Paixão e reforços: torcedores ficam sócios para ajudar times
Ver o time mais forte se tornou o principal motivo que fez o torcedor aderir ao programa de sócios
O sucesso dos programas de sócios torcedores é inegável, principalmente em 2015. Segundo o 'Movimento por um Futebol Melhor', mais de um milhão de torcedores, de 66 times, aderiram ao programa desde janeiro de 2013. O programa foi responsável por uma mudança considerável no modo como os torcedores dos principais times vão aos jogos.
As grandes filas em bilheterias perderam espaço para o congestionamento nos sites dos times. As novas arenas pelo Brasil criaram forma de modernizar o acesso aos jogos e, ao mesmo tempo, beneficiar aquele torcedor que se dispõe a pagar para ser sócio torcedor. Nomes como pré-venda e rating se tornaram populares aos frequentadores dos novos estádios.
O torcedor Flávio Bandeira é associado ao Grêmio desde 2006, quando os jogos ainda eram no antigo Olímpico, e conta quais diferenças encontrou nos últimos dez anos em que acompanhou partidas do tricolor gaúcho:
“As coisas mudaram muito com a mudança para a Arena. Foi criado um novo ambiente virtual para a aquisição dos ingressos e levou um tempo para cair no gosto do torcedor. Na época do Olímpico, eu conseguia comprar ingressos pelo internet banking do banco patrocinador do time, hoje isso não é possível”, conta Flávio.
Flávio aderiu ao programa em um momento conturbado do clube, após o rebaixamento para a Série B. O desejo de ajudar o time e acompanhar as melhorias no Grêmio o motivou a ser sócio. “Até torcedores que moram longe, que raramente vão aos jogos, aderem ao sócio torcedor para contribuir com o clube. O programa permite que entre desde os torcedores mais humildes, que ajudam e não podem pagar pelos ingressos caros, até os com poder aquisitivo melhor, que se associam para ter sua cadeira cativa na Arena”, diz o gremista.
O Terra realizou pelo Twitter uma enquete sobre os motivos que levam o torcedor a aderir ao programa de sócios. 55% dos participantes votaram que são ou seriam sócios para ajudar o time. Conseguir descontos para os jogos foi a segunda opção mais votada (26%), enquanto a opção "desconto em produtos", uma das bandeiras do Movimento Por Um Futebol Melhor, foi votada por apenas 9% dos seguidores.
Pesquisa: por que você é ou seria sócio torcedor do seu time?
— Terra Futebol (@FutebolTerra) 13 janeiro 2016
A palmeirense Juliane Madison se manteve leal ao programa de sócios, mesmo não morando em São Paulo. Frequentadora do antigo Palestra e do Pacaembu, Juliane mudou-se para o Recife pouco depois da inauguração do Allianz Parque e, mesmo assim, continua pagando as mensalidades do Avanti. “Continuo para ajudar o Palmeiras. Sei que sem esse apoio do torcedor as chances de não termos um time mais forte são grandes”.
A ideia de que com mais sócios o time fica mais forte foi levantada pelo marketing do próprio Palmeiras em 2015. O time divulga que a compra do atacante Dudu foi viabilizada graças ao dinheiro arrecado pelo Avanti. Essa propaganda ajudou o time a conseguir mais de 62 mil adesões somente em 2015.
Alguns clubes, cientes da disponibilidade dos seus torcedores em ajudar o time, já possuem planos para quem não consegue frequentar o estádio. O plano mais barato do Corinthians (R$ 9) não garante descontos para a Arena, mas permite que o torcedor consiga ingressos em jogos em que o Corinthians é visitante. O São Paulo também tem um plano exclusivo para torcedores que não residem na capital paulista. Ao contrário do seu rival, o plano de R$ 25 permite a compra de ingressos para jogos em casa, mas não para jogos fora.
Apesar do sucesso inegável, a política praticada pelos clubes para a venda de ingressos foi alvo de críticas durante o ano. O caso mais emblemático foi das torcidas organizadas do Palmeiras, que protestaram contra os valores cobrados para jogos no Allianz Parque. O clube paulista ainda aumentou os valores dos planos no meio da temporada, e mesmo assim o número de associados continuou crescendo.
Atualmente, o não sócio enfrenta dificuldades para assistir ao seu time. O valor elevado do ingresso, junto com a preferência dada aos sócios, dificulta com que outros torcedores consigam ter acesso aos jogos. A lógica dos clubes é que isso motive o torcedor a se associar, e isso não é visto como um problema. Segundo a Fundação Procon-SP, o clube mandante pode estipular o preço que quiser para os ingressos, desde que os coloque a venda em até 72 horas antes da partida.
Outra questão apontada pelo Procon é da venda de meia entrada através da internet. O órgão informou que São Paulo, Palmeiras e Corinthians já foram autuados por não disponibilizarem ingressos de meia entrada nos sites em que comercializam as entradas.