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Libertadores

Fla relembra "carnificina" na decisão da Libertadores

1 fev 2009 - 11h41
(atualizado às 12h32)
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Dassler Marques

O nacionalismo radical e a ditadura do general Augusto Pinochet estavam em cada esquina de Santiago nos anos 80. O Chile vivia sob um regime bastante rígido e o Flamengo também sentiu isso na pele em 1981. Diante do Cobreloa, naquela que provavelmente foi a final mais violenta da história da Copa Libertadores, o futebol foi o que menos importou dentro de campo. E contra tudo e contra todos, os flamenguistas deixaram a decisão com a taça embaixo do braço.

Na primeira final continental em sua história, o Flamengo vivia um momento tecnicamente exuberante, mas encontrou no Cobreloa uma equipe disposta a tudo para dar o troféu da Libertadores à população chilena. "Nessa competição tem que se usar todos os recursos. Contra a gente foi dessa forma, mas nosso time tinha um equilíbrio emocional muito grande", destaca Adílio, um dos campeões rubro-negros.

Após o primeiro jogo no Maracanã, em que venceu por 2 a 1, o Flamengo foi ao Estádio Nacional, em Santiago, enfrentar os 61 mil torcedores presentes. No local utilizado por Pinochet como campo de concentração, os jogadores brasileiros encontraram um cenário intimidador. Mario Soto, zagueiro adversário, provavelmente atuou com uma pedra escondida para agredir os brasileiros - segundo relatos da época. Assim, abriu o supercílio de Adílio, cortou a orelha de Lico e acertou o olho de Tita. Tudo sem a interferência do árbitro uruguaio Ramón Barreto.

"A gente não sabe até hoje se foi uma pedra ou um anel, mas era com certeza um objeto cortante. Talvez uma gilete", afirma Júnior, um dos líderes daquela equipe. Segundo ele, os jogadores reclamaram com a arbitragem, mas não surtiu efeito. "Quando o juiz chegou perto, ele já não tinha mais nada mão. E o árbitro mandava o lance seguir", lembra o lateral.

Sob esse clima de guerra, o Flamengo ficou aquém de suas capacidades e acabou batido por 1 a 0, em um gol ocasional do meio-campista Merello. "Em função de tudo o que aconteceu, terminamos sem poder jogar o que a gente sabia. Foi uma partida razoável", relembra Júnior. Após o único gol da partida, a 11 minutos do fim, o campo foi invadido por diversas pessoas, inclusive repórteres, que foram para cima dos jogadores flamenguistas.

Com a partida terminando com vitória dos chilenos, foi necessário um terceiro jogo, marcado para Montevidéu, no Uruguai. Lá, os flamenguistas chegaram tão revoltados que combinaram partir para o revide quando o título estivesse assegurado. Quando isso aconteceu, o treinador Paulo César Carpegiani tomou uma atitude rara em sua carreira.

Anselmo, atacante reserva, entrou em campo aos 43min com uma instrução específica passada por Carpegiani: dar um soco no zagueiro Mario Soto. Feito isso, o jogador sequer esperou o cartão vermelho e deixou o campo, gerando uma pancadaria generalizada. "Eu nunca fui expulso na carreira, mas aquele momento foi realmente diferenciado e tive que tomar aquela atitude. Assumo a responsabilidade", admite Carpegiani, que só tinha 32 anos e acabara de encerrar a carreira de jogador em 81.

Carpegiani diz que, naquele momento, a experiência como jogador foi bastante útil, embora não tivesse vivência como treinador. "Estava em um grupo em que tinha amizade com os jogadores e muita ascendência no grupo", destaca. "Em Montevidéu o jogo transcorreu normalmente, mas em Santiago houve uma carnificina", comparou.

Para Júnior, a decisão contra o Cobreloa, especialmente o segundo jogo, iniciou uma mudança de postura na competição, que hoje tem praticamente todos os jogos televisionados e reduziu sensivelmente o número de episódios de hostilidade. "Eram juízes tendenciosos, campos sem segurança, torcedores fazendo barulho durante a noite toda. Esse era o clima dos anos 80 e aquele episódio no Chile supera qualquer outro na história", destaca o lateral, lembrando dos longínquos tempos em que não havia fair play e exame antidoping.

Fonte: Terra
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