Manifesto da Seleção lembra cartinha de Maria para Joãozinho
Documento apresentado pelos jogadores apenas critica realização da Copa América
Num jantar em junho de 1999, num restaurante de Foz do Iguaçu-PR, o então chefe de imprensa da CBF, Carlos Lemos, relatou aos amigos que lhe faziam companhia um fato que ele presenciara horas antes na concentração da Seleção brasileira – a equipe preparava-se para a disputa da Copa América no Paraguai.
Com embaraço e tentando buscar termos mais adequados à ocasião (estávamos já degustando os pratos escolhidos), Lemos disse que os jogadores da Seleção, à beira da piscina do hotel, estavam fazendo apostas para saber quem ali “soltava o pum” mais sonoro.
“Uma coisa de doido. Acho que nem numa turma de crianças de 4 anos isso é factível”, comentou Lemos, com as bochechas vermelhas, diante de dois assessores seus e de outros poucos jornalistas.
O episódio narrado acima é emblemático. Se por um lado não se deve generalizar, até porque nem todos os convocados por Vanderlei Luxemburgo àquela época participaram do torneio de flatulência, há de se ter uma ideia de que o universo do jogador de futebol de ponta, do Brasil, não vai muito além disso.
O futebol brasileiro de excelência, e de opiniões, limita-se, infelizmente, a poucos nomes: Sócrates, Zico, Romário, Raí, Casagrande, Juninho Pernambucano, Dunga e Alex são alguns exemplos.
Bastaria que um deles compusesse o elenco atual da Seleção e certamente o documento, o manifesto, liberado já na madrugada desta quarta pelos jogadores, em Assunção, teria outros termos e seria minimamente honesto.
Não dá para levar a sério que depois de tanta expectativa, criada pelo próprio grupo dos convocados por Tite, do incômodo da maioria deles (confirmado por alguns de seus assessores) com a guarida oferecida pelo governo brasileiro para sediar a Copa América em meio à propagação da covid-19 na América do Sul e da justa reivindicação de férias, não dá para levar a sério que os jogadores soltem com estofo um manifesto no qual todos dizem que são contra o evento, reclamando somente da Conmebol – apenas uma das partes responsáveis pela provável disseminação de cepas do novo coronavírus pelo Brasil afora.
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Soou como uma cartinha que Maria escreveu a João protestando que o menino levado pisou no pé de feijão da hortinha dela.