Conmebol para vacinar contra covid-19 as delegações que disputam suas competições se estenderá a mais uma equipe brasileira. Antes de embarcar para o Paraguai, onde medirá forças com o Cerro Porteño nesta quarta-feira, o Atlético-MG comunicou, em nota oficial, que os integrantes do clube que estão em Assunção receberão a primeira dose do imunizante. Mandatário do Galo, Sérgio Coelho enumerou ao LANCE! quais fatores pesaram para aceitar a imunização em solo paraguaio:
"Considerando:
1) que a vacina não está sendo tirada de nenhum cidadão brasileiro e nem de nenhuma outra nação, uma vez que ela foi disponibilizada para Conmebol para os atletas que estão disputando campeonatos organizados por essa entidade
2) que o Galo está jogando duas vezes por semana, inclusive em outros países, correndo risco de contaminar outras pessoas e/ou sermos contaminados
3)que alinhamos com o secretário geral da CBF (Walter Feldman) que iríamos vacinar
4) que nosso diretor médico alinhou com o diretor médico da CBF que íamos vacinar
5) que não existe nenhuma ilegalidade tomando essa vacina em território Paraguai
6) que não é uma atitude imoral
7) e que estamos em Assunção não vemos motivos para não tomar".
O dirigente ainda citou o fato do River Plate, que não aceitou vacinar sua delegação e agora vê seu elenco passar por um surto de novo coronavírus.
As decisões ajudam a ilustrar como tem sido o panorama da vacinação para atletas e integrantes da comissão técnica nos dez países sul-americanos que são filiados à entidade. O LANCE! aponta como tem sido o caminho da imunização dos clubes e seleções sul-americanas.
QUAL É O IMUNIZANTE?
Segundo a Conmebol, o laboratório chinês Sinovac Biotech Ltd. doou o lote de 50 mil doses da vacina (cinco mil repassada para cada associação entre as filiadas da entidade). A mediação do presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, pesou para concretizar o acordo.
O CRONOGRAMA DE IMUNIZAÇÃO
Via Twitter, em 28 de abril, o mandatário da Conmebol, Alejandro Dominguez, celebrou por meio de suas redes sociais a chegada dos imunizantes para todos os países que disputam competições sul-americanas:
"As vacinas para o futebol sul-americano já chegaram na América do Sul. A Conmebol se tornará a primeira organização civil do mundo a realizar uma vacinação que beneficiará milhares de famílias nos dez países e representará uma valiosa cooperação com as campanhas de imunização promovidas pelos governo".
A entidade deixa nas mãos de cada associação a vacinação de seus respectivos atletas. Um dos exemplos é a APF, no Paraguai, que já preparou a logística a partir de 6 de maio. O Uruguai também deu início ao processo de vacinação.
Cada delegação terá direito a vacinar até 50 atletas inscritos e 20 integrantes que fazem parte da comissão técnica ou que viajam para as competições internacionais. Os quadros de arbitragem também serão vacinados.
A Sinovac não ficará restrita a equipes que disputam a Copa América, Copa Libertadores e Copa Sul-Americana. A primeira dose da vacina contra Covid-19 também será destinada a equipes da elite do futebol masculino e feminino e suas respectivas delegações, além de quadros de arbitragem de cada associação.
A entidade prevê que o Ministério da Saúde de cada país tenha um registro detalhado das pessoas vacinadas. O monitoramento da Secretaria Geral da Conmebol e Direção de Ética são vistas como fundamentais para conduzir este processo.
ATLÉTICO-GO: DELEGAÇÃO VACINADA NO PARAGUAI
O planejamento da Conmebol rendeu uma situação que gerou um dilema entre os clubes brasileiros em meio à pandemia de Covid-19. No início de maio, a delegação do Atlético-GO recebeu a primeira dose da Sinovac ao viajar para o Paraguai.
Clubes como Santos, Fluminense e Corinthians já indicaram que não aceitarão a vacinação, em solidariedade aos problemas com a chegada de imunizantes no Brasil. Prestes a embarcar para Assunção, onde enfrentará o Olimpia na próxima quinta-feira, o Internacional também afirmou em nota oficial que "tendo o aval do Ministério da Saúde e secretarias de saúde estadual e municipal, irá aguardar pela vacinação a ser feita no Brasil".
