Corintianos relembram fúria da Fiel e "noite das garrafadas"
- Diego Garcia
- Direto de São Paulo
Em caso de nova eliminação do Corinthians na Libertadores diante de seus torcedores, o Estádio do Pacaembu pode viver cenas de fúria como já ocorreu outras vezes envolvendo o clube alvinegro, a competição continental e a fanática torcida.
Em 1991, a equipe paulista perdeu para o mesmo Flamengo - rival desta quarta-feira - no Pacaembu, pela primeira fase do torneio. Os 2 a 0 para o time carioca não eliminaram o Corinthians, mas revoltaram a torcida do clube, que entrou em confronto com a polícia, invadiu o campo e arremessou inúmeras garrafas - na época se comercializavam os vasilhames nos estádios - ao gramado. O incidente ficou conhecido como "a noite das garrafadas".
Paulo Sérgio, ex-jogador do Corinthians presente naquela partida, testemunhou a ira dos torcedores e aponta os fatores que contribuíram à revolta dos torcedores. "A soma da derrota, com as provocações, a arbitragem e toda essa pressão que sempre existiu no clube para ganhar a Libertadores contribuíram àquela reação dos torcedores".
Ele espera que em caso de outra eliminação corintiana em casa a torcida não reaja de forma negativa, apesar de admitir que essa expectativa criada por títulos no ano do centenário atrapalha. "Espero que não aconteça isso de novo amanhã, mas foi criada uma expectativa muito grande em torno disso. Ainda mais com o ano do centenário, no aniversário do clube, a torcida espera por isso, e a pressão que sempre foi grande só aumenta".
O jogador acredita que a eliminação do Campeonato Paulista pode ser um ingrediente a mais que provoque a ira dos adeptos. "Acredito que se tivesse sido campeão paulista e mesmo eliminado amanhã, talvez a pressão e as conseqüências fossem menores, pois haveria esse título do estadual. Se perder, só restará mais um torneio no ano (Campeonato Brasileiro) e a pressão e a expectativa do torcedor é muito grande por um título no ano do centenário. Isso atrapalha muito".
O ex-atacante corintiano Viola também esteve presente na "noite das garrafadas", mas está confiante que a história não vai se repetir amanhã e que o Corinthians vai se classificar, pois segundo ele o planejamento do centenário foi feito justamente para isso: ganhar a Libertadores. "Acho que depois que deixou o Paulista e o Brasileiro (de 2009) de lado tem que ganhar, pois o planejamento foi feito para isso. Se o Corinthians ganhar, tudo fica lindo e maravilhoso".
Em 2006, a torcida do time alvinegro não se conformou com os 3 a 1 para o River Plate em plena cidade de São Paulo - a segunda seguida para os argentinos - e decidiu descontar a raiva nos alambrados do estádio e na polícia. O jogo foi válido pela mesma fase de oitavas de final - assim como o confronto de amanhã - e, em uma verdadeira batalha com a PM paulistana, os torcedores quase conseguiram uma invasão em massa ao estádio e por pouco, a tragédia não tomou conseqüências maiores.
Em caso de nova derrota, Viola espera que tudo acabe em paz mesmo com a pressão criada, mas admite que a derrota pode ser ruim: "claro que uma eliminação assim, em casa, pode trazer conseqüências. Mas se o Corinthians não passar, espero que a torcida não tenha atitudes violentas, principalmente com os atletas que são trabalhadores, operários. Mas espero que o Corinthians seja feliz. E se não for, que todos os torcedores voltem tranquilamente para suas casas, sem violência".
O Corinthians 2010, assim como o de 2006, investiu pesado e montou um grande elenco. Ronaldo, Roberto Carlos, Danilo são contratações badaladas como Nilmar, Tevez, Mascherano e Ricardinho no passado. O elenco com nomes de peso pode trazer uma maior expectativa ao torcedor, e talvez uma ira maior em caso de derrota.
Zenon, ídolo corintiano dos anos 80, não acha que a torcida deva se revoltar se o time não se classificar, mesmo com a grande expectativa criada. "Não vejo motivos para ter raiva. O time não fez um bom Campeonato Paulista, mas as contratações foram feitas para tornar o time vencedor no ano do centenário. Foi o time que melhor contratou, se não vencer vai ser um acaso".
O ex-meia corintiano afirma que a reação da torcida ao final de uma eventual eliminação é uma incógnita, mas que os atletas não precisam ter medo e dá a receita para "minimizar" a ira da torcida caso a classificação não venha. "Não existe motivo para temer, pois isso pode influenciar no rendimento individual e da própria equipe. O comportamento do torcedor deve ser positivo. Se os jogadores se entregarem até o fim e demonstrarem muito empenho, caso a vitória não apareça, o torcedor vai reconhecer o esforço".
Corinthians e Flamengo se enfrentam nesta quarta-feira, às 21h50, pela Copa Libertadores da América. O primeiro jogo foi 1 a 0 para os cariocas, que têm vantagem do empate ou de uma derrota por apenas um gol de diferença, desde que marquem pelo menos um gol.