A Conmebol justificou ao LANCE! a vacinação de 44 pessoas da delegação do clube goiano em território paraguaio.
"No caso do Atlético-GO e de outros clubes como o Atlético Nacional, de Medellín, foi aproveitada a presença dos seus elencos no Paraguai para oferecer a possibilidade de começar a imunização. A primeira dose foi realizada na sede da Conmebol, em Luque. Marcamos que a nova vacinação é opcional".
Presidente do Atlético-GO, Adson Batista rechaçou a hipótese de que o clube tenha "furado fila" em relação à vacinação no Brasil.
"Houve uma doação da primeira dose da Sinovac feita pela Conmebol. Não tem nada a ver com a fila brasileira, nem com tirar vacina das mãos de nenhuma pessoa. Inclusive, esta vacina não tem no Brasil! Uma coisa não tem nada a ver com a outra!", afirmou.
O dirigente contou como tem sido a reação ao imunizante.
"Estávamos no Paraguai (para o jogo com o Libertad, pela Copa Sul-Americana) e a Conmebol nos deu esta oportunidade. A propósito, nenhum jogador, nenhuma pessoa que foi para lá teve qualquer reação à vacina", e, em seguida, apontou: "Não temos ainda como definir o que faremos em relação à segunda dose, até considerando que o Governo Federal ainda não permite a entrada da Sinovac no Brasil", completou.
Por lei, as vacinas de covid-19 que entrarem no Brasil terão de passar pelo Governo Federal para obter um aval. A Conmebol, em nota, afirma que "respeita pontualmente todas as normas e regulamentações estabelecidas pelas autoridades de cada país", além de frisar que está em diálogo com as autoridades sanitárias. Além disto, há análise de alternativas no caso das vacinas "para colocá-las à disposição de forma segura e apropriada para os atletas e os clubes que a desejarem".
AJUDA NO COMBATE À COVID-19 OU ATLETAS COMO 'CLASSE À PARTE'?
A vacinação à parte de atletas sul-americanos em meio à pandemia de covid-19 é vista com desconfiança do ponto de vista ética. Professor de Sociologia da Iuperj, Paulo Gracino afirma.
"Por mais que o futebol tenha grande identidade nacional e desperte lazer e paixão, os países vêm tendo dificuldades internas no cronograma de vacinação. O Chile e o Uruguai são os que estão mais adiantados. Além disto, temos eventuais problemas de escassez de vacinas no mercado internacional. Aqui no Brasil, temos problemas no poder central. Pensando nisso, temos uma lógica de que há uma vacinação dos grupos mais vulneráveis serem prioritários. O futebol podia dar um exemplo e ficar no final desta fila", disse.
Gracino vê com desconfiança a conduta da Conmebol.
"A gente cria uma categoria que, por ser uma atividade que pode gerar muito lucro, terá um tratamento diferente do restante da América Latina. E, inclusive, com uma vacina que nem mesmo vai chegar para muitos cidadãos! É uma questão bastante controversa", reforçou.
A Conmebol, por e-mail, ressaltou que o acordo com a Sinovac teve como único fim voltar-se para o futebol sul-americano. Contudo, a entidade quer contribuir de alguma forma para os dez países sul-americanos.
"A vacinação projeta aumentar a segurança sanitária nas Eliminatórias da Copa do Mundo, na Copa América e nos torneios de clubes na Conmebol que estão em curso. Os imunizantes são uma medida a mais de proteção, que não afetam os protocolos vigentes", destacou.
Em seguida, exaltou que o futebol tem condições de contribuir para uma imunização mais plena.
"Trata-se de uma valiosa colaboração com as campanhas de vacinação em desenvolvimento em dez países. Afinal, quanto mais pessoas estejam vacinadas, mas próximos da ansiada imunidade de rebanho estes países ficarão. Temos que recordar que não serão apenas os jogadores que se beneficiarão das vacinas. Os árbitros, técnicos, assistentes e empregados de clubes serão ajudados de forma direta e, indiretamente, as famílias deles serão ajudadas".
Há muito em jogo no combate à Covid-19.